ARACAJU/SE, 4 de outubro de 2025 , 17:40:27

Inflação deve fechar em queda e aliviar o bolso dos brasileiros

A contar pelos últimos índices do Boletim Focus – pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC) com a expectativa de instituições financeiras para os principais indicadores econômicos, a inflação no Brasil pode fechar o ano menor que o inicialmente esperado, embora ainda distante do centro da meta que é de 3%. A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – passou de 4,83% para 4,81% este ano, conforme a última estimativa do boletim Focus divulgada na segunda-feira, 29/09.  Para 2026, a previsão da inflação também caiu, de 4,29%, para 4,28%. Para 2027 e 2028, as previsões são de 3,9% e 3,7%, respectivamente. Para falar sobre este tema, trazemos entrevista com o economista e professor Rodrigo Rocha, dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit). Confira a seguir:

 

Correio de Sergipe – O Banco Central, por meio do Boletim Focus, tem apontado que 2025 deve fechar com a inflação abaixo da projetada inicialmente, embora acima do centro da meta, que é de 3%. No boletim do último dia 29/09, a previsão do IPCA foi de 4,81%. O que significa essa queda nas projeções?

Rodrigo Rocha – Isso significa que o mercado financeiro está ajustando suas expectativas para uma inflação menor do que o projetado antes, aproximando-se do teto da meta oficial de 4,5% definida pelo Banco Central. “Apesar disso, a previsão ainda está acima do centro da meta, que é 3%, indicando uma inflação relativamente controlada, mas que ainda exige atenção. A queda nas projeções reflete a melhor performance recente dos índices de preços, incluindo até deflação em alguns meses.

 

CS – O que tem influenciado essa queda e qual a tendência para os próximos meses?
Rodrigo – Essa queda foi influenciada principalmente por fatores como a redução dos preços da energia elétrica, que recuaram 4,21% em agosto, e dos transportes, além da queda nos preços do grupo Alimentação e bebidas por três meses consecutivos. Os alimentos têm peso significativo no índice oficial de inflação porque são itens essenciais para o consumo das famílias. A queda nos preços de alimentos básicos foi um dos principais motores da redução da inflação, refletindo, especialmente, possíveis melhorias na oferta de produtos agrícolas, que são influenciados fortemente por questões climáticas. A tendência para os próximos meses é de desaceleração da inflação.

 

CS – De que forma o ‘tarifaço’ imposto pelo Estados Unidos ao Brasil vem impactado na nossa inflação?

Rodrigo – O “tarifaço” fez com que parte da produção que seria vendida aos EUA fosse destinada mais ao mercado interno brasileiro, aumentando a oferta doméstica, pelo menos no curto prazo. Isso ajudou a conter os preços de alguns setores, como carnes e café, reduzindo a pressão inflacionária, mesmo que o impacto seja considerado modesto e temporário. Essa dinâmica abriu espaço para preços mais baixos em alguns bens consumidos no Brasil. O o cenário político interno não gerou pressões inflacionárias significativas, com estabilidade das expectativas econômicas.

CS – Embora o IPCA venha reduzindo, ainda que timidamente, a população diz que não vem percebendo a queda dos preços. Como o senhor avalia essa sensação de grande parte da população?

Rodrigo – Tal sensação persiste, em parte, devido ao impacto prolongado dos aumentos de preço dos anos anteriores e à percepção de perda do poder de compra. No entanto, com a desaceleração e quedas pontuais da inflação, essa percepção tende a melhorar gradualmente, especialmente se os preços se estabilizarem e os salários acompanharem melhor o custo de vida.

 

CS – Apesar dessa tendência de desaceleração, os juros continuam em alta. O Copom manteve a taxa Selic em 15%, com previsão de manutenção neste patamar pelo menos até o final do ano. Por que os juros também não começaram a cair?

Rodrigo – Sob a ótica tradicionalmente conservadora do Banco Central, ainda se faz necessário manter a política monetária restritiva (taxa Selic em patamar elevado), para evitar surpresas desagradáveis nos próximos 18 meses (1º trimestre de 2027), criando uma expectativa de levar a inflação para mais próximo do centro da meta nos próximos anos.

 

CS – Para 2026, o senhor vê a taxa Selix sendo reduzida?

Rodrigo – Essa redução da Selic a partir de 2026 depende do comportamento da inflação e do surgimentos de sinais claros de desaceleração econômica, embora não estejam descartados futuros cortes na taxa até dezembro. No curto prazo, o Banco Central deverá manter a Selic elevada para garantir a estabilidade dos preços.

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