Um novo estudo relata a descoberta do maior local de desova da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa). Como descrevem em um artigo na revista científica Journal of Applied Ecology, pesquisadores rastrearam mais de 41 mil animais, usando drones, na extensão do Rio Guaporé, na Amazônia, em um trecho entre o Brasil e a Bolívia.
As tartarugas-da-amazônia vivem no Brasil, na Colômbia e na Bolívia. Esses répteis, que têm preferência por água doce e são muito sociais, podem chegar a cerca de 89 cm de tamanho e pesar 59 kg. Sua alimentação consiste em folhas, sementes, frutas, caranguejos, camarões e peixes. A tartarugas-da-amazônia está ameaçada de extinção, principalmente devido à perda de habitat, poluição, construção de represas e caça — sua carne e seus ovos são vendidos.
Uso de drones
Todos os anos, as fêmeas de tartaruga se reúnem para criar ninhos na areia do Rio Guaporé, entre julho e agosto, em uma região de floresta entre o Brasil e a Bolívia.
Em 2024, uma equipe de pesquisadores da Universidade da Flórida, dos Estados Unidos, começou a contar quantas fêmeas se deslocam para desovar os ovos. Os cientistas utilizam drones para contar a quantidade de tartarugas que existem na Flórida e nos arredores do local.
Depois de obter as imagens, eles fazem um ortomosaico, que é a junção e a sobreposição de centenas de fotos capturadas no ar. As capturas possuem uma alta resolução e têm alto nível de detalhamento.
“Descrevemos uma nova maneira de monitorar populações animais com mais eficiência”, disse o coautor do estudo e ecologista, Ismael Brack, em comunicado. “E ,embora o método seja usado para contar tartarugas, ele também pode ser aplicado a outras espécies”.
A contagem das tartarugas se torna mais eficiente através do drones, além de ser algo mais rápido e menos invasivo. Porém, o ortomosaico desconsidera a movimentação dos animais e, por isso, os pesquisadores podem contar repetidamente o mesmo animal. Para resolver o problema, a equipe criou um novo método de precisão de contagem.
Os pesquisadores marcaram os cascos de 1.187 tartarugas com tinta branca não tóxica, que estavam reunidas no Rio Guaporé. Em um período de 12 dias, durante quatro vezes por dia, um drone sobrevoou a região, em um trajeto de ida e volta, tirando cerca de 1.500 fotos a cada voo, resultando em 6.000 imagens por dia. Posteriormente, juntaram as fotos usando um software de edição de imagens.
As imagens foram revisadas para ver se os répteis estavam marcados e para observar o que eles estavam fazendo. Com isso, a equipe conseguiu desenvolver modelos de probabilidade — que analisa o comportamento das tartarugas, a chance de encontrar uma marcação de identificação no casco e quantas vezes elas entram e saem da área.
Resultados do estudo
Inicialmente, a equipe contou que existiam cerca de 79 mil tartarugas, sem levar em consideração a movimentação dos animais ou as marcas feitas nos casos. Segundo o estudo, através da observação em terra, foram identificadas 16 mil tartarugas. Porém, após a aplicação dos métodos estatísticos, o estudo contabilizou a existência de aproximadamente 41 mil exemplares no local.
“Esses números variam muito, e isso é um problema para os conservacionistas”, afirma Brack. “Se os cientistas não conseguirem estabelecer uma contagem precisa dos indivíduos de uma espécie, como saberão se a população está em declínio ou se os esforços para protegê-la estão sendo bem-sucedidos?”.
Agora, os pesquisadores pretendem melhorar os métodos de monitoramento e sobrevoar mais drones no Rio Guaporé, para observar os locais de nidificação. Além disso, a equipe busca analisar outros países da América do Sul que abrigam os locais de habitação da tartaruga-da-amazônia, como Colômbia e possivelmente o Peru e a Venezuela.
Fonte: Revista Galileu