ARACAJU/SE, 4 de agosto de 2025 , 4:41:28

Grandes produtores e empresas do agro fomentam avanço da cobertura de internet no campo

 

As áreas rurais estão diminuindo a diferença em relação às urbanas quanto à cobertura de sinal de internet. No ano passado, 84,8% dos domicílios no campo tinham acesso à internet, em comparação com uma cobertura de 35% em 2016. Em 12 anos, o avanço foi de 49,8 pontos percentuais, um crescimento puxado pelos investimentos de grandes empresas e produtores do agronegócio.

Em comparação, a conectividade nas zonas urbanas avançou 18,1 pontos percentuais no mesmo período, saindo de 76,6% para 94,7% dos lares nas cidades. Isso significa que, se em 2016 a diferença de cobertura de internet entre o campo e a cidade era maior do que 40 pontos percentuais, em 2024 essa diferença caiu para 9,9 pontos. No total, havia no ano passado 74,9 milhões de domicílios com internet no Brasil, ou 93,6% do total.

Os dados são do Módulo de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As empresas que atuam no campo e os produtores de grande porte, que têm capital para investimentos, são os responsáveis por esse movimento, avalia Silvio Passos, fundador e presidente do conselho do Agroven, rede de inovação no agro. “Já que não tem densidade econômica que justifique as operadoras levarem antenas ao campo, as empresas e produtores começaram a ir atrás”, diz.

A demanda das companhias e dos grandes produtores garante essa expansão, reforça Rodrigo Oliveira, CEO da Sol, do grupo RZK, que já tem cerca de 450 antenas espalhadas pelo Brasil, e 12 milhões de hectares conectados. Para ele, o avanço da conexão no campo é fruto dos investimentos da iniciativa privada, em meio à “inércia” do poder público. “O produtor consome tecnologia, fazemos a infraestrutura e a iniciativa privada aporta capital. Tem sido uma receita de sucesso”, defende.

A Sol já realizou parcerias com companhias de máquinas, como a John Deere, e entidades, como a Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (AMPA), que já resultaram em investimentos de R$ 360 milhões em construção de torres e disponibilização de sinal para áreas rurais desde 2023.

Paola Campiello, presidente da ConectarAgro e gerente de novos negócios da CNH, observa que não adianta o produtor ter uma série de tecnologias, como máquinas com as mais sofisticadas tecnologias embarcadas, mas não dispor de conexão para trabalhar com os dados coletados de uma lavoura. Segundo ela, muitos sistemas de coleta de dados acabam não sendo usados porque não há internet para processá-los em tempo real.

O indicador da associação apontou, em abril de 2025, que 33,9% da área disponível para uso agrícola no Brasil têm cobertura 4G ou 5G, com maior concentração no Sul e no Sudeste. Esse número era de 19% em 2024.

Campiello enxerga um avanço significativo, mas aquém do que o Brasil precisa. “O ideal seria igualar o nível dos Estados Unidos, que é de 70% de cobertura. Considerando que temos uma safra a mais que eles, temos muita informação ‘à solta’ no ar”.

Segundo o IBGE, nos 5,1 milhões de domicílios sem internet, três motivos se destacaram: nenhum morador sabe usar a internet (32,6%), o serviço caro (27,6%) e falta de necessidade em acessá-la (26,7%). Nas áreas rurais, além dos três motivos, também destacou-se a falta de disponibilidade do serviço na área do domicílio, que totalizou 12,1%, abaixo dos 13,8% registrados um ano antes.

Apesar do avanço, os especialistas concordam que levar internet ao pequeno produtor segue como o maior desafio. Para Oliveira, da Sol, existe uma barreira cultural. “A maioria dos pequenos produtores tem dificuldade de ver valor na tecnologia e não faz um investimento”. Segundo ele, seu papel é diminuir as barreiras de entrada até que os pequenos percebam os benefícios de uma conexão.

Entre as principais saídas para ter uma conexão mais capilarizada no Brasil, a presidente da ConectarAgro destaca a educação para os produtores mais pobres. “Quando conseguimos levar conectividade para áreas superpequenas, mostramos o benefício para esses produtores, como uma estação meteorológica que vai indicar o momento de plantar, por exemplo”. Para ela, mostrar a transformação na prática em pequenas áreas “pode ser o pontapé para a mudança”.

Fonte: Globo Rural

 

 

 

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