ARACAJU/SE, 15 de maio de 2025 , 17:25:00

Enem pode sofrer mudanças a partir de 2028

 

Há 16 anos, uma medida implementada pelo Ministério da Educação transformou o acesso ao ensino superior no Brasil, impactando a rotina de estudantes, o planejamento de colégios e cursinhos e as possibilidades de quem se prepara para entrar em uma faculdade. O Enem, exame que mensurava a qualidade do ensino médio no país, virava então um vestibular nacional.

Há também 16 anos, o Enem é o mesmo. Ou quase. Desde 2009, quando o governo federal decidiu criar um sistema que unificasse as seleções das universidades federais, permitindo aos candidatos, com a nota do exame, concorrer a vagas em diferentes instituições de diversas regiões do país, a prova passou por ajustes logísticos. Mas sua essência, apresentada em 14 de maio daquele ano e que prometia acabar com a “decoreba” desse tipo de exame, e o formato, com 180 questões de múltipla escolha e uma redação, não mudaram.

Alterações que chegaram a ser discutidas na mais recente reforma do ensino médio ficaram de fora do texto final sancionado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado. Agora, o Inep, instituto do MEC responsável pelo exame, trabalha na elaboração de uma nova matriz — que define o que é cobrado dos candidatos —, com previsão de ser lançada só em 2028.

O governo também estuda voltar a usar o resultado do exame para avaliar o desempenho de quem conclui a educação básica no país.

Para Reynaldo Fernandes, professor da USP que chefiou o Inep na época da grande reformulação de 2009, o Enem deveria ser aplicado mais de uma vez por ano, como acontece com o principal teste de admissão para universidades nos Estados Unidos, o SAT.

Segundo ele, com um modelo contínuo, seria possível aplicar provas diferentes em diversas regiões do país e comparar os desempenhos dos candidatos. “Se você aplica diferentes provas e dá um problema em alguma região, você não precisa refazer a prova em todo o país, apenas nesse grupo”, exemplifica.

No entanto, Fernandes reconhece que as dificuldades logísticas e a necessidade de adequar o modelo aos critérios exigidos pelos órgãos de controle tornam esse caminho mais difícil.

Em 2024, o exame contou com a inscrição de 4,3 milhões de estudantes, dos quais mais de 3,1 milhões compareceram aos dois dias de prova. Para se ter uma ideia, o americano SAT teve 1,97 milhões de candidatos no ano passado.

A aplicação exige uma estrutura colossal: 9 milhões de provas impressas, 65 mil malotes e 140 mil salas de aplicação em 1.753 municípios, segundo os dados oficiais.

Com suas notas, os participantes do Enem podem ingressar no ensino superior público ou particular por meio de sistemas como o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), Prouni (Programa Universidades para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

Aluna do curso de engenharia mecânica aeronáutica na Unifei (Universidade Federal de Itajubá), no interior de Minas Gerais, Georgia Panstein, 20 anos, afirma que dificilmente teria conseguido participar do processo seletivo da instituição sem o Sisu. “Eu não conseguiria prestar o vestibular caso eu tivesse que me locomover até Itajubá só para isso”, conta a catarinense de Joinville.

Atualmente, 124 instituições públicas de todo o país utilizam o Sisu, segundo o MEC. Esse número exclui as faculdades particulares e universidades públicas como USP e Unicamp, que usam o exame apenas como parte da seleção.

Alternativas

Em relação ao conteúdo das questões, muitas vezes alvo de polêmicas e acusações de enviesamento político, a prova do Enem consolidou a abordagem interdisciplinar, com a adoção de grandes áreas de conhecimento (são quatro: linguagens, matemática, ciências humanas e ciência da natureza).

“Ao trazer questões relacionadas aos direitos humanos, à diversidade, às desigualdades sociais e à consciência crítica, o exame cumpre uma função educativa e social relevante”, afirma Teodoro Zanardi, professor do departamento de educação da PUC Minas. “Melhorar o exame é necessário, mas sem ceder às pressões que tentam esvaziar seu papel formativo”.

Como mudança, ele sugere adotar um modelo que avalie o desempenho dos estudantes ao longo dos três anos do ensino médio, como o vestibular seriado.

“Ao reduzir o conhecimento a um desempenho concentrado em dois dias de prova, o exame desconsidera a complexidade do processo formativo e aprofunda a ansiedade e a insegurança vividas pelos estudantes”, argumenta.

A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) vai começar a utilizar esse modelo a partir deste ano — sem, no entanto, abandonar o Sisu, que seguirá como a principal forma de acesso.

De acordo com a reitora Sandra Goulart Almeida, a adoção do vestibular seriado próprio, após anos usando só o Enem e atraindo jovens de todo o país, é tentar se reaproximar de estudantes da rede pública da região.

“Muitos se sentem melhor fazendo três provas do que fazer uma grande no final com um escopo de matéria maior”, afirma.

Em nota, o Inep afirma que analisa anualmente, a cada edição, todos os processos do Exame Nacional do Ensino Médio para a “implementação de possíveis melhorias”.

Fonte: Folha de S.Paulo

 

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