ARACAJU/SE, 20 de junho de 2025 , 1:39:38

Nestlé anuncia investimento de R$ 7 bilhões no Brasil até 2028

 

A Nestlé Brasil anunciou, nessa quarta-feira (18), um novo ciclo de investimentos no Brasil, no valor de R$ 7 bilhões a ser realizado entre 2025 e 2028. Os recursos serão direcionados para ampliação da capacidade produtiva, modernização de fábricas e avanço de práticas sustentáveis em toda a cadeia de valor da empresa.

Apesar do momento econômico desafiador no país, com taxas de juros elevadas e inflação persistente, a decisão reforça a visão positiva da companhia sobre o Brasil, que é um dos três mercados mais importantes para a multinacional de alimentos e bebidas, afirmou Marcelo Melchior, presidente da Nestlé Brasil, em entrevista ao Valor.

Faturamento de 4 bilhões de francos suíços no país em 2024

“Estamos aqui há 103 anos e já vimos de tudo. Acreditamos muito no potencial do mercado brasileiro, mas principalmente na nossa capacidade de adaptação ao que acontecer”, disse Melchior. Em 2024, o faturamento da companhia no país foi de 4 bilhões de francos suíços, ante 4,1 bilhões de francos suíços em 2023.

Dentre os focos do aporte, está a divisão de ‘confectionery’ (confeitaria), em que o Brasil é o maior mercado do mundo para a Nestlé. Nessa frente, a principal medida inclui a ampliação da fábrica de Vila Velha (ES), com novas linhas de chocolates, bombons e “chocobiscuits” (combinação de biscoito com chocolate).

Já no segmento de cafés, os aportes serão direcionados para a expansão da linha Nescafé Dolce Gusto em Montes Claros (MG), e para a instalação de uma nova linha de extração de café solúvel em Araras (SP). Além disso, será ampliado o parque de máquinas de bebidas da Nestlé Professional, unidade de negócios voltada ao canal “out of home” (alimentação fora do lar), que é hoje a maior da Nestlé no mundo e deve alcançar 30 mil máquinas até o final de 2025.

Nos últimos meses, o cacau e o café enfrentaram forte aumento de preço, principalmente por fatores climáticos adversos, o que vem pressionando os custos de produção do setor. Uma situação como essa não era vista há pelo menos 30 anos, afirma Melchior.

Questionado sobre se a ampliação de linhas de produtos que combinam chocolates com outros alimentos (como biscoitos) seria uma estratégia para driblar esse cenário, Melchior não vê uma correlação direta. “A procura por texturas e sabores independe das flutuações de matéria-prima. O consumidor quer um produto recheado, com sabores diferentes na boca, não simplesmente um produto simples”, disse.

“Não estamos repassando o custo”

Segundo o executivo, a prioridade da companhia neste momento tem sido adotar medidas que não afetem o consumo no longo prazo. “Não estamos repassando o custo. Estamos vendo onde economizar, mas sem passar no preço. Sempre pensando no que temos que fazer para atravessar esse vale”, disse.

De janeiro a abril, a categoria de chocolates registrou aumento de mais de 14% em valor no varejo, enquanto o volume encolheu cerca de 4%, segundo dados da consultoria Scanntech.

Café e os brasileiros

No caso do café, Melchior se disse surpreso com o desempenho da unidade de negócios. “O brasileiro não quer deixar de tomar seu café. É algo muito forte culturalmente”, afirmou. Além disso, ele destaca o avanço de novas formas de consumir o produto, como as bebidas geladas, que aos poucos vêm conquistando adeptos no país.

“Estão quebrando o preconceito de que café tem que ser quente. Hoje em dia, [o café gelado] está virando uma alternativa a suco ou refrigerante. Lá atrás desenvolveram o chá quente e depois veio o mate, que hoje é um sucesso. Vai levar um tempo, mas o café vai nessa direção”, disse.

A categoria de nutrição também será contemplada pelo pacote de investimentos. Nesse caso, o foco será na produção de fórmulas infantis e leites de crescimento na planta de Ituiutaba (MG).

Alimentos para “pets”

Na frente de alimentos para “pets”, a companhia inicia em agosto a operação de sua nova fábrica em Vargeão (SC), fruto de um investimento de R$ 2,5 bilhões provenientes do ciclo anterior de aportes. Além de abastecer o mercado interno, parte do que for produzido na unidade, especialmente em alimentos úmidos para cães e gatos, será exportada para outros países da América Latina, América do Norte e Europa.

No eixo de sustentabilidade (ESG), a Nestlé Brasil pretende avançar com projetos de eficiência energética em diversas unidades fabris — atualmente todas as 18 fábricas operam com algum tipo de energia elétrica renovável. Um exemplo dessas iniciativas inclui utilizar dejetos dos animais para produzir biocombustível.

Outra frente inclui expandir as práticas de agricultura regenerativa nas cadeias de cacau, café e leite. Hoje, mais de 40% dessas matérias-primas já são obtidas de propriedades com práticas regenerativas.

Tensões geopolíticas

Para Melchior, ampliar a produção local e avançar em eficiência no país ganha ainda mais relevância num momento marcado por tensões geopolíticas, que, por mais que não afetem os negócios da companhia diretamente, produzem efeitos colaterais no mercado. “Não dá para ignorar o que acontece lá fora. As tarifas, por exemplo, afetam indiretamente — seja pelo dólar, seja porque usamos alumínio na embalagem”, disse.

Por ora, a companhia ainda não fez qualquer mudança significativa nos negócios em resposta a esse cenário, mas segue atenta para se adaptar caso seja necessário. “Estou relativamente otimista no nosso caso [do Brasil], porque normalmente produzimos para vender no país em que estamos”, afirma Melchior. Segundo ele, de 92% a 95% do que se produz aqui são vendidos internamente.

Fonte: Valor Econômico

 

 

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