O tradicional auditório Rogerio Steinberg, na sede social da Gávea, foi palco da apresentação oficial e primeira coletiva de imprensa do novo treinador do Flamengo, Muricy Ramalho, na noite desta terça-feira (08.12). O técnico assinou contrato com duração de dois anos com o clube.
"Muricy Ramalho ficará conosco pelos próximos dois anos e dispensa apresentações. Campeão de tudo, agora vai ajudar o Flamengo a ser campeão de tudo", introduziu o presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O técnico, tetracampeão brasileiro e campeão da Libertadores, contou aos jornalistas porque escolheu o Mais Querido do Mundo.
"Agradeço ao presidente e ao Flamengo pelo convite. Fiquei muito honrado pela transparência e organização do clube. Escolhi vir para cá pelo tamanho do Flamengo. É um desafio muito grande e ganhar aqui deve ser diferente", afirmou.
Tempo afastado
É um prazer estar aqui. Fiquei um pouco afastado do futebol para cuidar da minha saúde e da minha família. É importante estudar, em todas as áreas, não só no futebol mas na base e na administração também. Conversamos aqui no Flamengo para unificar todas as categorias e treinamentos específicos do mesmo estilo de jogo para todas as categorias. É importante que o jogador que venha da base chegue preparado ao profissional. Mas todos esses projetos não adiantam sem ganhar. Isso que vamos tentar fazer. Vamos ficando mais experientes, sempre aprendendo no futebol e na vida. Temos que esperar o dia a dia, os jogos acontecerem, e aí falaremos se foi válido. Estou melhor, acho que valeu a pena.
Estrutura
Estive agora à tarde lá (CT) para conhecer. Claro que faltam muitas coisas, isso foi falado. Há um projeto emergencial para janeiro e daqui a um ano teremos alguma coisa definitiva. Até porque não há futebol de resultados sem isso. Temos que melhorar, ver os números, ver porque quem está ganhando sempre está na frente. Esse é o caminho. E percebemos que aqui no Flamengo isso vai acontecer. Sanaram as dívidas e agora vamos na estrutura. Acredito muito nisso.
Maior desafio
O desafio maior do técnico é conquistar. Tudo é importante, planejamento, ideias, mas não dá para caminhar sem resultados. Vamos atrás das vitórias e o projeto vai junto. Em uma potência como o Flamengo não dá para esperar muito tempo sem resultados.
Elenco atual
São jogadores que com a história que têm no futebol (Guerrero e Cirino) não podem ter esquecido como jogar. Às vezes só olhamos o jogador no domingo e na quarta. Temos que ver os números, identificar o problema, conversar e tentar corrigir. São jogadores muito importantes que com certeza estarão conosco ano que vem.
Contrato de dois anos
Não sou um cara inseguro, ao contrário. Na minha carreira sempre escolhi muito bem os lugares onde trabalhei e acho que estou fazendo a escolha correta mais uma vez. Se você ver o meu histórico, dificilmente saio antes do meu contrato. Sou um cara de conquista. Aqui não vai ser diferente. Devo ficar os dois anos e até mais.
Avaliação do elenco
Nesse momento, agora, é curto o período para nos arrumarmos para o ano que vem, temos que pensar em quem vai chegar. Não devemos contratar por contratar, tem que ser um grande jogador para jogar no Flamengo. Estamos em cima disso porque o tempo é curto. Os demais a gente vê depois.
Tempo de descanso
Estou invicto, fazem oito meses que não perco um jogo. (Risos). Estou feliz, recuperado. Fiquei quase que 22 anos sem um período assim. Também é bom ficar sem trabalhar. Comissão técnica não tem férias, o jogador vai e a gente fica aqui, planejando, trabalhando. Tinha esquecido como era isso, minha família me convenceu a dar uma parada. Estou feliz, renovado.
Admiração por Zico
Depois do Pelé, que é de outro planeta, o Zico foi o jogador mais completo que já vi jogar. Admiro como jogador e como homem. É um dos poucos exemplos do país. Participei de sua campanha para a FIFA. Quando ele vai para São Paulo, saímos para jantar e conversar com um amigo nosso em comum. Trabalhar em um clube que teve um cara como ele é diferente. Agora terei a Nação a favor.
