O ano de 2024 foi marcado por um número surpreendentemente alto de desastres naturais. Desde furacões devastadores no Caribe e nos Estados Unidos até a maior seca já registrada no Brasil, os eventos climáticos extremos causaram milhares de mortes e trouxeram impactos severos à população e ao meio ambiente.
O ano ainda está a caminho de ser o mais quente já registrado, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Nos primeiros nove meses, a temperatura média global superou em mais de 1,5 grau Celsius o nível pré-industrial.
O relatório do Estado do Clima da OMM foi um dos vários a alertar que as mudanças climáticas ameaçam tornar eventos climáticos extremos e desastres naturais cada vez mais comuns e graves.
Relembre alguns dos principais eventos de 2024
Inundações no Afeganistão e Paquistão
As chuvas torrenciais que atingiram o Afeganistão em março e, em seguida, o Paquistão, provocaram inundações repentinas e destruição em larga escala, matando mais de mil pessoas.
No Afeganistão, as inundações tiveram início em maio, atingindo províncias como Baghlan, Takhar e Badakhshan, deixando cerca de 700 pessoas mortas.
Já no Paquistão, as chuvas torrenciais ocorreram predominantemente em junho, afetando mais de 1,3 milhão de pessoas em províncias como Khyber Pakhtunkhwa e Punjab. As cheias continuaram no país em agosto, matando 245 pessoas, ferindo outras 446 e destruindo mais de mil casas.
As inundações foram causadas pelas chuvas intensas do período de monções, um fenômeno climático característico do sul da Ásia que ocorre entre maio e setembro, que levaram diversos rios a transbordar em ambos os países.
Enchentes no Rio Grande do Sul
Entre o final de abril e o início de maio, o equivalente a um ano de chuva desabou sobre o estado do Rio Grande do Sul, provocando enchentes devastadoras.
As inundações, consideradas como a pior tragédia climática da história do estado, atingiram mais de 2,5 milhões de pessoas em 458 cidades, deixando quase 200 mortos, além um prejuízo de 10 bilhões de reais, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM).
O Lago Guaíba, que banha Porto Alegre, ganhou força desproporcional e rompeu as comportas que protegem a capital gaúcha, deixando-a submersa enquanto o volume hídrico batia recordes e o nível de água superava 5 metros de altura, ultrapassando o antigo recorde da pior cheia na região, em 1941.
Além das perdas materiais, as enchentes desataram surtos de doenças. Casos de acidentes com animais peçonhentos, tétano, hepatite A, diarreia e leptospirose alargaram a lista de tragédias do episódio.
Seca e incêndios no Brasil
O Brasil enfrentou sua pior escassez de água este ano desde pelo menos 1950, quando os dados começaram a ser colhidos, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A seca atingiu mais de 80% do território brasileiro — só Rio Grande do Sul e Santa Catarina escaparam — nos meses de junho e julho, segundo um relatório do Monitor das Secas. O número de dias secos consecutivos ultrapassou os 120 dias no ano em muitas regiões.
Enquanto os números da seca batiam recordes, incêndios se alastravam pela Amazônia, assim como o Cerrado e o Pantanal, atingindo uma área maior que o estado do Paraná.
Furacão Beryl
O furacão Beryl de categoria 5 atingiu o Caribe em junho, causando destruição em várias ilhas. O fenômeno — o mais precoce já registrado no Atlântico — afetou gravemente Barbados, São Vicente e Granadinas e a República Dominicana. A tempestade gerou ventos fortes e chuvas torrenciais, resultando na morte de pelo menos onze pessoas na região.
Com força reduzida em relação à devastação no Caribe, Beryl tocou o solo dos Estados Unidos dias depois como um furacão de categoria 1, provocando a queda de árvores e inundações no Texas e Louisiana.
Mais de 2 milhões de pessoas ficaram sem eletricidade, e os danos materiais foram significativos, especialmente nas áreas afetadas por inundações repentinas. No total, 64 pessoas foram mortas.
Incêndios na Grécia
Os incêndios florestais na Grécia foram intensificados por uma onda de calor e ventos fortes durante o verão, devastando áreas próximas à capital, Atenas, e queimando cerca de 10 mil hectares.
As chamas que atingiram o país em agosto resultaram na morte de uma mulher e forçaram moradores de mais de 25 cidades e vilarejos a deixarem suas casas.
