A China avança na exploração científica das camadas internas do planeta. O poço com mais de 10 mil metros de profundidade, escavado na Bacia de Tarim, na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, Noroeste do país, poderá revelar novos conhecimentos sobre áreas profundas da Terra.
Durante o processo, os equipamentos, incluindo brocas e tubos de perfuração pesando mais de 2.000 toneladas, penetrarão profundamente a Terra passando por mais de 10 camadas continentais, incluindo o sistema Cretáceo.
O professor de Geologia e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Felix Nannini explica que a proposta dos cientistas é investigar as características das rochas sedimentares da Bacia de Tarim.
“As bacias sedimentares são locais de acúmulo de sedimentos ao longo do tempo geológico, no caso dessa bacia a espessura total do material sedimentado pode ultrapassar 10 mil metros em alguns trechos na porção mais interior”, afirma.
A perfuração teve início no dia 6 de junho. A Bacia de Tarim é uma das áreas mais difíceis de explorar devido ao seu ambiente de solo áspero e condições subterrâneas complicadas.
“A partir de uma perfuração profunda como a proposta, será possível saber com mais detalhes os tipos de rochas sedimentares existentes em subsuperfície e avaliar a presença de depósitos de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás. Além disso, será possível identificar diretamente as rochas abaixo da bacia sedimentar e as estruturas desse contato. O detalhamento destas informações pode auxiliar no entendimento da própria formação dessa bacia”, explica.
No Brasil, o poço mais profundo foi perfurado no pré-sal da Bacia do Espírito Santo. De acordo com a Petrobras, a estrutura com cerca de 7.700 metros foi perfurada a 145 km da costa, em locação conhecida como Monai.
“A perfuração mais profunda já realizada na história mundial ocorreu no fim da década de 1980 na Rússia, na península de Kola, chegando a aproximadamente 12.260 metros”, detalha o professor.
Viagem ao centro da Terra?
Para se chegar à parte mais central do interior do planeta Terra, seria necessário perfurar cerca de 6.370.000 metros, ou seja, 6.370 quilômetros.
O pesquisador da UFU explica que, devido à força da gravidade, todo o material terrestre exerce uma força peso em direção ao centro da Terra. O que significa que quanto mais próximo do centro um material estiver, mais ele vai sofrer a ação do peso das rochas que estão acima.
“Se dividirmos o valor da força peso por alguma unidade de área chegamos ao conceito que chamamos de pressão. Assim é possível dizer que quanto maior for a profundidade no interior da Terra, maior também será a pressão”, diz.
Esse fator é um dos principais empecilhos para a escavação de poços com mais de 12 quilômetros de profundidade. O aumento gradativo da pressão faz com que, em determinado ponto, os próprios equipamentos sejam deformados.
Outro fator relevante é a temperatura interna do planeta. A Terra mantém uma alta energia térmica interna, quanto maior a profundidade, maior será a temperatura, o que pode trazer fragilidade aos equipamentos de perfuração à medida em que um poço avança.
“Por isso, o acesso direto a regiões abaixo da crosta terrestre é impossibilitado pelas altas temperaturas e pressões envolvidas, o que impede o avanço dos furos. Assim, chegar diretamente ao núcleo ou até mesmo ao manto terrestre ainda é algo que, possivelmente durante muito tempo, continuaremos a ver somente em obras de ficção científica”, conclui.
CNN BRASIL