ARACAJU/SE, 18 de setembro de 2024 , 2:58:29

Por que o novo filme Meu Amigo Pinguim faz todo mundo sair do cinema feliz?

 

Era uma vez um pinguim, que, fraco e coberto de óleo, foi parar em uma praia da Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, onde foi socorrido por um pescador, que cuidou do animal, e por isso passou a ser visitado por ele de tempos em tempos, durante oito anos.

Em linhas gerais, o novo filme (americano, tanto que é falado em inglês) do diretor (brasileiro) David Schurmann, poderia ser resumido assim: uma historinha interessante, que renderia uma boa sessão da tarde. Mas não.

Uma emocionante história real

Graças a dois elementos, o filme “Meu Amigo Pinguim”, que estreia hoje nos cinemas de todo o país, vai bem além disso – e torna um enredo quase infantil em um filme capaz de emocionar até o mais insensível dos adultos.

O primeiro elemento que promove esta mudança na perspectiva do filme são as espetaculares e encantadoras imagens (no mar, na praia, debaixo d´água ou andando desengonçado na vila onde o seu salvador morava) do pinguim protagonista da história.

E o segundo – e ainda mais marcante – é que se trata de uma história real.

Foi e voltou oito vezes

Em maio de 2011, um pinguim da espécie Magalhães, típica da Patagônia argentina, de onde, ao que tudo indica, ele teria vindo – apesar da distância superior a 4 000 quilômetros -, chegou, doente, à praia da isolada vila do Provetá, na Ilha Grande, e foi socorrido pelo pescador e ex-pedreiro João Pereira de Souza, que ali vivia.

Não foi a primeira vez que um pinguim apareceu naquela praia. Mas o estado semi-morto do animal mexeu com Seu João, então com 71 anos, que o levou para casa e passou a tratar da saúde do pinguim – logo apelidado de “Dindim”.

Durante semanas, o pescador cuidou do pinguim – uma ave que não voa, e que usa suas “asas” para nadar no mar.

Até que, um dia, oito meses depois de ter chegado, Dindim partiu.

Seu João ficou dividido, entre triste e feliz. Colocou um porta-retrato com a foto do bichinho na sala de sua casa e deu o episódio por encerrado. Mas, que nada!

Meses depois, lá estava Dindim, de novo, na praia de Provetá, chamando pelo amigo.

Foi recebido com muita festa por Seu João e certa perplexidade dos demais moradores da vila, onde passou mais um punhado de meses, dormindo no galinheiro da casa do pescador e tomando banhos de mar com o amigo, na praia.

Tempos depois, partiu novamente. Mas, de novo, voltou no ano seguinte. E no outro também. E assim por diante, por mais cinco vezes.

No total, Dindim retornou oito vezes para visitar Seu João, indo e voltando da Patagônia, em jornadas de cerca de 8 000 quilômetros.

Como aquilo era possível?

Parecia enredo de filme. E foi isso mesmo que virou.

Filme americano, história brasileira

“Nem parece uma história real”, reconhece o diretor do filme, David Schurmann, também membro da mais famosa família navegadora do Brasil, os Schurmann, que cresceu e viveu dentro de um barco, até virar cineasta – daí a sua familiaridade com o mar, e as belas imagens de pinguins na água, que ilustram o filme.

Oito anos atrás, durante o lançamento nos Estados Unidos do seu filme anterior, “Pequeno Segredo” (que contava a comovente história de sua irmã adotiva, Kat Schurmann, que morreu ainda menina), David foi convidado por produtores americanos para filmar a história do pescador brasileiro e seu pinguim, cujos direitos eles haviam comprado.

O cineasta aceitou na hora, já que se tratava de uma história brasileira. Mas impôs a condição de que fosse feito no Brasil, ainda que com atores estrangeiros, já que uma das imposições dos americanos era que o filme fosse falado em inglês.

Foi assim que o ator francês Jean Reno – de Imensidão Azul e Missão Impossível, ótimo no papel, por sinal – virou o humilde pescador da Ilha Grande, cujo maior amigo passou a ser um pinguim, que vinha sempre visitá-lo.

Um filme cativante

O resultado disso é um filme cativante, repleto de lindas e comoventes cenas, que deixa uma mensagem edificante, daquelas que faz todo mundo sair mais leve do cinema, ainda acreditando na humanidade – além de tornar todos os seus espectadores em apaixonados por pinguins em geral.

Leve as crianças. Elas também vão adorar a história e as imagens do pinguim Dindim, que, na vida real, foi interpretado por dez diferentes animais, todos dos aquários de Balneário Camboriú e Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde, por sinal, foram feitas boa parte das filmagens, bem como em Paraty.

“Por incrível que pareça, a cena mais difícil de filmar não foi no mar, e sim a do pinguim caminhando na vila, porque tudo ali desviava a atenção do animal”, conta o diretor do filme.

“Foi o contrário do que acontecia com o Dindim original, que seguia Seu João pelas ruas de Provetá, feito um cachorrinho. Tivemos que repeti-la dezenas de vezes”.

Dez pinguins no papel de Dindim

Também na história real, não havia nenhuma identificação da origem do pinguim Dindim. Mas é praticamente certo que ele vinha todos os anos da distante Patagônia, até que, um dia, ali constituiu família e ficou para sempre.

Neste caso, Seu João teria sido trocado por uma jovem fêmea – algo bem mais pertinente e adequado -, o que tornaria a saga de Dindim uma história, também, de amor, com um final feliz.

Nada melhor para sair do cinema ainda mais satisfeito.

Fonte: Nossa Uol

Você pode querer ler também