Nuvens escuras de fumaça chegaram a tomar o céu de Atenas e seus famosos pontos turísticos ao passo que o fogo se aproximou do subúrbio de Dionísio, a cerca de 23 km do centro da cidade.
Supertufão Yagi
O supertufão Yagi, fenômeno climático mais poderoso a atingir a Ásia neste ano, deixou um rastro de destruição em seis países, matando 603 pessoas e deixando outras 2.156 feridas.
O fenômeno se formou no início de setembro e atingiu primeiro as Filipinas, seguindo para China, Vietnã, Laos, Tailândia e Mianmar. O Vietnã foi o local mais afetado, com 325 mortes confirmadas e centenas de desaparecidos. Yagi foi a tempestade mais forte a atingir o país em 70 anos, causando graves inundações e deslizamentos de terra.
Estima-se que a tempestade tenha causado danos de mais de US$ 16,7 bilhões, tornando Yagi o terceiro tufão do Pacífico mais caro da história.
Furacão Helene
O furacão Helene se desenvolveu em 22 de setembro a partir de uma ampla área de baixa pressão no Mar do Caribe Ocidental e, quatro dias depois, atingiu a costa da Flórida, nos Estados Unidos, e seguiu para outros estados. Helene causou pelo menos 231 mortes, cerca de US$ 89 bilhões em prejuízos e deixou milhões de americanos sem energia.
Os estados mais afetados foram Flórida, Geórgia, Carolina do Norte e Carolina do Sul. O furacão foi o mais mortal a atingir o continente americano desde o Katrina, em 2005.
Incêndios em Portugal
Com mais de 100 incêndios florestais ativos em setembro, Portugal declarou estado de calamidade e mobilizou mais de 5 mil bombeiros para conter as chamas que se alastraram pelas regiões central e norte do país durante dias. Os incêndios causaram sete mortes e destruíram 10 mil hectares.
O país recebeu autorização por parte da Comissão Europeia para aceder a 500 milhões de euros dos fundos de coesão para cobrir o prejuízo dos incêndios.
Tempestade Boris
A Tempestade Boris, que atingiu a Europa Central e Oriental em setembro, deixou um rastro de destruição, com pelo menos 24 mortos e milhares de desalojados. Os países mais afetados foram Romênia, Polônia, Áustria, República Tcheca e Hungria.
Chuvas intensas, equivalentes a meses de precipitação em apenas alguns dias, provocaram enchentes que romperam barragens, isolaram comunidades e causaram danos massivos a infraestrutura e moradias. O volume de chuvas foi recorde em algumas regiões, como Jesenik, na República Tcheca, que recebeu 473 mm em apenas quatro dias.
Os danos econômicos foram estimados em bilhões de euros, com governos locais declarando estado de emergência e solicitando auxílio da União Europeia.
Enchentes na Espanha
As enchentes que devastaram a Espanha em 2024, classificadas como as piores do século, tiveram início no final de outubro, quando chuvas torrenciais, equivalentes a todo o volume de precipitação anual, caíram em apenas oito horas no sudeste do país. O desastre resultou na morte de cerca de 220 pessoas, sendo a grande maioria na região de Valência.
As enchentes também causaram danos severos à infraestrutura do país. A rede elétrica sofreu interrupções generalizadas devido à destruição de postes e cabos, enquanto os serviços de distribuição de gás natural foram suspensos por motivos de segurança, para evitar explosões ou vazamentos perigosos.
Além das perdas humanas e do impacto social, os prejuízos financeiros foram estimados como os mais altos da história do país, ultrapassando os danos das inundações de 1983.
Ciclone Chido
Estima-se que cerca de 1.000 pessoas tenham morrido após o ciclone Chido atingir Mayotte, um arquipélago francês, em meados de dezembro.
A tempestade foi considerada a mais forte no Oceano Índico em 90 anos, e moradores compararam o rastro de destruição aos efeitos de uma “bomba atômica”.
Mayotte é um departamento ultramarino da França e está espalhado por duas ilhas principais a cerca de 805 km da costa leste da África. O ciclone Chido também atingiu as ilhas próximas de Comores e Madagascar, além de Moçambique e Malawi.
O departamento francês tem uma população de pouco mais de 300 mil pessoas, um terço das quais são imigrantes irregulares, de acordo com o Ministério do Interior francês. Antes do ciclone, a região mais pobre do país já lutava por décadas contra a seca, falta de investimentos e violência de gangues.
Fonte: VEJA