No final de abril de 1935, um grande tubarão tigre, recém-capturado, vomitou um pedaço de braço humano no tanque do parque aquático em Sydney, na Austrália, para horror dos visitantes e desconfiança da Polícia, que decidiu investigar a quem aquele membro decepado poderia ter pertencido.
Não foi difícil descobrir.
Naquele pedaço de braço havia a tatuagem estilizada de um boxeador, e a investigação logo deduziu a quem ele pertencera: um lutador que havia desaparecido misteriosamente da cidade, dias antes.
O que parecia impossível havia ocorrido: da barriga de um tubarão brotara a solução de um desaparecimento.
Mas, ainda mais improvável foi o que aconteceu esta semana, no litoral sul da Argentina: a repetição daquele mesmo fato, inclusive com a comprovação da identidade da vítima pelo mesmo motivo.
Um braço na barriga do tubarão
Na madrugada do último domingo, dois pescadores da região de Chubut se preparavam para destrinchar três pequenos tubarões que haviam acabado de capturar no mar, quando, do estômago de um deles, brotou um antebraço humano, ainda em bom estado — e (aqui vai a mais impressionante das coincidências entre os dois casos…) igualmente tatuado: uma rosa pintada de verde e vermelho, com o nome de uma mulher escrito abaixo dela.
Foi também a tatuagem que permitiu à Polícia identificar rapidamente a vítima: o mecânico argentino Diego Alejandro Barría, de 32 anos, que havia saído de casa uma semana antes, na noite de sábado, 18 de fevereiro, para dar um passeio de quadriciclo na praia da região e nunca mais voltou.
Quadriciclo destruído
No dia seguinte ao desaparecimento, domingo retrasado, 19 de fevereiro, o quadriciclo de Diego, costumeiramente usado por ele para passeios nas dunas e areias do ermo litoral próximo à cidade Comodoro Rivadavia, onde morava com mulher e três filhos, foi encontrado, semidestruído na praia, bem como o seu capacete, rachado em diversas partes – mas sem nenhum sinal do argentino.
Aflita com o sumiço do marido, a esposa de Diego, Virginia Brugger, procurou a Polícia, que imediatamente passou a investigar o intrigante desaparecimento do mecânico, ao mesmo tempo em que recolhia o quadriculo, bastante avariado, como se tivesse capotado, e o capacete, igualmente muito danificado.
Primeira teoria da polícia
A dedução inicial dos policiais foi que Diego havia sofrido um acidente nas irregularidades na areia daquela longa praia deserta, repleta de valas, depressões e pedras (obstáculos ainda mais difíceis de serem visualizados à noite, embora ele conhecesse muito bem a região), capotado e sido ejetado, como comprovava o seu capacete rachado.
Com o impacto, ele teria perdido os sentidos, ou mesmo morrido.
O mar levou?
A princípio, a única explicação plausível que a Polícia encontrou foi que Diego poderia ter caído, inconsciente (ou já morto), na praia, sendo em seguida arrastado pelo mar, que estava particularmente violento naquela noite, repleto de ondas e correntezas – embora sem descartar a hipótese de ter havido um outro veículo — e outras pessoas — envolvidas no suposto acidente, já que, antes de desaparecer, o mecânico cruzara com conhecidos em povoados da região e os saudara.
Até então, contudo, a hipótese de a vítima ter sido levada pelo mar (algo um tanto desconexo para alguém que saiu para passear com um veículo terrestre) não passava de mera especulação.
“Caso muito complexo”
Até que, da barriga daquele tubarão, saiu o macabro braço do argentino, que, até agora, ninguém sabe ao certo como morreu, nem muito menos como seu corpo foi parar no mar – e, de lá, para dentro do animal.
“É um caso muito complexo”, avalia o subsecretário de Proteção Civil da região, Jose Mazzei, que tem ajudado a Polícia nas investigações.
“A primeira coisa a ser feita é periciar o quadriciclo, para analisar se houve outro veículo envolvido, e averiguar se aparecem mais vestígios da vítima nas praias da região, como as roupas que ele usava na ocasião, que, curiosamente, não tinham nenhum resíduo na barriga do tubarão”, diz Daniela Millatruz, chefe da Divisão de Buscas da Polícia local.
Tubarão não o matou
Certo é que Diego não morreu por causa do tubarão (ele já estaria morto quando foi parcialmente devorado, já que seu braço estava bem preservado, sinal de que o membro fora engolido pouco antes de o animal ser capturado, o que só ocorreu uma semana depois), e que não entrou voluntariamente no mar — quem haveria de tomar banho de mar em plena noite, após ter destruído seu veículo?
Mas a Polícia ainda não descartou outra hipótese: a de homicídio, seguido de descarte do corpo no mar, tese defendida pela família da vítima.
Essa, porém, é a uma hipótese pouco provável.
Chance de acontecer era mínima
Por outro lado, também parecia improvável que a resposta para o misterioso desaparecimento do mecânico argentino fosse estar dentro do estômago de um tubarão, e que aquele mesmo animal, um dos milhares da espécie que habitam o mar da região, viesse a ser capturado por pescadores, logo depois.
A possibilidade de isso acontecer era mínima. E a repetição do bizarro caso ocorrido na Austrália, quase 100 anos atrás, menos ainda.
O tubarão que desvendou um assassinato
No caso australiano, os desdobramentos do mórbido vômito daquele tubarão glutão foram bem além de apenas revelar o paradeiro final do pugilista desaparecido. Através da análise do tipo de corte que resultou na decepamento do braço da vítima, foi possível concluir até como ele havia morrido: assassinado — clique aqui para conhecer este caso, que, agora, 88 anos depois, a História tratou de repetir.
E de uma maneira igualmente trágica.
Fonte: Uol