ARACAJU/SE, 5 de agosto de 2025 , 5:38:08

Conheça primeira capital do mundo que poderá ficar completamente desabastecida de água nos próximos anos

 

Cabul, capital do Afeganistão, corre risco real de ficar completamente sem água até 2030, indica relatório publicado em maio pela ONG Mercy Corps. A autoridade destaca que, se a projeção for confirmada, a ocorrência levará a implicações humanitárias, econômicas e ambientais severas.

Essa crise hídrica não é um fenômeno repentino. Na verdade, o documento aponta que ela resulta da combinação de uma série de fatores, como é o caso da mudança climática, a má gestão dos recursos naturais, o crescimento populacional acelerado e a falta de políticas de planejamento urbano.

Há 30 anos, a cidade abrigava menos de 2 milhões pessoas, enquanto, hoje, esse número está entre 5 e 6 milhões. Esta pressão demográfica fez com que os aquíferos locais precisassem ser drenados a um ritmo muito superior ao da recarga natural, levando a um déficit anual de 44 milhões m³.

“Sem mudanças em larga escala na dinâmica de gestão da água de Cabul, a região enfrentará um desastre humanitário sem precedentes na próxima década – e provavelmente até antes”, descreve a Mercy Corps. Em alguns casos, os efeitos da escassez já podem ser sentidos pela população.

Dificuldades para acessar água

A contaminação das águas subterrâneas é um problema adicional. Estima-se que até 80% da água da cidade esteja poluída, em razão do descarte de resíduos industriais no solo e o uso de latrinas (instalações sanitárias, nas quais os dejetos são encaminhados para o substrato). Diarreia e vômito são sintomas comuns na região, e afetam especialmente crianças e idosos.

A escassez de água ainda tem impacto direto na educação e na segurança das crianças. Em diversos lares, os filhos faltam às aulas para ficar nas filas para encher seus baldes nas mesquitas e depois carregá-las para casa sob o sol escaldante. “As horas que as crianças deveriam passar na escola agora são usadas para buscar água”, lamenta Marianna Von Zahn, diretora de programas da Mercy Corps no Afeganistão, à CNN.

Por sua vez, as meninas e mulheres enfrentam riscos adicionais para realizar essas caminhadas diárias. Sob o regime do Talibã, elas precisam da companhia de um homem da família para sair às ruas, o que dificulta ainda obter água. “Corremos o risco de sermos assediadas ou pior”, afirma uma jovem moradora de Cabul à CNN, sob anonimato.

Colapso global iminente

A crise hídrica em Cabul foi agravada após o retorno do Talibã ao poder, em agosto de 2021, que levou à suspensão da maior parte da ajuda internacional. Outro golpe aos programas de água e saneamento básico foi a interrupção do financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no início do ano.

Essa decisão, movida pelo presidente Donald Trump, resultou em um enorme déficit para o Afeganistão. Estima-se que, em 2025, apenas US$ 8 milhões (R$ 44,2 milhões) dos US$ 264 milhões (R$ 1,46 bilhão) previstos para manter a assistência à população haviam sido entregues.

Muitos moradores já cogitam o êxodo, mas se veem sem alternativas ou mesmo escolhas para escapar desse cenário. Se nada for feito, Cabul pode se tornar um símbolo trágico do colapso climático e da falência da gestão ambiental global – a primeira capital a secar, porém, provavelmente não a última.

Como lembra o site Live Science, o caso reflete uma tendência global para os próximos anos. Um estudo publicado na revista Scientific Reports em 2016 já apontava que o número de pessoas em situação de escassez de água subiu de 240 milhões para 3,8 bilhões entre 1900 e 2000.

O Oriente Médio, o norte da África e o sul da Ásia estão entre as áreas mais afetadas. A própria Cidade do Cabo, na África do Sul, chegou perto de zerar seus reservatórios em 2018, escapando por pouco graças a medidas emergenciais. Em 2019, Chennai, na Índia, viveu uma situação semelhante.

Fonte: Revista Galileu

 

 

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