O cenário para as exportações de frango do Brasil está se desenhando melhor do que o esperado pela indústria. Diante das condições sanitárias de países concorrentes, muitos com surtos de gripe aviária, e os custos de produção ainda sob controle, há chance de que os embarques da carne de frango superem os 5,4 milhões de toneladas inicialmente projetados para 2025, o que seria um recorde.
A máxima histórica anterior foi registrada em 2024, quando o país enviou 5,294 milhões de toneladas ao mercado internacional.
“Antes, eu via um primeiro semestre bom e o segundo semestre mais moderado. Agora, vejo o ano inteiro bom”, disse ao Valor o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Atualmente, a entidade projeta alta de 1,9% nas exportações de frango de 2025, para 5,4 milhões de toneladas, mas Santin afirma que pretende revisar este número para cima.
A nova previsão ainda depende do andamento do mercado, segundo ele, mas se tudo correr como o esperado pela associação, em meados de junho ou julho deve vir a revisão.
Em janeiro deste ano, por exemplo, o país exportou 443 mil toneladas de frango, entre produtos in natura e processados, segundo dados da ABPA. O volume representou alta de 9,4% no comparativo anual, e foi o maior já enviado ao exterior em um mês de janeiro.
Para Santin, problemas sanitários em fornecedores globais da carne acabam direcionando parte da demanda para o Brasil, que ainda não registra nenhum foco de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) em granjas comerciais.
“É o caso do Congo, que incrementou as compras de carne de frango do Brasil em 26% no ano passado, ao passo que os EUA retraíram as exportações em 46 mil toneladas, ou 49% a menos em relação ao ano anterior”, destacou.
Desde o dia 1° de janeiro, mais de 34 países já registraram focos de influenza aviária, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Apenas nos Estados Unidos, são mais de 60 focos ativos, além de 64 focos no Reino Unido, 76 na Alemanha, 40 na Polônia e 36 focos nos Países Baixos.
O surto da doença nos Estados Unidos, principal concorrente do Brasil no mercado internacional, tem reduzido a disponibilidade de ovos de consumo, gerando influências, inclusive, no mercado de carnes, além de aumento no consumo interno por frango em substituição ao ovo.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura do país (USDA, na sigla em inglês), no ano passado, os exportadores norte-americanos deixaram uma lacuna de 367 mil toneladas nas vendas internacionais de carne de frango de 2024 em relação ao ano anterior – encerrando o ano com embarques de 3,3 milhões de toneladas.
Além disso, países tradicionalmente exportadores membros da União Europeia também registraram casos da doença, restringindo ainda mais o comércio global de carne de frango. No caso da União Europeia, as vendas de 2024 são menores em relação ao realizado quatro anos atrás, segundo a ABPA.
“A pressão da influenza aviária sobre a oferta global tem direcionado mais importadores ao produto brasileiro, e esse movimento deve se intensificar ao longo do segundo semestre, período historicamente mais forte para as exportações”, enfatizou Santin.
Custos de produção
Os preços do milho e farelo de soja estavam menores no ano passado e jogaram a favor da indústria de carnes. Estes insumos são usados como matéria-prima para a ração animal e compõem os principais itens dos custos de produção na criação de aves e suínos.
Para este ano, o presidente da ABPA admite que houve uma recomposição nos preços dos insumos, mas o cenário ainda é considerado sob controle.
O indicador do milho Esalq/BM&FBovespa fechou esta segunda-feira (24/2) cotado a R$ 84,85 por saca de 60 quilos, alta de 34,55% no comparativo anual, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Do ponto de vista de oferta, o dirigente acredita que não há risco de faltar grão para os frigoríficos.
“O setor não prevê problemas no acesso aos insumos neste ano. Conforme os levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estoque de passagem de milho para o ano deve ser superior ao registrado em 2024″, disse Santin.
Fonte: Globo Rural