A decisão do Mercado Livre de reduzir o valor mínimo para frete grátis de R$ 79 para R$ 19 já teve impactos nas vendas, com um crescimento de 34% no volume comercializado em julho em relação ao mês anterior, ou 26% se comparado ao mesmo mês de 2024. O anúncio, feito nessa quarta-feira (24) pelo vice-presidente sênior da plataforma, Fernando Yunes, no evento Mercado Livre Experience, acompanha o lançamento de uma nova geração de robôs de separação que promete acelerar as operações logísticas e otimizar as entregas.
A aposta no frete mais acessível, embora pressione a rentabilidade no curto prazo, visa o crescimento sustentável a longo prazo ao expandir a base de clientes, afirmou o executivo. Segundo Yunes, a plataforma viu o número de usuários e novos clientes crescer significativamente, mas a empresa não divulgou os números exatos.
Yunes destacou também que a estratégia de frete grátis para pedidos de menor valor, com prazos de entrega mais longos, permite que a empresa utilize melhor sua malha logística.
“Temos que mandar o caminhão de todo jeito, então ocupamos espaços sobrando com esses pacotes que não têm urgência”, completa Luiz Vergueiro, diretor sênior de logística. Segundo a empresa, essa otimização de rotas e espaços vazios gerou um ganho de eficiência crucial para a operação.
A chegada dos robôs de separação inéditos no Brasil complementa essa estratégia, com o objetivo de reduzir o tempo de processamento dos pedidos. A nova frota de 125 robôs é capaz de manusear até 105 mil itens por dia, diminuindo em 25% o ciclo de processamento de pedidos com múltiplos itens. Essa inovação, de acordo com Vergueiro, eleva o padrão de automação da empresa, permitindo entregas mais rápidas.
O uso dos robôs significa, na prática, uma hora a menos no ciclo total de preparo de uma encomenda, o que possibilita um avanço no prazo de entrega para os consumidores. No total, a empresa já possui quase 500 robôs em operação no país, contando também com um modelo chinês que carrega as estantes até os operadores, economizando quilômetros de caminhada dos trabalhadores de centros de distribuição.
Questionada sobre a perda de postos de trabalho, a cúpula do Mercado Livre afirma que com o avanço da automação, a empresa busca otimizar o trabalho humano, realocando funcionários para funções de maior valor agregado. Yunes afirma que a implementação dos robôs não elimina a necessidade de mão de obra e que o Mercado Livre planeja contratar mais de 12 mil pessoas neste ano, com a logística sendo o principal foco. Para a empresa, o movimento reflete uma aposta na otimização da força de trabalho para acompanhar o crescimento acelerado da companhia.
Fernando Yunes destaca ainda que a automação melhora as condições de trabalho e a satisfação dos funcionários, que antes chegavam a andar mais de oito quilômetros por dia dentro dos centros de distribuição.
“Cada vez que entra mais robôs que ajudam a trazer as prateleiras até a pessoa, ao invés da pessoa caminhar entre prateleiras, essa pessoa migra pra uma função de maior valor agregado dentro do centro de distribuição. As contratações aumentam por conta de todo o crescimento e o volume de vendas em alta”.
Crescimento e impacto econômico
O avanço na logística é justificado pela expansão contínua do Mercado Livre no Brasil, maior mercado da empresa na América Latina. Dados apresentados pela empresa mostram que 5,8 milhões de empreendedores e pequenas e médias empresas (PMEs) usaram o ecossistema da companhia em 2024. Juntos, eles movimentaram R$ 381 bilhões, um valor que, se considerado isoladamente, equivaleria a 3,2% do PIB nacional.
Para 59% das PMEs na plataforma, as vendas no Mercado Livre são a principal fonte de renda. O crescimento dos negócios parceiros é um dos principais focos da empresa, que gerou mais de 111 mil empregos no ano passado. Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, destaca a importância do ecossistema para a economia local.
“Mais do que números, os dados refletem histórias reais de transformação vividas por milhões de brasileiros que empreendem e crescem junto com a plataforma”, diz Yunes.
Com a expansão de sua malha logística — que em 2025 teve um aumento de 47% na metragem de suas instalações, totalizando quase 5 mil operações no país —, o Mercado Livre reforçou a capacidade de entrega, apostando também na Black Friday 2025. De acordo com dados da companhia, 56% das entregas são feitas em até 24 horas nas capitais, índice que chega a 73% no estado de São Paulo.
IA busca produtos proibidos
Com a recente resolução da Anatel que responsabiliza marketplaces pela venda de produtos irregulares, o Mercado Livre afirmou na conferência que reforçou sua postura de não permitir a venda de itens não homologados. A plataforma exige que os vendedores preencham um campo com o código de homologação da Anatel ao anunciar produtos eletrônicos.
No entanto, por se tratar de um ambiente com milhões de vendedores e centenas de milhões de produtos, a empresa usa ferramentas de inteligência artificial (IA) para monitorar e derrubar anúncios que violam as regras. No ano passado, mais de 10 milhões de anúncios foram removidos automaticamente por meio desses algoritmos.
Além do uso da IA, a empresa mantém um programa de colaboração com as próprias marcas. Nesse programa, equipes das grandes marcas parceiras do Mercado Livre navegam pela plataforma buscando produtos que possam ser irregulares. Ao identificar um anúncio que a IA não detectou, elas podem denunciá-lo.
A partir dessa denúncia, o Mercado Livre inicia uma investigação do vendedor e do produto, aplicando penalidades que variam desde a remoção do anúncio até o banimento definitivo da plataforma em casos de reincidência. Essa abordagem dupla, que combina tecnologia avançada e parcerias estratégicas, garante uma fiscalização rigorosa e contínua do marketplace.
Fonte: O GLOBO