O chefe nuclear do Irã, Mohammad Eslami, afirmou que o país está avaliando os danos à sua indústria nuclear após a intensa campanha de bombardeios de Israel nos últimos 12 dias e os ataques dos Estados Unidos no final de semana. Segundo ele, providências foram tomadas para sua restauração.
“O plano é evitar interrupções no processo de produção e serviços”, disse Eslami, segundo a agência de notícias estatal iraniana Mehr News, alegando que Teerã tinha se preparado com antecedência para danos às suas instalações nucleares.
O programa nuclear do Irã sofreu sérios impactos com os bombardeios de Israel desde 13 de junho, especialmente na manhã de domingo (22), quando os Estados Unidos lançaram enormes munições “bunker buster” e dispararam mísseis contra três de suas instalações nucleares, juntando-se à campanha israelense.
Os ataques israelenses e americanos atingiram locais de enriquecimento de urânio e diversas instalações de pesquisa e desenvolvimento ligadas ao programa. Washington e Tel Aviv afirmaram que os bombardeios causaram danos significativos às ambições nucleares do regime dos aiatolás e atrasaram consideravelmente o país.
Na noite da segunda-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo entre Irã e Israel após os ataques, instando ambos os lados a “não violá-lo”. Ambos os países confirmaram o cessar-fogo, mas a trégua parecia frágil poucas horas após sua implementação, quando o Irã lançou dois mísseis em direção ao norte de Israel. Os israelenses retaliaram com um ataque a Teerã.
A agência de notícias iraniana ISNA afirmou que as acusações de que o Irã havia disparado mísseis após o início da trégua eram falsas.
O chefe da agência nuclear das Nações Unidas, Rafael Grossi, disse, nessa terça-feira (24), que havia escrito ao ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, para propor uma reunião e pediu cooperação após o anúncio do cessar-fogo.
Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), escreveu em uma publicação no X (antigo Twitter) que a retomada da cooperação do Irã com a agência poderia levar a uma solução diplomática para a longa controvérsia sobre o programa nuclear de Teerã.
Enquanto isso, a França saudou o anúncio de cessar-fogo de Trump, pedindo a “cessação completa das hostilidades”.
“É do interesse de todos evitar um novo ciclo de violência, cujas consequências seriam catastróficas para toda a região”, afirmou.
“O Irã jamais deve possuir armas nucleares”, continuou o comunicado francês. “Nesse sentido, a França insta o Irã a se envolver imediatamente em negociações que levem a um acordo que aborde todas as preocupações relacionadas aos seus programas nuclear e de mísseis balísticos e suas atividades desestabilizadoras.”
A declaração foi feita antes de Israel retaliar contra o Irã nessa terça-feira.
Acordo nuclear
Em 2015, um pacto abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, que autorizava o país a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.
Trump, porém, saiu do acordo unilateralmente em 2018. Segundo analistas, o movimento fez os iranianos acelerarem o avanço de seu programa nuclear, instalando milhares de centrífugas avançadas para enriquecer urânio.
Há duas semanas, a Agência Internacional de Energia Atômica denunciou que, pela primeira vez em 20 anos, a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, três meses após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumula cerca de 275 quilos de urânio enriquecido a 60%.
Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até meia dúzia de ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, deva levar ainda pelo menos um ano. (Teerã nega consistentemente que seu objetivo seja obter uma arma nuclear).
Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mirou instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, depois de alternar entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações, se juntou à campanha israelense com ataques diretos ao Irã no último sábado.
Desde o início do conflito, mais de 640 pessoas morreram no Irã e mais de 5 mil ficaram feridas. Entre as vítimas estão o alto escalão militar e cientistas nucleares.
Tel Aviv, por sua vez, afirmou que pelo menos 28 civis israelenses foram mortos por mísseis iranianos. Mais de 3 mil ficaram feridos.
Fonte: VEJA