Aprendizado no Barcelona
O que mais me chamou atenção foi a parte administrativa e a base. A gestão profissional não tem mais volta no futebol. Lá é pura profissionalização de tudo. Unificar todas as categorias é algo que dá para se fazer aqui. Vamos trabalhar com os professores da base, identificar o que é o Flamengo e trabalhar em cima disso. O técnico se adapta à ideia do que é futebol para o clube. Com muita troca de técnico, se troca muito de filosofia. Vamos conversar com o pessoal da base, não será nada imposto.
Flamengo
Um gigante como o Flamengo você tem que entrar nas competições para ganhar. Isso não é uma pressão, é normal, é minha obrigação. Temos que ser realistas. Senão fico acomodado. Se tivesse olhado a parte financeira não estaria aqui. Acho que ganhar aqui vai ser diferente. Estou igual a diretoria do Flamengo: com muita vontade de mudar tudo.
Futebol atual
O futebol não é mais como há quatro anos atrás. Hoje as linhas devem estar mais juntas, tem que ter controle de jogo e intensidade. Hoje é transição rápida, velocidade. A bola parada temos que treinar, vimos nos números que o time está tomando muitos gols nesse tipo de jogada. Hoje fui no CT, vi scout. E não é por altura, nosso time é alto. Temos que identificar o problema.
Categorias de base
Não dá para acreditar que um sub-15 perca um campeonato e o treinador seja mandado embora. Claro que é importante resultado, tem que ensinar a ganhar desde garoto. Mas temos que formar jogador acima de tudo. Vamos conversar com o pessoal da base e encontrar um modelo para criarmos jogadores. Aqui no Brasil se erra muito nesse sentido. Não fica filosofia nenhuma dessa forma. No Barcelona, todas as categorias treinam igual, até as meninas. Se entra outro presidente, nada muda. Na base se troca muito de técnico e ideias também.
Carioca x Primeira Liga
O técnico não é dono do clube. Vou cuidar do time. A estratégia do Flamengo é disputar o Carioca com time alternativo. A ideia é de levar todos à Mangaratiba para eu treinar o time de uma competição e de outra (Primeira Liga). Escolheremos alguém da comissão para fazer um trabalho em conjunto, mas não posso ficar longe da molecada. Vou acompanhar e ver jogos, mas terá uma pessoa para dirigir, que pode ser o Jayme, meu amigo de longa data.
Reforços
O Flamengo está aberto a bons negócios. Não vou cravar um número, porque às vezes surgem oportunidades boas. Mas sempre pensando em nível A. Há muitos jogadores por aí, estamos procurando principalmente nos setores de pensamento e defensivo, mas está difícil achar.
Relação com Emerson Sheik
Sobre o Emerson, trabalhamos juntos no Fluminense e fomos campeões. Ele se mudou para o prédio que estou morando, tenho que encontrar ele lá agora, um mala (risos). Mas é um cara que gosto de trabalhar, é parceiro, estou superfeliz de voltar a trabalhar com ele. É fundamental no Flamengo. Samir é um jogador interessante, mas parece que há um movimento de negociações. Temos que ver isso ainda.
Kaká
Kaká é um fora de série. Tive a felicidade de trabalhar com ele no São Paulo e ele fez a diferença porque além de se excelente jogador é um cara que comanda o campo. Mas não falamos com ele, o atleta tem contrato com o Orlando.
O que é preciso para jogar no Flamengo
Espero o básico de um grande time que quer conquistar muita coisa aqui. O atleta ganha para trabalhar, ele tem que dar retorno, deve ser disciplinado, ter comprometimento com a camisa, bom comportamento, trabalhar muito, dar resultado. Alguém do time tem que cobrar isso e essa pessoa é o treinador. Hoje em dia não dá para existir esse tipo de jogador, que não quer ganhar. Ele vai ser cobrado. Não sou pai de ninguém, não sou babá. O cara tem que pensar no torcedor. Quando formos contratar um jogador, queremos um cara que dê resultado e não esteja apenas em busca de um bom contrato. Ele será cobrado para isso.