ARACAJU/SE, 4 de agosto de 2025 , 5:26:43

Brasileiros se arriscam para abastecer veículos na Bolívia devido a barateamento do combustível

 

Devido à longa política de subsídios, a Bolívia tem alguns dos preços de gasolina e diesel mais baratos da América Latina, podendo chegar a R$ 1,29 por litro da gasolina, segundo análise da Global Petrol Prices.

Brasileiros que moram na fronteira entre os dois países sempre aproveitaram esse detalhe para economizar. Em meio à grave escassez de combustível na Bolívia, porém, cada vez mais estrangeiros recorrem ao ‘jeitinho’ até para se locomover pelo país.

A reportagem de UOL Carros encontrou diferentes brasileiros que, na internet, dão dicas para driblar as restrições.

A maioria dos relatos envolve encontrar cidadãos bolivianos que revendem diesel e gasolina aos turistas. A transferência do líquido é feita de maneira artesanal, com riscos à saúde e à segurança.

Por que é tão barata?

Há cerca de 20 anos, La Paz mantém fortes subsídios em seus combustíveis, usando boa parte do dinheiro das exportações de gás natural para tal.

Atualmente, um litro de gasolina comum é tabelado em 81 centavos de boliviano (moeda local), equivalente a R$ 3,74. No mercado paralelo, diz a Bloomberg Línea, o valor é menos da metade disso.

No caso do diesel, os motoristas bolivianos pagam cerca de R$ 3,00 por litro, ao passo que veículos com placas de fora são cobrados em R$ 7,16/l.

Para aproveitar o desconto, o veículo deve ter placas bolivianas e contar com uma tag semelhante à de pedágio, que libera o abastecimento.

Sem acesso ao mar e com poucas reservas de petróleo, a Bolívia precisa importar cerca de 80% do diesel e 70% da gasolina que o país consome.

Na última década, o faturamento com a venda de gás boliviano caiu cerca de 69%. Isso reduziu as reservas cambiais do país, que passou a conviver com falta diária de diesel e gasolina.

No início de 2025, o governo boliviano decidiu manter o preço dos combustíveis inalterados — desde a década passada, em sua maioria. Por outro lado, impôs restrições às quantidades.

Tais limites são ainda maiores nas fronteiras, onde qualquer abastecimento acima de 50 litros em garrafas e outros vasilhames, por exemplo, demanda autorização estatal.

Crise aumentando

Com menos combustível disponível, os postos bolivianos viraram palco de protestos e brigas, relatou a imprensa local. Os casos de estabelecimentos que se recusavam a vender combustível para brasileiros se intensificaram. Um grupo de caminhoneiros chegou a procurar políticos do Mato Grosso do Sul a fim de relatar um esquema de propina para liberação de diesel.

“O que ocorreu simplesmente é que postos da Bolívia, dois ou três, não estavam querendo vender”, afirmou o cônsul da Bolívia em Corumbá, Simons Blacutt, em reunião com representantes da cidade em abril.

Enquanto a situação se desenrola, diversos brasileiros que circulam pela Bolívia, a trabalho ou passeio, relatam técnicas para obter combustível local.

Em sua grande maioria, elas incluem encontrar um cidadão que tenha carro, mas não esteja utilizando-o. Dessa forma, o boliviano consegue encher o tanque e transferir gasolina ou diesel para outro veículo.

Com muitos postos vigiados pelo exército, a transferência é feita, muitas vezes, de maneira apressada e precária, com uso de sifonamento por via oral.

A prática consiste em sugar uma mangueira, que induz a transferência do líquido, mas pode causar intoxicação grave, alerta a ANP.

“Eu reparo que algumas casas deixam garrafas PET com combustível na porta. Nesse caso, é só chamá-los e negociar um valor”, disse uma pessoa que, em suas redes sociais, exibe constantes viagens pelo país.

Um turista mineiro, por sua vez, relatou ter levado 120 litros em seu SUV, a fim de cruzar o país andino sem recorrer aos postos. O contrabando para fora da Bolívia, segundo dados oficiais, vinha custando quase US$ 600 milhões anualmente ao país.

A Polícia Federal já registrou diferentes prisões de contrabandistas, que levavam, até em barcos, a gasolina boliviana para o Brasil.

Fonte: UOL

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