ARACAJU/SE, 4 de setembro de 2025 , 18:34:35

João Pedro: Fui campeão do mundo pelo Chelsea, agora quero ser com o Brasil

 

O Brasil quer conquistar a Copa do Mundo da FIFA 26™ e pode ter um goleador que já conhece o caminho até o topo: João Pedro, campeão do mundo com três gols em três jogos pelo Chelsea no Mundial de Clubes da FIFA 2025™. O atacante ganhou ainda mais respeito da torcida brasileira pelo desempenho no torneio e foi convocado por Carlo Ancelotti para os jogos das eliminatórias desta quinta-feira (4) e da próxima terça-feira (9), contra Chile e Bolívia.

“Meu maior sonho é ser campeão do mundo pela Seleção. Já conquistei esse sonho pelo meu clube, o Chelsea, agora quero também pelo meu país. Seria um motivo de muita honra e orgulho, não só para mim, mas para a minha família, que sempre está do meu lado em todos os momentos”, disse João em entrevista à FIFA. O outro brasileiro campeão mundial pelo Chelsea é o meio-campista Andrey Santos, também convocado.

“É um título marcante e importante em nossas carreiras, sem dúvidas. Não é todo mundo que pode dizer que é campeão do mundo FIFA. Mas penso que na Seleção todos têm totais condições. São todos craques em suas posições”, respondeu, ao ser questionado se sua campanha recente em um torneio global da FIFA o favorece.

Apesar da humildade, é evidente que o sucesso no Chelsea deu ao jogador de 23 anos ainda mais visibilidade para mostrar o talento que já exibia no Brighton. Quem não o conhecia tão bem passou a acreditar que o rapaz pode ser o camisa 9 ideal do Brasil. O tetra e o pentacampeonato, em 1994 e 2002, tiveram Romário e Ronaldo como referências no ataque – e ambos foram citados como inspirações de João Pedro na entrevista.

A confiança se deve, especialmente, ao início meteórico no Chelsea; ele trocou de clube em julho, abdicou das férias e estreou no Mundial de Clubes nas quartas de final, contra o Palmeiras. Depois, foi titular na semifinal contra o Fluminense (com dois golaços contra seu clube de formação) e na final contra o Paris Saint-Germain (com um gol). “Foi uma competição muito marcante na minha carreira, realmente”, contou.

“Em tão pouco tempo no Chelsea, eu consegui contribuir diretamente para conquistarmos o título da competição mais importante de clubes da história. Como o mundo todo estava assistindo aos jogos, acredito que muita gente que não me conhecia passou a me conhecer. Defender o seu país é a coisa mais importante da carreira de qualquer atleta. Fiquei muito feliz quando vi que estava na lista, e será importante a convivência com Ancelotti.”

Mas como João Pedro chegou tão bem ao Chelsea, interrompendo as férias para brilhar no Mundial de Clubes?

Estar na Premier League desde 2020 – mesmo encarando a desafiadora pandemia neste período – foi fundamental. “Eu já conhecia bem o clube e os jogadores por jogar contra eles, então isso ajudou na minha rápida adaptação. Junto a isso, os gols que fiz tornaram o ambiente mais leve para mim e facilitaram minha adaptação ao clube”, comentou João.

Porém, apesar de correta, a explicação dada por ele parecia simples demais; se o fato de estar na Premier League antes de ir para o Chelsea fosse suficiente para ter sucesso, então por que isso não acontece com todos os outros que se transferem entre clubes da Inglaterra? Deveria haver algo mais profundo, e a FIFA foi atrás da história.

O segredo do sucesso

Está tudo na cabeça de João Pedro, mas não se trata do cabeceio tão temido por goleiros adversários. A mentalidade do atacante e o compromisso com a preparação dentro e fora dos clubes tem sido fundamental. Ele conta com uma equipe multidisciplinar que inclui profissionais de treino físico, fisioterapia e alimentação, com acompanhamento em casa no cotidiano. Alguns falaram com a FIFA.

“No meio das férias dele, a gente começou a aumentar a intensidade para chegar bem ao Mundial, mas o João é muito forte mental e emocionalmente. Também foi por isso que ficou à vontade tão rápido e não sentiu pressão”, explicou o preparador físico e fisioterapeuta Rodrigo Gonçalves, que trabalha com ele há 13 anos.

Parte da equipe particular já cuidava dele desde o Brasil, e outra parte intensificou o trabalho quando chegaram à Inglaterra em 2020, atendendo a pedidos do próprio jogador. “O João veio praticamente pronto, só faltava lapidar um pouco”, revelaram. A lapidação consistia em abdicar de alguns hábitos normais para o jovem moderno.

Como muitos brasileiros, João ainda faz questão de degustar seu strogonoff de frango uma vez por semana, mas mudou muito a dieta. “Ele chegou ao Watford jovem, e todo adolescente gosta de comida industrializada. Mas ele já sabia o que queria e melhorou a alimentação”, contou o preparador físico e fisioterapeuta que o acompanha na Inglaterra, Caio Mello.

Eles relataram que o “monstro” João Pedro está mesmo empenhado em escrever sua história no futebol e ouviu atentamente os conselhos do zagueiro Thiago Silva – ídolo de Chelsea e Fluminense e conhecido como “Monstro” (com M maiúsculo).

“Ele ouviu vários conselhos e absorveu tudo. Ele é inteligente, abdicou de muito e ganhou muito mais. É um monstro, dentro e fora de campo. Acho que a cabeça amadureceu antes do corpo. João já era talentoso, mas criou força física e se tornou um ‘homem de verdade’ por tomar a responsabilidade de cuidar de si próprio”, completou Caio.

“A cabeça amadureceu antes do corpo”

A frase acima chamou atenção. João nunca foi próximo do pai biológico, mas sua mãe, Flávia, fez papel de pai e mãe ao mesmo tempo. “O João foi criado para jogar bola porque a mãe abdicou de tudo para cuidar dele. Não é mimado, mas sempre foi blindado de outras coisas porque a mãe absorvia tudo”, disse Rodrigo. “É uma guerreira”, acrescentou Caio.

Entretanto, ele também teve um padrasto querido que o acolheu. Certa vez, João disse que Carlão, como era conhecido o marido da mãe, ocupou o “espaço que faltava” em sua vida e o ensinou muito. Foi um choque a morte do homem em 2 de novembro de 2021.

Enquanto o sucesso no Mundial de Clubes da FIFA 2025 foi o divisor de águas para a imagem global de João, a perda do padrasto foi a grande virada de chave em sua vida anos antes. A partir daquele momento, ele sentiu que devia cuidar da mãe e da avó, Dalva.

“Ao perder a figura paterna que tinha, acho que o João absorveu assim: agora cabe mim a mim tocar esse barco aqui, eu sou o homem da casa agora”, analisou Rodrigo.

O padrasto sonhava em vê-lo jogar com (ou contra) Cristiano Ronaldo. Dezoito dias depois do falecimento do ente querido, o atacante saiu do banco do Watford contra o Manchester United e fez gol no finalzinho (90+2’) da vitória por 4 a 1.

Alguns anos se passaram, e ele relatou que pensou em Carlão enquanto comemorava olhando para o céu.

Se antes faltava lapidar João Pedro, agora há quem diga que Brasil e Chelsea têm um “diamante” de luxo à sua disposição. Mas o atleta, filho de mãe batalhadora, ainda é movido pelos mesmos sonhos de garoto. Como disse o preparador Caio Mello: “João sempre enxergou um prato de comida no treino, no jogo e no gol”. E está com fome.

Fonte: Fifa

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