ARACAJU/SE, 12 de julho de 2025 , 21:01:38

‘Elevação do Rio Grande’: Brasil reivindica à ONU ilha submersa rica em minerais

 

O Brasil fez um pedido formal à Organização das Nações Unidas (ONU) para que reconheça uma ilha submersa localizada no Atlântico Sul como parte integrante de sua plataforma continental. Esta área, que é superior em tamanho à Islândia, é considerada rica em minerais essenciais para diversas tecnologias modernas, incluindo baterias e turbinas.

A estrutura em questão, conhecida como Elevação do Rio Grande, situa-se a aproximadamente 1.200 quilômetros da costa do Rio Grande do Sul. Ela se estende desde a base oceânica, a cerca de 5.000 metros de profundidade, até o topo, que se encontra entre 700 e 2.000 metros abaixo do nível do mar. Essa elevação abriga uma diversidade de formações submarinas, incluindo montes, platôs e fendas tectônicas significativas.

A Elevação do Rio Grande possui depósitos de minerais cruciais para a transição energética, como cobalto, manganês, níquel e telúrio. Além disso, é conhecida por conter terras raras — um conjunto de 17 elementos químicos que inclui ítrio e escândio.

Embora chamados de “raros”, esses elementos não são escassos na natureza, mas sua extração é complexa e predominantemente controlada por poucos países, especialmente a China. Os materiais têm aplicações estratégicas em tecnologia moderna, como em turbinas eólicas e eletrônicos, cuja demanda tem crescido globalmente.

Desde 2018, o Brasil reivindica a soberania sobre esta área. O pedido foi formalizado à Comissão de Limites da ONU naquele ano e foi complementado em 2025 com novos dados geológicos e geofísicos que sustentam a solicitação.

A solicitação brasileira fundamenta-se nas diretrizes da ONU que permitem a ampliação da plataforma continental quando há evidências de conexão geológica com o território nacional. Pesquisadores brasileiros têm aprofundado estudos que demonstram que a Elevação do Rio Grande compartilha características semelhantes às rochas continentais.

Pesquisas

Um grupo multidisciplinar da Universidade de São Paulo (USP), composto pelo Instituto Oceanográfico, Escola Politécnica e Instituto de Geociências, está atualmente investigando a região em colaboração com instituições acadêmicas da Grã-Bretanha, Alemanha e Japão. As pesquisas visam entender não apenas a origem geológica da Elevação do Rio Grande, mas também avaliar seu potencial mineral estratégico e os riscos ambientais associados a uma possível exploração.

O professor Luigi Jovane coordena essas investigações e é especialista em geofísica marinha e paleomagnetismo. Desde 2015, ele lidera expedições científicas na região e os dados coletados pela equipe têm sido fundamentais para fortalecer o pedido brasileiro junto à ONU.

Análises de zircões indicaram que a Elevação do Rio Grande representa um fragmento da crosta continental, validando as alegações brasileiras. As rochas encontradas têm idades que variam entre 540 milhões e 2 bilhões de anos, anterior à separação entre os continentes sul-americano e africano.

Estudos sugerem que esta estrutura já foi uma ilha tropical no passado. O professor Jovane destaca a descoberta de rochas vulcânicas datadas entre 45 a 47 milhões de anos e sedimentos que indicam transformações ambientais significativas ao longo do tempo. “Ela é muito maior que a Islândia, sem equivalente direto”, afirma Jovane, conforme repercute o UOL.

Apesar dos avanços nas pesquisas, muitos mistérios ainda cercam a Elevação do Rio Grande. Segundo Jovane, “ainda sabemos muito pouco sobre sua origem completa, porque é uma região imensa e muito complexa, com várias fissuras e feições que mostram uma história longa”.

A USP está desenvolvendo novas tecnologias para investigar mais profundamente essa área submarina. A universidade planeja criar equipamentos inovadores para mapear extensas áreas do fundo oceânico. “Já estamos tentando organizar um cruzeiro com a Marinha e outros órgãos governamentais para o fim deste ano ou início do próximo, para entender melhor essa região”, acrescenta o professor.

Entretanto, a exploração dessas riquezas apresenta riscos significativos. O professor alerta sobre potenciais alterações químicas no ambiente marinho devido à mineração, assim como impactos desconhecidos sobre as espécies que habitam essa região menos explorada. “Os maiores riscos são mudanças na química, na oxigenação e no pH da água em ampla escala, contaminantes por poluentes e pela pluma de mineração. Mas ainda não sabemos exatamente como isso aconteceria”, explica Jovane.

Além disso, ele também destaca os efeitos que isso poderia ter sobre a fauna. “Tem que ser treinado com muito detalhe. Há peixes já amplamente explorados na região por pescadores do mundo inteiro, mas pouco se sabe sobre os organismos que vivem fixos nessas crostas”.

A reivindicação brasileira não é apenas uma questão territorial; ela carrega um peso estratégico significativo tanto no âmbito científico quanto ambiental. Com o reconhecimento da ONU, o Brasil não só expandiria sua área de influência, mas também sua responsabilidade na conservação ambiental do Atlântico Sul. Jovane conclui: “O Brasil terá uma responsabilidade ambiental global por tudo o que acontece nessa região”.

Fonte: Aventuras na História

 

 

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