ARACAJU/SE, 28 de outubro de 2024 , 7:35:35

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Sócio do 3G, Buffett diz que contabilidades criativas são “nojentas” e “vergonha do capitalismo”

O bilionário investidor Warren Buffett abriu sua carta anual a investidores destacando a sua conduta de tolerância zero com administradores antiéticos, manipulações de números e fraudes. Segundo ele, práticas agressivas de contabilidade criativa, normalmente defendida como sofisticadas por CEOs, “são nojentas” e “uma vergonha para o capitalismo”.

“Somos compreensivos com erros de negócios, mas nossa tolerância para más condutas pessoais é zero”, destaca um trecho da carta.

Vale lembrar que Buffett fez sociedade com a 3G Capital, fundada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, na aquisição da Heinz. Os três bilionários da 3G tiveram a imagem empresarial afetada neste início de ano pela crise da Americanas, que teve um rombo contábil bilionário revelado no início de janeiro e entrou em recuperação judicial. Eles são sócios de referência da varejista em crise, com pouco mais de 30% do capital.

Buffett não cita empresas ou executivos quando aborda questões contábeis. O investidor afirma na carta que a Berkshire costuma comprar o controle ou companhias inteiras, em que ela escolhe o CEO.

“Mesmo o valor dos ganhos operacionais que favorecemos pode ser facilmente manipulado pelos gerentes que desejam fazê-lo. Tal adulteração é muitas vezes considerada sofisticada pelos CEOS, diretores e consultores. Repórteres e analistas também aceitam sua existência. Superar as ‘expectativas’ é anunciado como um triunfo gerencial”, destaca o documento.

O texto continua:

“Essa atividade é nojenta. Não requer nenhum talento para manipular números. Apenas um profundo desejo de enganar é necessário. ‘Contabilidade ousada e imaginativa’, como um CEO uma vez descreveu seu engano para mim, tornou-se uma das vergonhas do capitalismo”

Lucros recordes, mesmo com cenário adverso
A Berkshire Hathaway registrou lucros operacionais recordes no ano passado, impulsionados pelo sólido desempenho de muitas das subsidiárias do conglomerado mesmo em um cenário mais desafiador para a economia americana.

Na apresentação de sua carta anual aos acionistas, neste sábado, Buffett ainda destacou que ele e seu parceiro de negócios de longa data, Charlie Munger, venderam 11 toneladas de amendoim e chocolates para investidores famintos durante sua reunião anual no ano passado, que voltou a ser realizada presencialmente após o período da pandemia.

Buffet afirmou que os doces certamente devem ser a única razão para ele chegar aos 92 anos de idade e Munger, aos 99. Foram realizadas 10 vendas por minuto, disse ele, arrecadando mais de US$ 400 mil em dois dias. A próxima reunião está marcada para o início de maio deste ano.

Resiliência da economia
O conglomerado registrou US$ 6,7 bilhões em ganhos operacionais no quarto trimestre, uma queda de 14% em relação ao ano anterior, informou a empresa no sábado em comunicado.

Os ganhos caíram porque os negócios ferroviários e operações de seguros da empresa tiveram resultados mais fracos em meio a preços elevados de materiais e mão de obra. Ainda assim, isso não abalou a crença do investidor bilionário na resiliência da economia dos EUA. O lucro operacional recorde da Berkshire foi de US$ 30,8 bilhões no ano.

“Apesar da tendência de nossos cidadãos – quase entusiasmo – pela autocrítica e pela dúvida, ainda não vi um momento em que fizesse sentido fazer uma aposta de longo prazo contra a América”, destaca a carta.

Buffett há muito avalia suas subsidiárias como representantes da força da economia americana. As quedas na lucratividade refletem o impacto da inflação elevada e as medidas do Federal Reserve, banco central do país para contê-la. Desde março do ano passado, o Fed já realizou oito aumentos consecutivos nas taxas de juros.

O negócio ferroviário BNSF reportou US$ 1,5 bilhão em ganhos operacionais no quarto trimestre, em comparação com US$ 1,7 bilhão no mesmo período do ano anterior. Os ganhos com subscrição de seguros caíram para US$ 244 milhões, de US$ 372 milhões.

Recompra de ações
A companhia ainda anunciou US$ 2,6 bilhões em recompras de ações no quarto trimestre, elevando o total do ano para US$ 7,9 bilhões, e informou que tinha US$ 128,6 bilhões em caixa no final do ano passado. Na carta, Buffet fez comentários sobre as recompras.

“Quando lhe dizem que todas as recompras são prejudiciais para os acionistas ou para o país, ou particularmente benéficas para os CEOs, você está ouvindo um analfabeto econômico ou um demagogo eloquente – personagens que não são mutuamente exclusivos”, escreveu Buffett.

O comentário vem depois que o presidente americano Joe Biden pediu aos legisladores que quadruplicassem o imposto sobre recompras de ações corporativas, juntamente com um imposto maior sobre bilionários.

Os democratas têm demonstrado apoio esses aumentos na esperança de que eles motivem as empresas a investir mais na economia e aumentar os salários, mas é improvável que esses aspectos da agenda econômica do presidente sejam aprovados em um Congresso dividido.

Buffett observou que algumas das empresas nas quais a Berkshire mais apostou, incluindo a Apple e a American Express, adotaram medidas semelhantes.

Fonte: O GLOBO

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