ARACAJU/SE, 28 de abril de 2025 , 13:31:07

Quase 90% da população mundial é favorável a ações contra crise climática; Brasil lidera movimento global

 

Um estudo global publicado recentemente na revista Nature Climate Change revelou que 89% da população mundial deseja que seus governos tomem ações mais fortes para combater a crise climática. Contudo, a maioria das pessoas acredita que está sozinha nessa preocupação.

O Brasil figura entre os países com maior apoio à causa, destacando-se como um dos líderes em conscientização ambiental não somente por isso, como também pelo momento em que seu protagonismo no tema cresce por sediar a COP30.

A “espiral de silêncio”

O levantamento, que entrevistou quase 130.000 pessoas em 125 países, foi conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores liderada por cientistas das universidades de Bonn e Frankfurt, na Alemanha, e Copenhague, na Dinamarca.

Foram avaliados quatro aspectos fundamentais sobre o engajamento na luta contra mudanças climáticas: a disposição individual para fazer contribuições financeiras, a aprovação de normas pró-clima, a demanda por ação política e as crenças sobre o apoio de outras pessoas.

Uma das principais descobertas do estudo foi o fenômeno chamado “espiral de silêncio”.  O conceito contempla o grande volume de pessoas que acreditam – erroneamente – ser minoria em seu apoio à causa climática, quando na verdade fazem parte de uma expressiva maioria.

Em todos os países estudados, a percepção sobre o apoio de terceiros foi consistentemente subestimado. Enquanto 69% da população global se mostra disposta a contribuir com 1% de sua renda pessoal para combater as mudanças climáticas, a percepção média sobre os outros é de que apenas 43% teriam essa disposição.

O destaque brasileiro no cenário mundial

No Brasil, dados mostram que o país está na faixa de 70-80% quando se trata da disposição para contribuir com 1% da renda para ação climática, e acima de 90% tanto no apoio a normas sociais pró-clima quanto na demanda por mais ação governamental contra as alterações climáticas.

Segundo o estudo, junto com Portugal e Sri Lanka, os brasileiros estão entre aqueles que mais apoiam medidas de combate às mudanças no clima, superando muitas nações desenvolvidas, o que coloca o país em situação privilegiada para influenciar o debate internacional.

A reação brasileira pode ser explicada pela correlação entre a vulnerabilidade climática de um territótio e a disposição de seus cidadãos para aportar financeiramente na causa – outra das descobertas do estudo.

Nações com temperaturas médias mais altas e maior exposição aos efeitos das mudanças climáticas, como o Brasil, demonstram maior disposição para contribuir.

O estudo revela ainda uma relação negativa entre PIB per capita e disposição para contribuir: em países mais ricos, há menor disposição para contribuir financeiramente.

Essa tendência se explica, em parte, pelo fato de que populações de regiões mais vulneráveis já enfrentam consequências mais severas das mudanças climáticas, tornando o tema não apenas uma preocupação abstrata, mas uma realidade cotidiana.

No caso brasileiro, as frequentes secas na Amazônia, as inundações no Sul e os eventos climáticos extremos que têm se intensificado nos últimos anos contribuem para essa maior sensibilização.

O fator COP30

Como é de se esperar, a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), principal fórum internacional de negociações sobre o clima, no Brasil, é vista como oportunidade de o país se tornar um forte exemplo para outras nações.

O estudo mostrou o apoio público à ação climática é tão forte entre os países-membros do G20 quanto no resto do mundo. Esses países, que incluem EUA, China, Arábia Saudita, Reino Unido e Austrália, são responsáveis por 77% das emissões globais de carbono.

Ao The Guardian, a professora Teodora Boneva, da Universidade de Bonn, afirmou que o mundo está unido em seu julgamento sobre as mudanças climáticas e a necessidade de agir.

“Um esforço conjunto para corrigir percepções equivocadas pode ser uma intervenção transformadora, com amplos efeitos positivos”, declarou Boneva.

Segundo o estudo, esse processo pode desencadear ciclos de retroalimentação positiva, estimulando ainda mais o apoio público e a demanda por políticas ambientais mais robustas.

Os 125 países pesquisados são responsáveis por 96% das emissões de carbono do mundo, e os resultados indicam que os chineses, o maior poluidor do mundo, estavam entre os mais preocupados, com 97% afirmando que seu governo deveria fazer mais para combater as mudanças climáticas.

O segundo maior poluidor do mundo, os EUA, ficou perto do fim da lista, mas 74% dos seus cidadãos ainda disseram que o governo deveria fazer mais, enquanto 48% estavam dispostos a contribuir financeiramente.

Descompasso entre apoio público e percepção política

Políticos frequentemente subestimam o apoio público a políticas climáticas, mostrou o levantamento. No Reino Unido, por exemplo, parlamentares subestimaram enormemente o apoio público aos parques eólicos terrestres.

Nos EUA, quase 80% dos funcionários do Congresso subestimaram o apoio da população aos limites das emissões de carbono, às vezes em mais de 50 pontos percentuais. Essa desconexão entre a percepção política e a realidade do apoio público pode explicar, em parte, a lentidão na implementação de políticas climáticas mais ambiciosas.

O estudo avaliza que exista uma forte correlação positiva entre a aprovação de normas sociais pró-clima e a quantidade de leis e políticas relacionadas às mudanças climáticas aprovadas pelos países.

Nesse sentido, o Brasil tem potencial para avançar significativamente em sua legislação climática, impulsionado pelo forte apoio público, desde que as autoridades reconheçam e respondam a esse apelo da população.

O maior desafio a partir dessas conclusões  – no Brasil e no mundo – será converter o apoio silencioso em ação coletiva, tendo a política como a chave para enfrentar o desafio climático com a urgência que ele demanda.

Fonte: EXAME

 

 

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