ARACAJU/SE, 21 de novembro de 2024 , 3:49:11

logoajn1

África do Sul assume presidência do G20

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregou simbolicamente, na tarde dessa terça-feira (19), a presidência do G20 para a África do Sul, em uma cerimônia no Rio de Janeiro, que também marcou o encerramento da cúpula de chefes de Estado. Oficialmente, os sul-africanos assumem o posto no dia 1º de dezembro.

Na passagem de bastão, Lula fez um balanço das atividades no Brasil e desejou sucesso ao presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ressaltando no discurso os laços históricos entre América Latina e África. Incluiu também em sua fala, ao oferecer ajuda ao país sucessor, uma referência ao ex-presidente sul-africano e Nobel da Paz Nelson Mandela.

“Depois da presidência sul-africana, todos os países do G20 terão exercido pelo menos uma vez a liderança do grupo. Será um momento propício para avaliar o papel que desempenhamos até agora e como devemos atuar daqui em diante. Temos a responsabilidade de fazer o melhor”, disse.

A presidência brasileira do G20 começou no dia 1º de dezembro do ano passado. No total, foram realizadas 24 reuniões de nível ministerial e outras 110 de nível técnico, em diferentes cidades brasileiras.

“Voltamos a adotar declarações consensuais em quase todos os grupos de trabalho. Deixamos a lição de que, quanto maior for a interação entre as trilhas de sherpas [negociadores] e de finanças, maiores e mais significativos serão o resultado dos nossos trabalhos”, disse Lula na sessão de encerramento.

Após 12 meses de reuniões técnicas e ministeriais, que culminou nos dois dias de encontros com líderes mundiais, o Brasil avalia que conseguiu emplacar sua agenda e deixou algumas marcas no bloco.

A expectativa do governo Lula é que as contribuições brasileiras sejam levadas adiante, considerando que, em 2026, a presidência rotativa do bloco ficará nas mãos dos Estados Unidos, sob Donald Trump.

O bloco chegou ao seu evento final, a cúpula de chefes de Estado, ainda dividido nas negociações para o comunicado final. Os principais pontos de discórdia eram as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Além disso, havia uma ofensiva argentina contra pautas mais progressistas, em particular a menção à igualdade de gênero e empoderamento feminino.

Os delegados, orientados pelo presidente ultraliberal Javier Milei, opunham-se inicialmente à menção à proposta de taxação dos super-ricos, uma das bandeiras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No fim, o presidente argentino informou que iria assinar o documento final do encontro, mas que marcaria sua oposição a trechos da declaração.

Além da questão argentina, outro tema que manteve as negociações do comunicado oficial em suspense até as últimas horas foi a questão geopolítica. O comunicado final, que havia sido antecipado pela Folha, deu um peso maior para o conflito na Faixa de Gaza e no Líbano do que para a guerra no Leste Europeu.

Na declaração, o G20 destacou o imenso sofrimento humano e os impactos adversos causados por guerras e conflitos ao redor do mundo. Os líderes disseram ainda que existe uma situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e citaram a escalada no Líbano.

O comunicado deste ano não mencionou a Rússia no contexto do conflito na Ucrânia, o que foi visto por alguns representantes estrangeiros como um tom mais ameno. Em um trecho genérico, sobre os conflitos e guerras em andamento, há uma condenação de todos os ataques contra civis e contra a infraestrutura.

O governo Lula estabeleceu três prioridades para a presidência brasileira do G20: inclusão social e luta contra a fome e a pobreza, reforma da governança global e transição energética e desenvolvimento sustentável. O presidente também lançou durante a cúpula a Aliança Global Contra a Fome.

Outra iniciativa brasileira foi a implementação do G20 Social, para articular as demandas e visões da sociedade civil, que produziram documentos e sugestões a serem entregues aos líderes do bloco principal. A África do Sul já informou que vai manter a iniciativa.

O Brasil deixará a presidência do bloco, mas segue integrando a Troika do G20, em breve na condição de último anfitrião e presidente. O terceiro membro do bloco é os Estados Unidos, de Trump, que mantém posições contra o multilateralismo e parte das agendas discutidas no bloco.

Na sessão de encerramento, o presidente sul-africano afirmou que a liderança brasileira foi “extremamente bem-sucedida” no G20 e elogiou o país por aumentar a participação da sociedade civil nas discussões do grupo.

“A África do Sul acredita firmemente que a sociedade civil serve como uma ponte entre os líderes do G20 e as pessoas que têm o maior interesse em suas deliberações. Continuaremos com esta plataforma inovadora de engajamento durante nossa presidência”, afirmou Ramaphosa.

“Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade” foi o tema escolhido pela África do Sul para o próximo ano. As três prioridades do país serão crescimento econômico inclusivo, industrialização, emprego e desigualdade; segurança alimentar; e inteligência artificial e inovação para o desenvolvimento sustentável.

Fonte: Folha de S.Paulo

Foto: Ricardo Stuckert

Você pode querer ler também