Em 1º de julho de 1991, terminou a aliança militar formada pelos países socialistas do Leste Europeu, num encontro em Praga do qual o presidente russo Gorbatchev preferiu não participar. Era o fim também da Guerra Fria. Por mais que tivesse contribuído decisivamente para o fim do Pacto de Varsóvia, o ex-presidente União Soviética Mikhail Gorbatchev não fez a menor questão de assistir de perto ao processo de dissolução.
Para o encontro dos Estados do Bloco Leste em 1º de julho de 1991, em Praga, Gorbatchev enviou seu vice, Gennady Yanayev. Quando o então presidente da Tchecoslováquia e ex-dissidente Václav Havel disse “hoje o Pacto de Varsóvia deixou de existir” todos aplaudiram, menos Yanayev.
A aliança dos países do Leste Europeu existiu durante 36 anos, a partir de 14 de maio de 1955, quando, na capital polonesa, União Soviética (URSS), República Democrática Alemã (RDA), Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária e Polônia firmaram um pacto de amizade, cooperação e apoio recíproco.
Oficialmente, foi uma reação dos países à adesão da República Federal da Alemanha (RFA) à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Mas logo ficou demonstrado que o Pacto de Varsóvia não era apenas uma liga de defesa, mas sim visava assegurar o controle da URSS sobre o Leste. A repressão, pelas tropas do pacto, da Revolução Popular Húngara em 1956, ou da Primavera de Praga em 1968 são dois dos exemplos mais óbvios.
Fim do Pacto se precipitou
A virada política começara nos anos 80, com o movimento trabalhista polonês Solidarnosc (Solidariedade), as reformas na União Soviética conhecidas como Glasnost e Perestroica, mais tarde a queda da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim, e, na sequência, as negociações para a Reunificação da Alemanha.
“Tínhamos muito a esclarecer, por exemplo, se uma Alemanha unificada poderia ser membro da Otan. E quando é que os soviéticos se retirariam”, recorda Horst Teltschick, assessor do então chanceler federal alemão, Helmut Kohl.
Ele frisa que, além dos créditos financeiros, foram as concessões a Moscou na política de segurança que possibilitaram um acordo com Gorbatchev. Entre os itens constava a renúncia a armas atômicas, biológicas ou químicas e a um estacionamento de tropas da Aliança Atlântica nos estados do Leste alemão.
Em setembro de 1990, apenas pouco antes da Reunificação alemã, a RDA se retirou do Pacto de Varsóvia. No prazo de alguns dias, cerca de 360 mil integrantes do Exército Nacional do Povo se tornaram soldados da Otan. Um número equivalente de soviéticos deixou o Leste da Alemanha até 1994, o que na época custou a Bonn quase 4 bilhões de marcos.
Reação em cadeia
Só com a Reunificação da Alemanha foi possível a posterior ampliação da Otan, afirma o historiador teuto-americano Konrad Jarausch. Mas quando a República Democrática Alemã (RDA) deixou a aliança oriental, Gorbatchev ainda esperava desdobramentos bem diversos: a prolongada hostilidade entre o Leste e o Ocidente foi declarada encerrada.
“Gorbatchev falou, na época, de ‘nossa casa comum’ e assegurou que a União Soviética estaria pronta a anular o Pacto de Varsóvia se, no lugar deste, se estabelecesse uma nova estrutura de segurança na Europa”, conta Dimitar Ludzhev, ministro búlgaro da Defesa entre 1991 e 1992.
Cerca de meio ano após a retirada da RDA, os países-membros do Pacto transformaram a instituição de militar em política, num encontro em Budapeste boicotado pelos soviéticos. Passaram-se mais três meses até ser dada como encerrada a supremacia política da URSS na região – na cúpula de 1º de julho de 1991 em Praga, de que Gorbatchev preferiu não participar em pessoa.
Ampliação da Otan para o Leste
O então presidente soviético esperava que em breve se criasse uma nova estrutura de segurança na Europa. Mas a Otan sobreviveu ao fim do Pacto de Varsóvia. E logo cresceria, já que os antigos integrantes da aliança do Leste queriam mudar rapidamente de lado e contar com a proteção da Aliança Atlântica.
O cientista político Alexander Galkin, que compunha, então, o grupo de consultores de Gorbatchev, lembra que os Estados Unidos asseguraram a Moscou que a Otan não pretendia se ampliar para o Leste. “Hoje, acertos verbais pouco valem”, comenta.
Mas Gorbatchev nunca exigiu do Ocidente garantias de que a Aliança Atlântica não se ampliaria com a adesão dos Estados europeus orientais, rebate o historiador Heinrich-August Winkler. Na época, o foco das atenções eram as condições para a unificação da Alemanha, salienta Winkler.
Países do Leste buscam proteção
Depois de a RDA abandonar o Pacto de Varsóvia, a Tchecoslováquia e a Hungria foram as primeiras a anunciar o desejo de se filiar à Organização do Tratado do Atlântico Norte, seguindo-se a Bulgária, para surpresa de Washington.
A Polônia, onde no início da década de 1990 ainda estavam estacionados 60 mil soldados soviéticos, também queria aderir o mais rápido possível às estruturas ocidentais, mas ninguém ousava dizê-lo em voz alta.
“Em 1991, uma filiação à Otan nos parecia pouco realista”, explicaria mais tarde o ex-ministro polonês do Exterior Krzysztof Skubiszewski. “Em conversas com o secretário-geral da Otan Manfred Wörner, expressei claramente o desejo de proteção pela Aliança Atlântica solicitar a adesão.”
Com o fim do Pacto em meados de 1991 e o subsequente declínio da União Soviética, o processo ganhou uma nova dinâmica. A prioridade inicial foi integrar os países fronteiriços com os membros da Otan. Em 1999, Polônia, República Tcheca e Hungria se uniram à Aliança – enquanto a Bulgária e os demais ainda tiveram que esperar até 2004.
Fonte: Terra