Qual é o tamanho do estrago do homem no meio ambiente? A contagem da população das espécies silvestres funciona como um excelente termômetro do impacto do desenvolvimento econômico na natureza. Entre 1970 e 2020, a diminuição da vida selvagem foi de 73%, de acordo com o Living Planet, relatório da WWF, divulgado nessa quarta-feira (9). A constatação é uma consequência direta da diminuição da cobertura vegetal em todo o planeta. Sem um habitat natural, as espécies estão fadadas a sucumbir. É o que vem acontecendo, por exemplo, nos principais biomas do país. Em um ano de extrema seca, as queimadas agravam ainda mais a situação de áreas impactadas pelo desmatamento, levando a morte até mesmo de animais de grande porte, como onças-pintadas e antas.
A Sociedade Zoológica de Londres forneceu as principais diretrizes para o amplo relatório apresentado a cada dois anos, sobre a vida natural no mundo. “Para isso, analisou estudos internacionais que acompanharam mais de 5 mil espécies nesse período”, explica à Veja Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. As espécies de água doce foram as mais impactadas. Nas grandes cidades, muitos rios acabaram canalizados. Outros viraram esgotos a céu aberto. E aqueles que cortam grandes ecossistemas estão ameaçados pelas mudanças climáticas. A vida nesse ecossistema encolheu 85%. As espécies terrestres diminuíram 69% e a marinha, 56%.
O agronegócio é apontado como a principal causa da perda e degradação do habitat natural, seguida da superexploração, das espécies invasoras e das doenças. As mudanças climáticas representam uma ameaça adicional, especialmente para as populações de vida selvagem na América Latina e no Caribe, que registraram uma impressionante queda média de 95%. “A natureza está emitindo um pedido de socorro”, diz Kirsten Schuijt, diretora-geral do WWF Internacional. “As crises interligadas de perda da natureza e mudanças climáticas estão empurrando a vida selvagem e os ecossistemas além de seus limites, com pontos de não retorno globais que ameaçam danificar os sistemas de apoio à vida na Terra e desestabilizar as sociedades”. Às vésperas de dois grandes eventos que acontecerão neste ano, a COP16 e a COP29, a maior preocupação da entidade é que os países estabeleças metas mais claras. “Os países já comprometeram em reduzir as emissões dos gases de efeito estufa”, diz Helga.
De fato, há metas globais ambiciosas para interromper e reverter a perda da natureza (o Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal), limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC (o Acordo de Paris) e erradicar a pobreza (os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU). Mas as nações não esclareceram como pretendem chegar lá. Muitas vezes, as ações parecem contraditórias. No Brasil, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva investe na expansão da exploração do petróleo ao mesmo tempo que reduz a devastação na Amazônia.
“Somente ecossistemas bem manejados garantirão a existência de biodiversidade, água, polinizadores e estabilidade climática, por exemplo, e essa é uma realidade possível e que beneficiará de cidades a produtores rurais e os diversos setores econômicos da atividade humana”, diz Helga. Para isso, é preciso a prevalência do agronegócio sustentável, envolver povos originários nas políticas de conservação em regiões preservadas e, sobretudo, conseguir que instituições financeiras não financiem empreendimentos danosos ao meio ambiente. São muitas as sugestões e possibilidades para uma recuperação do meio ambiente. Independentemente do caminho escolhido, o importante é arregaçar as mangas o mais rápido possível, pois, segundo as projeções do relatório, os próximos cinco anos são fundamentais até mesmo para a adaptação do homem.
Fonte: VEJA