ARACAJU/SE, 25 de novembro de 2024 , 13:34:53

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FMI alerta sobre estabilidade financeira e cita os riscos ‘3C’: covid, cripto e clima

 

Os governos e os bancos centrais dos maiores países do mundo conseguiram evitar uma crise ainda maior ao fornecer pesados estímulos para combater a pandemia de coronavírus. Agora, no entanto, o otimismo econômico está diminuindo e as vulnerabilidades financeiras aumentando, o que significa que as autoridades precisarão ser muito cautelosas sobre os próximos passos. Essa é a conclusão do Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu Relatório de Estabilidade Financeira Global, no qual resume os principais riscos nos três “Cs”: covid, cripto e clima.

“Os bancos centrais sistemicamente importantes do mundo sabem que quaisquer consequências de suas ações podem colocar em risco o crescimento – e podem, em tese, levar a ajustes abruptos nos mercados financeiros. A incerteza é especialmente intensa por causa da atmosfera persistente de pandemia onde a sociedade enfrenta os desafios inerentes aos três ‘Cs’”, diz Tobias Adrian, diretor do departamento de mercados monetários e de capitais do FMI.

O documento aponta que os investidores estão cada vez mais preocupados com as perspectivas econômicas. O acesso desigual às vacinas e mutações no coronavírus levaram a receios de uma recuperação desigual entre as regiões e a inflação está acima das expectativas em muitos países. O problema é que, se os investidores, em algum momento, reavaliarem abruptamente as perspectivas econômicas e políticas, os mercados poderiam sofrer uma reprecificação repentina de risco – e essa reprecificação, se sustentada, poderia interagir com vulnerabilidades subjacentes, levando a um aperto das condições financeiras.

Segundo o relatório, apesar das melhorias durante o período atual de recuperação, as vulnerabilidades financeiras permanecem elevadas em vários setores. Entre companhias não financeiras, a recuperação permanece desigual entre países, setores e tamanhos de empresas. Os riscos de solvência continuam elevados nos setores mais atingidos pela pandemia, como por exemplo transporte e serviços e em pequenas empresas. O FMI afirma que na China as condições de crédito tornaram-se mais restritivas, principalmente para empresas com ratings mais fracos e em províncias com finanças públicas mais frágeis.

Enquanto isso, o FMI ressalta que os criptoativos continuam crescendo rapidamente. Apesar de ainda não representarem um risco sistêmico, é preciso monitorá-los, dadas as possíveis implicações para a política monetária e a estrutura regulatória e operacional inadequada na maioria dos países. O capítulo do Relatório de Estabilidade Financeira Global sobre os criptoativos já havia sido divulgado no início do mês.
Ao mesmo tempo, enquanto o mundo continua a buscar maneiras de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, a fim de evitar os resultados negativos para a estabilidade econômica e financeira associados às mudanças climáticas, o FMI diz que uma oportunidade promissora está surgindo no setor financeiro.

O Fundo aponta que embora os ativos sob gestão em fundos de investimento com temas climáticos permaneçam relativamente pequenos, as entradas aumentaram e há uma promessa de custos de financiamento mais baratos para empresas sustentáveis. “Os influxos apoiam a gestão climática e a emissão de títulos por empresas ‘verdes’. Os investidores sustentáveis podem também oferecem benefícios de estabilidade financeira, pois tendem a ser menos sensíveis a retornos de curto prazo”.

Na visão da entidade, as autoridades deveriam fortalecer urgentemente a arquitetura de informação climática global, como dados, divulgações e classificações de finanças sustentáveis. Depois disso, poderiam considerar ferramentas para canalizar recursos para fundos para melhorar a transição para uma economia de baixo carbono, como por exemplo com incentivos financeiros para investimento em fundos climáticos. Por fim, as autoridades deveriam realizar análises de cenário e testes de estresse no setor de fundos de investimento para mitigar potenciais riscos de estabilidade financeira.

Em meio a todo esse cenário, o desafio é equilibrar, de um lado, o suporte ainda necessário à economia, e, de outro, evitar a escalada de riscos à estabilidade no médio prazo. Segundo o documento, os riscos à estabilidade financeira no momento estão camuflados pelos estímulos sem precedentes para combater a pandemia. “Um período prolongado de condições financeiras extremamente acomodatícias durante a pandemia – que certamente foi necessário para sustentar a recuperação econômica – permitiu que avaliações de ativos excessivamente esticadas persistissem. Se isso continuar, pode, por sua vez, intensificar vulnerabilidades financeiras”.

Dessa forma, o FMI orienta que o apoio das políticas monetária e fiscal deve ser mais direcionado e adaptado às circunstâncias específicas de cada país. Diz ainda que os bancos centrais precisarão fornecer uma orientação clara sobre sua abordagem futura em relação à política monetária, visando evitar um aperto injustificado ou abrupto das condições financeiras.

O Fundo é claro ao dizer que as autoridades monetárias devem permanecer vigilantes e, se as pressões sobre os preços acabarem sendo mais persistentes do que o previsto, agir de forma decisiva para evitar um descompasso das expectativas de inflação. Também ressalta que as autoridades devem tomar medidas preventivas e apertar ferramentas macroprudenciais específicas para mirar em bolsões de vulnerabilidades elevadas.

Especificamente para os países emergentes, o documento ressalta que os governos deveriam começar a reconstruir colchões fiscais e implementar reformas estruturais. Isso porque, em um contexto de pressões inflacionárias, os investidores estão precificando um ciclo de aperto monetário rápido e relativamente forte. “Reconstruir colchões e implementar reformas duradouras para impulsionar as perspectivas de crescimento econômico serão essenciais para a proteção contra o risco de reversões do fluxo de capital e de um aumento abrupto nos custos de financiamento”.

 

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