A escalada de tensões recente entre Índia e Paquistão, com trocas de bombardeios que deixaram dezenas de mortos na Caxemira, tem potencial para causar mais uma guerra entre as potências nucleares.
Os países vizinhos têm um longo histórico de rivalidade desde a independência dos territórios, em meados do século 20. Entenda abaixo os conflitos que já envolveram os dois países e o contexto histórico para as diferenças vividas entre eles.
1947: Divisão em dois Estados
Em 15 de agosto de 1947, o vice-rei da Índia, Louis Mountbatten, anuncia o fim de dois séculos de dominação britânica.
A ex-colônia fica então dividida em dois Estados: Índia (maioria hindu) e Paquistão (maioria muçulmana). Quase 15 milhões de pessoas começam a se deslocar, os muçulmanos para o território paquistanês e hindus e sikhs para o território indiano.
A divisão também resulta em um milhão de mortes em tumultos e massacres.
No final de 1947, ocorre a primeira guerra pelo controle da Caxemira, uma região anexada à Índia.
Em 1948, uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) solicita um referendo sobre a autodeterminação, que não seguiu em frente devido à recusa da Índia.
Em 1º de janeiro de 1949, chega-se a um cessar-fogo ao longo de uma “linha de controle” de 770 quilômetros que dividia a Caxemira em duas partes: 37% sob administração paquistanesa (Azad-Kashmir) e 63% sob controle indiano (Estado de Jammu e Caxemira).
Apesar do acordo, os dois Estados continuam reivindicando a soberania sobre todo o território.
1965 e 1971: novas guerras
Entre agosto e setembro de 1965, o conflito foi retomado devido à invasão de mil separatistas apoiados pelo Paquistão na Caxemira indiana.
Esta segunda guerra, que deixou milhares de mortos de ambos os lados, terminou graças à mediação da União Soviética.
No início de 1971, o Paquistão envia tropas à parte leste de seu território, Bengala Oriental, para controlar um movimento separatista.
O conflito, com a intervenção do exército indiano, termina nove meses depois com a independência do território, região atual de Bangladesh.
1989: Revolta separatista
No final de 1989, insurgentes que exigiam a independência ou a anexação da Caxemira indiana ao Paquistão lançam uma luta armada contra o exército indiano. Milhares de hindus fogem.
Desde então, a Índia acusa o Paquistão de financiar e treinar os insurgentes, que continuam lutando contra cerca de 500 mil soldados indianos posicionados na região.
Até o momento, eles causaram dezenas de milhares de mortes, entre militares, rebeldes e civis.
1998-99: O conflito de Cargil
Em 1999, a Índia acusa o Paquistão de infiltrar combatentes islamistas e soldados paquistaneses na Caxemira indiana para assumir o controle do glaciar de Siachen, a mais de 5.000 metros acima do nível do mar.
Os combates deixaram mais de mil mortos, sobretudo na região de Cargil.
Em 1º de outubro de 2001, um ataque do lado de fora da Assembleia Regional da Caxemira indiana em Srinagar mata 38 pessoas. A Índia culpa o Paquistão.
Em 2002, os dois rivais pareciam estar à beira de uma quarta guerra, mas em abril de 2003 retomam as relações diplomáticas e alcançaram um cessar-fogo, embora as ações de guerrilha continuassem.
Atentados e tensões
Em 2008, vários ataques jihadistas deixam 166 mortos em Mumbai. A Índia culpa o Paquistão e interrompe o processo de paz iniciado quatro anos antes.
O diálogo é retomado em 2011 e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, visita o Paquistão em dezembro de 2015.
Em 2019, a Índia bombardeia o território paquistanês após um ataque que matou 40 de seus paramilitares em Pulwama (Caxemira indiana).
O Paquistão retalia e derruba um avião indiano.
O governo hindu ultranacionalista de Nova Déli revoga o status semiautônomo da região em agosto, onde milhares de opositores são presos.
Paquistão promete retaliação a recentes ataques indianos
O ministro federal da Informação do Paquistão, Attaullah Tarar, afirmou, nessa quarta-feira (7), (horário de local), que o país retaliou os recentes ataques da Índia e que três jatos e um drone indiano foram abatidos. “A Índia realizou ataques covardes contra civis inocentes e mesquitas no Paquistão, desafiando a honra e o orgulho dessa nação. Agora, estejam preparados. Esta nação responsabilizará o inimigo por cada gota de sangue de seus mártires. As Forças Armadas estão dando uma resposta esmagadora, exatamente de acordo com os sentimentos do povo. A nação inteira está unida em orações e solidariedade aos nossos bravos oficiais e soldados”, escreveu Tarar na rede X.
O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, condenou os ataques aéreos da Índia e disse o país “tem todo o direito de dar uma resposta firme” ao “ato de guerra imposto pela Índia”, que deixou pelo menos oito civis. Segundo o porta-voz do Exército paquistanês, Ahmed Chaudhry, duas pessoas estão desaparecidas, e o Exército indiano praticou “24 bombardeios” contra seu território. Entre as vítimas há “uma menina de 3 anos” falecida em uma mesquita na região fronteiriça de Punjab, a mais populosa do país. O Exército indiano, por sua vez, acusou Islamabad de “violar mais uma vez o cessar-fogo, ao realizar disparos de artilharia nos setores de Bhimber Gali e Poonch-Rajauri”, na Caxemira indiana.
A Índia bombardeou, nessa quarta-feira (7), num contexto de tensão máxima desde o atentado cometido na Caxemira indiana em 22 de abril. Desde que esse ataque armado resultou na morte de 26 homens na parte da Caxemira administrada pela Índia, a comunidade internacional temia novos confrontos entre as duas potências nucleares. A Caxemira é uma região de maioria muçulmana dividida entre Índia e Paquistão, disputada por ambos os países desde que se tornaram independentes do Reino Unido em 1947. O Paquistão convocará seu Comitê de Segurança Nacional, composto por autoridades civis e militares, anunciou o ministro da Informação, Ataullah Tarar.
Em meio a esses anúncios, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou esperar que os confrontos entre Índia e Paquistão “terminem muito em breve”. Pouco antes desses bombardeios, o Departamento de Estado dos Estados Unidos havia informado que convocou Índia e Paquistão a trabalharem por uma “resolução responsável” de seu conflito. Nova Délhi havia acabado de ameaçar “cortar a água” de vários rios que nascem em seu território e percorrem o Paquistão, em represália pelo atentado de 22 de abril. Um dia após esse ataque, a Índia suspendeu sua participação em um tratado assinado em 1960 com o Paquistão, que estabelece que ambos devem compartilhar o controle da bacia de seis rios da Caxemira que convergem em direção ao rio Indo, no Paquistão.
Fontes: AFP, Estadão e Jovem Pan