ARACAJU/SE, 4 de janeiro de 2025 , 4:52:57

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Três em cada quatro pessoas vão ser afetadas por secas no mundo até 2050, alerta ONU

 

Em meio à 16ª sessão da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), que aconteceu na Arábia Saudita neste mês, foi publicada a primeira edição do Atlas Mundial da Seca. O relatório aprofunda as discussões sobre este fenômeno, apresenta seus possíveis riscos e projeções de impacto, além de destacar a importância de se estabelecer planos nacionais e de cooperação global para freá-lo.

Por meio de dezenas de mapas, infográficos e estudos de caso, esse documento ilustra como a seca está intrinsecamente interconectada aos setores de energia, agricultura, transporte fluvial e comércio internacional. Portanto, tem o potencial de desencadear efeitos em cascata, ampliando as desigualdades sociais e ameaçando a saúde pública.

A UNCCD indica que os impactos da seca são tipicamente menos visíveis e, por isso, tendem a atrair menos atenção do que eventos repentinos como inundações e terremotos. No entanto, são uma das ameaças mais mortais. Projeta-se que elas devam afetar três em cada quatro pessoas no mundo até 2050.

“O Atlas Mundial da Seca desafia governos, líderes empresariais e formuladores de políticas em todos os níveis a repensar radicalmente como tomam decisões e gerenciam o risco de seca”, afirma Ibrahim Thiaw, secretário executivo da UNCCD, em comunicado. “Apelo a todas as nações, e em particular às Partes da UNCCD, para levarem as descobertas do Atlas a sério. Na COP16 da UNCCD, as Partes podem mudar o curso da história em direção à resiliência à seca”.

Impacto das secas

De acordo com o estudo, as emissões de gases de efeito estufa, advindas, sobretudo, das indústrias humanas, foram as principais culpadas pelo aumento da seca no planeta. Hoje, uma em cada três pessoas vive em áreas carentes de umidade; há 30 anos, em 1990, esse número era de um a cada cinco indivíduos.

As secas aumentaram em 29% desde o ano 2000 devido às mudanças climáticas e à gestão insustentável dos recursos terrestres e hídricos. Muitos dos lugares mais afetados, inclusive, são grandes produtores de alimentos, como Argentina, Espanha e a região do Mar Negro, sugere o jornal The New York Times.

Esta nova publicação explora como os produtos agrícolas que chegam aos nossos pratos por meio de cadeias de suprimentos globais podem piorar os efeitos das secas e criar estresse hídrico nos países onde são produzidos por meio de transferências virtuais de água. Lugares que os cientistas classificam como terras áridas não enfrentam apenas secas ocasionais, eles são persistentemente deficientes em umidade.

Mais de 40% das terras da Terra fora da Antártida eram consideradas terras secas em 2020, segundo o relatório da ONU. Quanta terra a mais ficará seca neste século dependerá de quanto as sociedades de combustíveis fósseis continuarão queimando.

O Atlas da seca também mostra como os riscos de seca são interconectados e por que seus efeitos abrangem todos os setores. Países dependentes de energia hidrelétrica para eletricidade, por exemplo, podem enfrentar quedas de energia durante secas. Se isso acontecer durante uma onda de calor, pode resultar em hospitalizações e mortes, pois as pessoas não podem usar ventiladores ou ar-condicionado para resfriar suas casas.

“As atividades humanas estão impulsionando ou exacerbando as secas e seus impactos na sociedade. Isso é claramente descrito no Atlas, e com base na literatura científica e usando exemplos de todo o mundo”, afirma Marthe Wens, pesquisadora que ajudou na produção da pesquisa. “Isso também significa que, por meio de nossa gestão da terra e da água, temos a capacidade de reduzir os impactos da seca e aumentar a resiliência de nossos sistemas”.

Combate à seca

O Atlas descreve medidas e caminhos concretos para gerenciar, reduzir e se adaptar aos riscos sistêmicos de seca. As políticas se enquadram em três categorias: governança (sistemas de alerta precoce, seguro para pequenos agricultores e esquemas de preços para uso da água); gestão do uso da terra (por exemplo, restauração de terras e agrofloresta); e gestão do fornecimento e uso da água (reutilização de águas residuais, recarga e conservação de água subterrânea).

“Este documento é um recurso poderoso para criar um momento político para uma gestão proativa do risco de seca antes da COP16 da UNCCD em Riad. Já temos o conhecimento e as ferramentas para construir nossa resiliência a secas mais severas. Agora é nossa responsabilidade coletiva, e no nosso melhor interesse, tomar medidas para um futuro resiliente à seca”, resume Hugo Morán, copresidente da Aliança Internacional para a Resiliência à Seca (IDRA).

Fonte: Galileu

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