A ex-funcionária do Facebook que vazou documentos internos da empresa revelou sua identidade no último domingo (3) em entrevista à emissora americana “CBS News” durante o programa “60 Minutes”.
Frances Haugen, de 37 anos, trabalhou como gerente de produtos na companhia e era responsável por projetos relacionados com eleições.
Foi a partir dos documentos obtidos por ela que o “Wall Street Journal” publicou reportagens em meados de setembro indicando que o Facebook protegia celebridades das regras de conteúdo, que a empresa sabia que o Instagram é “tóxico” para os adolescentes e que a resposta da empresa às preocupações dos funcionários sobre o tráfico de pessoas foi muitas vezes “fraca”.
Durante a entrevista à emissora de TV “CBS News”, Haugen acusou o Facebook de “colocar os lucros acima da segurança” e afirmou que “agiu para ajudar a incentivar mudanças na gigante das mídias sociais, não para despertar raiva”.
Ela deve realizar um testemunho perante ao Congresso dos EUA nesta terça-feira (5) para falar mais sobre o período em que trabalhou na gigante das redes sociais.
“Sugerir que encorajamos conteúdo nocivo e não fazemos nada a respeito simplesmente não é verdade”, disse o Facebook ao g1.
Estímulos pela ‘raiva’
Na entrevista ao programa “60 Minutes”, ela explicou como o algoritmo, que escolhe qual conteúdo mostrar para cada usuário, está otimizado para o conteúdo que gera uma reação.
“Ninguém no Facebook é malévolo”, disse Haugen. “Mas os incentivos estão desalinhados, certo?”
“O Facebook percebeu que, se mudar o algoritmo para que seja mais seguro, as pessoas passarão menos tempo no site, clicarão em menos anúncios e vão gerar menos dinheiro“, continuou.
Haugen disse que durante as eleições presidenciais americanas de 2020, a empresa percebeu o perigo que esse conteúdo representava e ativou os sistemas de segurança para reduzi-lo. No entanto, esse sistema teria sido desativado após o fim das eleições.
“A versão do Facebook que existe hoje está destruindo nossas sociedades e causando violência étnica em todo o mundo”, afirmou.
Trabalho no Facebook
Frances Haugen começou a trabalhar no Facebook em junho de 2019, em uma equipe de cerca de 200 pessoas focada em “Integridade Cívica”, responsável por lidar com assuntos relacionados com eleições.
Ela pediu demissão em abril de 2021, mas ficou por mais um mês finalizando projetos e repassando as tarefas para outros funcionários.
Os documentos que ela vazou estavam nos sistemas do “Workplace”, uma rede interna da empresa. Ela contou que não foi difícil fotografar as informações, incluindo apresentações do presidente-executivo Mark Zuckerberg, que estavam em fóruns abertos desse sistema.
Engenheira da computação de formação, Haugen já trabalhou para outras empresas de tecnologia, como o Google e o Pinterest, e se especializou na criação de algoritmos que decidem o que as pessoas irão visualizar em seus feeds.
Segundo ela, o Facebook é “substancialmente pior” que tudo o que já viu antes.
Facebook nega acusações
O Facebook reagiu às reportagens do “Wall Street Journal”. Nick Clegg, vice-presidente de relações globais do Facebook, publicou uma série de tuítes em 18 de setembro apontando o que chamou de “caracterizações errôneas” das matérias.
Segundo ele, as alegações de que o Facebook ignoraria de forma deliberada e sistemática pesquisas inconvenientes são “falsas”. A rede também disse que os documentos vazados foram divulgados ao público “sem contexto” o suficiente e decidiu publicar os materiais com “anotações”.
Ao G1, o Facebook disse que: “Todos os dias, nossas equipes trabalham para proteger a capacidade de bilhões de pessoas de se expressar abertamente e, ao mesmo tempo, manter nossa plataforma um lugar seguro e positivo. Continuamos a fazer melhorias significativas para combater a desinformação e conteúdo prejudicial em nossos serviços. Sugerir que encorajamos conteúdo nocivo e não fazemos nada a respeito simplesmente não é verdade”.
Fonte: G1