ARACAJU/SE, 28 de julho de 2025 , 23:13:48

Tarifaços e crise em instituições internacionais alertam para reorganização mundial

 

Em meio ao tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump, países se veem obrigados a negociar acordos comerciais com os Estados Unidos. Apesar da falta de avanço no caso do Brasil, tarifas de países como Japão, Indonésia e Filipinas foram reajustadas.

Para especialistas ouvidos pelo R7, as medidas de Trump revelam uma reconfiguração do sistema internacional, marcada, principalmente, por uma crise em instituições multilaterais, como a Organização Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Um exemplo disso é o enfraquecimento do Órgão de Apelação da OMC, provocado, em parte, pelos EUA ao bloquear nomeações, o que acaba comprometendo a efetividade do sistema de penalização. Recentemente, sem citar os EUA, o Brasil questionou na OMC o uso de tarifas como instrumento de ameaça.

Para o especialista em relações internacionais Guilherme Frizzera, o enfraquecimento dessas instituições e uso de práticas coercitivas, como tarifas e sanções, forçam outros países a buscarem alternativas fora de “sua órbita de influência”.

“Diferentemente do período pós-Segunda Guerra Mundial, em que os EUA lideraram a construção de uma ordem internacional liberal, o cenário atual aponta para o surgimento de uma nova ordem não por iniciativa americana, mas como reação à sua retração e à sua postura confrontacional”, explica.

Apesar da crise diplomática global gerada por Trump, as arrecadações das tarifas de importação somam US$ 100 bilhões desde o começo do ano nos Estados Unidos, aponta a imprensa norte-americana.

A professora em relações internacionais Natali Hoff entende que Trump, ao usar o comércio internacional como instrumento de poder, coloca em risco a ordem internacional liberal, baseada em regras e instituições, e cria tensões com alianças históricas, como a crise com o Brasil.

“Isso [tarifas] vem tendo um potencial bastante corrosivo para essa ordem internacional que já andava bem mal das pernas. Então, certamente, existe o uso do comércio internacional como um instrumento de imposição unilateral, de vontade, por parte um ator muito mais forte, que são os Estados Unidos, com certeza denota um rompimento com essa perspectiva de uma ordem internacional baseada em regras e no multilateralismo”, comenta.

Nova ordem global

Para Frizzera, as ações de Donald Trump refletem uma tentativa de restaurar o poder relativo dos Estados Unidos por meios unilaterais, não a formulação de uma nova estrutura internacional.

“Suas medidas, centradas na elevação de tarifas, na deslegitimação de instituições multilaterais e na personalização das relações econômicas, são reações a um mundo percebido como menos favorável aos interesses americanos, e não uma visão estruturada de substituição da ordem global”, comenta.

Na visão do especialista, Trump não tem a intenção de criar uma nova ordem mundial, “mas sim uma expressão de uma política externa baseada em interesses unilaterais e nacionalistas”.

EUA fora da Unesco

No último dia 22, o presidente Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos da Unesco, agência da Organização das Nações Unidas voltada para a educação, a ciência e a cultura.

Em nota, a organização lamentou a decisão, mas disse que já previa a ação do líder norte-americano. “Graças aos esforços envidados pela Organização desde 2018, a tendência decrescente da contribuição financeira dos EUA foi compensada, representando agora 8% do orçamento total da Organização, em comparação com 40% de algumas entidades das Nações Unidas”, diz o texto.

Essa não é a primeira decisão de Trump sobre a retirada dos EUA de instituições multilaterais. Em janeiro, o presidente decidiu que o país deixaria a Organização Mundial de Saúde (OMS), além de suspender o financiamento à agência da ONU para crise humanitária em Gaza.

Crise Brasil x EUA

A quatro dias do início da taxação de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, o governo busca soluções para impedir o avanço da medida.

Além do Brasil, países como Indonésia, integrantes da União Europeia, Canadá e Japão sofreram com a imposição de tarifas.

Entretanto, muitos deles, conseguiram acordos que podem diminuir o impacto nas respectivas economias, apesar de criar uma maior dependência com os EUA.

Abertos ao diálogo

Desde que Trump anunciou a taxa de 50% a todos os produtos brasileiros comprados pelos EUA, em 9 de julho, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva tenta rever a determinação.

Os diálogos são comandados pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin — após o anúncio de Trump, Lula determinou a criação de um comitê interministerial para discutir possíveis soluções ao tarifaço.

Com o grupo de trabalho, Alckmin tem se reunido diariamente com os setores produtivos brasileiros mais afetados pela tarifa, além de integrantes do agronegócio e representantes de empresas norte-americanas.

Na última quinta-feira (24), Alckmin afirmou que o governo está “empenhado” em reverter a taxação, apesar de não ter “criado o problema”.

“Não criamos esse problema, mas queremos resolver e estamos empenhados em resolver. É um diálogo, não é monólogo, são duas partes”, destacou o vice-presidente a jornalistas, após mais uma rodada de debates com empresários e setores mais impactados pelo anúncio de Trump.

Segundo Alckmin, a orientação de Lula para as negociações do tarifaço é manter o diálogo livre de “contaminações políticas ou ideológicas”.

“Destacando, o presidente Lula tem orientado negociação. Não ter contaminação política nem ideológica, mas centrar na busca de solução para a questão comercial”, acrescentou.

“Em vez de ter um perde-perde, com inflação nos EUA e diminuição das nossas exportações para o mercado norte-americano, invertemos isso: resolvermos os problemas, aumentarmos a complementariedade econômica, a integração produtiva, os investimentos recíprocos, discutirmos a não bitributação — enfim, avançarmos em uma agenda extremamente positiva”, completou Alckmin.

Fonte: R7

 

 

 

 

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