ARACAJU/SE, 22 de fevereiro de 2025 , 0:42:21

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‘Criptogate’: Senado argentino barra investigação contra Milei

 

O governo de Javier Milei escapou de um revés nesta quinta-feira (20), ao conseguir barrar no Senado da Argentina a criação de uma comissão para investigar a responsabilidade do presidente e de seu núcleo duro no caso que ficou conhecido como criptogate.

Foram 47 votos favoráveis, um a menos do que o necessário para avançar na proposta, ante 23 contrários. Em uma saída paliativa bem menos incômoda para o Executivo, os senadores aprovaram um pedido para que o governo apresente um relatório sobre o tema.

O grupo seria composto por 17 senadores e contaria com seis meses para investigar, analisar e esclarecer a conduta de Milei no escândalo que envolve a criptomoeda $Libra, que levou a acusações judiciais e políticas de crime de fraude contra o ultraliberal.

A comissão poderia pedir documentos aos envolvidos e a organismos públicos, convocar testemunhas e também exigir a apresentação de informações pelos órgãos de Inteligência. Ao fim, faria um informe que poderia, eventualmente, levar a uma denúncia na Justiça.

Os senadores também negaram a proposta de convocar membros do Executivo para depor, em especial Milei e a irmã, Karina, que também é secretária-geral da Presidência.

O próprio governo de Milei anunciou uma espécie de autoinvestigação, com a criação de um Escritório Anticorrupção no Executivo. Foi uma alternativa amplamente criticada pela oposição, que diz que a cúpula do poder não tem independência para se investigar e que não há transparência em uma proposta como essa.

A maior crise da gestão libertária foi aberta há uma semana, quando no dia 14 o presidente divulgou em seu perfil oficial no X a $Libra, uma memecoin —ativo financeiro digital baseado em tendências, ou memes, da internet.

Após a promoção do presidente, o preço do ativo digital subiu e repentinamente colapsou, levando milhares a perderem dinheiro. Isso levou a acusações de que houve a fraude comum no mundo cripto e conhecida como “rug pull” (ou “puxada de tapete”), operada pelos próprios criadores da criptomoeda, com quem, aliás, Milei havia se reunido na Casa Rosada no ano passado e divulgado fotos.

Um desses criadores afirmou em mensagens a potenciais investidores que controlava o governo de Javier Milei por meio de pagamentos que operava para Karina, a irmã do presidente e pessoa mais influente na gestão. As comunicações foram obtidas pelo jornal local La Nacion.

Milei apagou a publicação horas depois, quando ficou clara a possibilidade de fraude. Disse não ter todos os detalhes e que apenas divulgou a $Libra, sem promovê-la. Três dias depois, compartilhou uma polêmica entrevista com uma TV local que repercutiu não por seu conteúdo exibido, mas pelo que foi retirado. A pedido do assessor de Milei, Santiago Caputo, um trecho da conversa foi cortado.

Milei está nesta quinta-feira nos Estados Unidos, em mais uma de suas viagens a seu destino preferencial no exterior. Ele espera falar com empresários e avançar nas tratativas para um novo acordo bilionário com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Também nesta quinta, uma nova pesquisa de opinião centrada neste tema mostrou uma comedida desidratação da imagem presidencial.

A pesquisa da consultoria CB realizada on-line com 1.125 argentinos de mais de 16 anos mostra que, entre os que estão informados sobre o criptogate (84% do total), 49% dizem que promover a $Libra foi uma ação deliberada de Milei, não um erro involuntário, como ele justifica. E 77% dizem que a Justiça deveria investigar a fundo a relação entre Milei e os criadores da $Libra. Além disso, 72,8% afirmam achar que a confiança no presidente diminuirá.

O fator mais relevante, no entanto, é que o desgaste está mais presente entre aqueles que já não apoiam Milei. Fundador da CB, Cristian Buttié diz à reportagem que somente 10% da base que votou em Milei nas eleições que o elegeram há pouco mais de um ano se viu afetada.

Abertura do maior banco da Argentina ao capital privado

O presidente da Argentina, Javier Milei, decretou a transformação em sociedade anônima do Banco de la Nación, a maior instituição bancária do país, cuja privatização havia sido rejeitada pelo Congresso. A medida foi publicada no diário oficial nesta quinta-feira (20).

“A transformação do Banco de la Nación Argentina em uma sociedade anônima contribuirá para a modernização de sua estrutura jurídica e operacional, permitindo maior flexibilidade em sua gestão e adaptação às melhores práticas do mercado financeiro”, disse Milei no decreto.

O governo incluiu o Banco de la Nación em uma lista de empresas estatais sujeitas à privatização quando impulsionou um mega-pacote de leis ao Congresso, mas o Parlamento se opôs, excluindo-o.

No entanto, a mesma lei deu a Milei poderes extraordinários para declarar emergência econômica, financeira, energética e administrativa pelo período de um ano.

Sindicatos bancários criticaram o decreto e enfatizaram que é “contraditório querer vender o que funciona, a menos que o único objetivo seja uma negociação espúria e uma nova fraude” —em referência ao escândalo envolvendo o apoio do presidente, nas redes sociais, a uma criptomoeda que se revelou ser um golpe.

Dados oficiais divulgados pelo banco corroboram os bons números da entidade financeira argentina. Em 2024, os desembolsos da instituição “tiveram um crescimento extraordinário de mais de 600%”, disse o banco no final de janeiro, observando que tem “a melhor taxa de cobrança da história recente”.

Como resultado, a entidade financeira “aumentou sua participação de mercado em mais de 600 pontos, chegando a 17,5% do total”, declarou, “reafirmando sua liderança no sistema financeiro em qualquer medida: ativos, depósitos, empréstimos e patrimônio”.

De acordo com o decreto, os acionistas serão o Estado argentino, que deterá 99,9% do capital social do banco “e exercerá todos os seus direitos através do Ministério da Economia”, e a Fundação Banco de la Nación, com 0,1% das ações.

O sindicato La Bancaria enfatizou que o Banco de la Nación “tem os melhores números de lucratividade do sistema financeiro, concentra o maior número de clientes, depósitos, créditos e assistência a empresas e indivíduos” e acrescentou que se declarou em “estado de alerta e mobilização” contra o decreto presidencial.

Fonte: Folha de S.Paulo

 

 

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