Foi nas primeiras horas da manhã de 7 de outubro de 2023 que o Hamas lançou uma ofensiva com mísseis e foguetes e invadiu o sul de Israel por terra, céu e mar, em um ataque que deixou aproximadamente 1.200 mortos no país. Dois anos depois do começo da guerra mais sangrenta em décadas na região, as partes podem estar perto de um acordo para encerrar o conflito: Israel e Hamas retomaram nesta segunda-feira, 6, as negociações de paz, sob forte pressão do presidente americano Donald Trump.
O conflito já causou a morte de mais de 67 mil palestinos e 9,5 mil desaparecimentos, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino. A intensa movimentação diplomática ocorre após o Hamas ter dado uma resposta parcialmente positiva ao plano de paz de Trump, que foi aceito integralmente por Israel.
As negociações, que são indiretas, acontecem em Sharm el-Sheikh, no Egito. O plano em discussão estabelece os termos para um cessar-fogo, a libertação dos reféns israelenses e define o futuro do Hamas no pós-guerra.
As tratativas de segunda-feira (6) começaram por volta das 7h (horário de Brasília) com representantes do Hamas, Catar e Egito — estes dois últimos atuando como mediadores junto com os EUA. Uma nova rodada teve início às 10h, enquanto a delegação israelense chegava a Sharm El Sheikh na manhã de segunda-feira, segundo fontes israelenses à Reuters. O grupo do Hamas, que inclui membros que sobreviveram ao bombardeio no Catar em setembro, havia chegado no domingo.
Dos 20 pontos da proposta de Trump, o Hamas aceitou apenas três até o momento: libertação imediata de todos os reféns, transferência do poder em Gaza para tecnocratas e retirada gradual das tropas israelenses. Os EUA pressionam por agilidade, alertando que inviabilizar o acordo levará à “obliteração” do grupo. O presidente americano manifestou confiança de que a proposta é “um ótimo negócio” e que os reféns serão liberados “muito em breve”.
Apesar do apelo público de Trump para que Israel parasse imediatamente os bombardeios a Gaza, ataques israelenses no sábado, 4, deixaram dezenas de mortos no território palestino, segundo autoridades de saúde locais.
Relembre a linha do tempo do conflito:
- 7 de Outubro de 2023 – Ataque do Hamas e início da guerra: O Hamas lança um ataque surpresa e massivo ao sul de Israel, infiltrando combatentes em comunidades, bases militares e um festival de música. Mais de 1.100 israelenses são mortos, e cerca de 250 pessoas são sequestradas e levadas para Gaza. Israel declara estado de guerra e inicia a operação “Espadas de Ferro”.
- 9 de Outubro de 2023 – Bloqueio total de Gaza: O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordena um “cerco completo” à Faixa de Gaza, cortando o fornecimento de eletricidade, combustível, alimentos e água.
- Outubro/Novembro de 2023 – Intensificação dos bombardeios e invasão terrestre: Israel intensifica os bombardeios aéreos em Gaza e inicia uma invasão terrestre no norte do território, com o objetivo declarado de destruir o Hamas e resgatar os reféns. Hospitais, escolas e campos de refugiados são atingidos.
- Novembro de 2023 – Primeira trégua e troca de reféns: Um acordo de cessar-fogo de sete dias, mediado por Catar e Egito, é alcançado. O Hamas liberta mais de 100 reféns (principalmente mulheres e crianças); Israel liberta cerca de 240 prisioneiros palestinos.
- Dezembro de 2023 – Expansão da ofensiva para o Sul de Gaza: Após o fim da trégua, Israel expande sua ofensiva militar para o sul de Gaza, incluindo a cidade de Khan Younis, que estava lotada de deslocados internos, intensificando a crise humanitária.
- Início de 2024 – Foco em Khan Younis e escalada regional: Os combates se concentram em Khan Younis. A tensão aumenta nas fronteiras com o Líbano (devido a confrontos com o Hezbollah) e há ataques de grupos houthis, do Iêmen, no Mar Vermelho, elevando o risco de um conflito regional mais amplo.
- Março/Abril de 2024: Esforços diplomáticos falham e retirada parcial: Várias rodadas de negociações de cessar-fogo e libertação de reféns falham. Israel anuncia a retirada de tropas de Khan Younis, alegando ter completado a missão nessa área.
- Maio de 2024 – Invasão de Rafah: Israel inicia uma incursão militar na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, apesar dos apelos internacionais e da preocupação com o destino de mais de um milhão de palestinos deslocados que se refugiaram ali.
- Julho/Setembro de 2024 – Novos ataques aéreos e tensão crescente: Ataques aéreos israelenses continuam em Gaza e no Líbano, visando figuras-chave do Hamas e do Hezbollah. A comunidade internacional (como o G7) expressa crescente preocupação com a situação humanitária.
- Setembro de 2024 – Bombardeios no Líbano e morte de Haniyeh: Uma série de ataques aéreos, atribuídos a Israel, atingem membros do Hezbollah, incluindo o comandante militar Fuad Shukr. Ataque em Teerã mata o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh.
- Janeiro a Outubro de 2025 – Impasse de cessar-fogo e crise humanitária: Negociações de cessar-fogo e libertação de reféns enfrentam um impasse prolongado, marcado por ataques e uma crise humanitária cada vez mais grave. Israel mantém operações militares em Gaza.
- Outubro de 2025: Pressão diplomática e plano de paz de Trump: O presidente dos EUA, Donald Trump, apresenta um plano de paz. Sob forte pressão internacional, o Hamas aceita alguns termos (como a libertação de reféns e a renúncia ao poder em Gaza), mas levanta objeções sobre o desarmamento. Israel aceita a primeira fase do plano, mas mantém a exigência do desarmamento total do Hamas. Negociadores se reúnem no Egito buscando um acordo final.
Crise humanitária sem precedentes
Dois anos após o ataque do Hamas, a Faixa de Gaza se transformou em uma paisagem de destruição, fome e morte. Segundo a agência Ansa, a Cidade de Gaza é uma cidade fantasma, com dois milhões de palestinos deslocados vezes e agora concentrados no sul do território. A ajuda humanitária é mínima por enfrentas grandes obstáculos para chegar à população.
O custo humano é alto: além das mais de 67 mil mortos, há cerca de 170 mil feridos — incluindo 4,8 mil amputações e 1,2 mil casos de paralisia total. Conforme dados do Hamas, 2,7 mil famílias foram inteiramente dizimadas, e mais de 12 mil abortos espontâneos são atribuídos à desnutrição e à falta de assistência médica. A fome já causou pelo menos 460 mortes, sendo 150 crianças, de acordo com o Unicef.
A infraestrutura também foi impactado, com 90% das construções, incluindo casas, 38 hospitais e 95% das escolas, total ou parcialmente destruídas por mais de 200 mil toneladas de explosivos, de acordo com dados do Hamas. Neste cenário, Israel barrou a entrada de repórteres estrangeiros, enquanto mais de 200 jornalistas palestinos foram mortos.
Apesar do isolamento, a causa palestina ganhou apoio internacional nos últimos meses, com vários países reconhecendo o Estado da Palestina. A Coalizão Flotilha da Liberdade tentou romper o bloqueio marítimo para levar ajuda, gerando uma onda de protestos e solidariedade, especialmente na Europa. Contudo, os navios foram interceptados por Israel, os ativistas, detidos e gradualmente deportados. Com um destino incerto, os civis continuam sendo as maiores vítimas e, mesmo com as negociações em curso, enxergam o fim da guerra como uma perspectiva distante.
Fonte: Terra