O Tribunal de Paris considerou a líder da extrema-direita na França, Marine Le Pen, e outros oito eurodeputados de crime por desvio em fundos públicos da União Europeia. As sentenças são debatidas, mas já se sabe que ela está impedida de concorrer à presidência do país em 2027. No momento, ela lidera as pesquisas.
Ela está impedida de disputar qualquer cargo público durante cinco anos, segundo a sentença determinada. Além disso, os juízes também condenaram ela a quatro anos de prisão (dos quais dois são pena suspensa e outros dois sob regime domiciliar) e uma multa de 100 mil euros.
O advogado de Marine, Rodolphe Bosselut, afirmou que ela vai apelar da decisão do tribunal, de acordo com a agência de notícias Reuters. O apelo valeria para a multa e a condenação de prisão e não para a proibição da disputa de cargos.
Apesar da inelegebilidade, Le Pen não perderá seu assento no parlamento até que seu mandato termine.
Outros doze assistentes julgados também no processo foram considerados culpados de uso de bens roubados. Segundo o tribunal, o dano total teria fica em torno de € 2,9 milhões (em torno de R$ 18 milhões).
Todos os reús são acusados de usar fundos da UE em benefício de seu partido.
Le Pen e 24 outros colegas do seu partido, o Reagrupamento Nacional, são acusados de desviar dinheiro de assessores do Parlamento Europeu para pagar a quem trabalhava para o partido na época. Isso teria ocorrido em um período de quatro anos.
O caso inicialmente foi analisado pela polícia local, que depois enviou à Justiça. O procurador do Estado que fechou o processo, em novembro do ano passado, pediu pena de 10 anos de prisão, um impedimento de concorrer à cargos públicos durante cinco anos, além de uma multa de € 300 mil.
Ainda não se sabe se os três juízes vão seguir a proposta do procurador, entretanto, de acordo com a imprensa francesa, a expectativa é que isso ocorra.
Os culpados negam as acusações. Eles afirmam que teriam usado dinheiro de forma legítima e que tudo estaria dentro do escopo do que fazem os assistentes parlamentares.
O juíz Benedicte de Perthuis, no entanto, discordou em sua sentença:
“As investigações também mostraram que esses não foram erros administrativos… mas apropriação indébita na estrutura de um sistema estabelecido para reduzir os custos do partido”.
De acordo com ele, pesou para a decisão o risco da “grande perturbação da ordem pública”:
“O tribunal levou em consideração, além do risco de reincidência, a grande perturbação da ordem pública se uma pessoa já condenada… fosse candidata à eleição presidencial”.
Ainda não se sabe quais ou quantas pessoas receberam o dinheiro. Entretanto, de acordo com o processo, entre elas estão uma assistente pessoal de Le Pen e um guarda-costas.
Arnaud Benedetti, analista político que escreveu um livro sobre o partido, destacou para a Reuters que era um momento político decisivo e que reorganizava as forças políticas do país:
“Este é um evento político sísmico. Inevitavelmente, isso vai reorganizar o grupo, principalmente na direita”.
Aliados criticam
A sobrinha de Marine, Marion Marechal, afirmou que a única coisa no qual ela é culpada é colocar o “nosso acampamento no caminho da vitória” e ” por isso que ela foi condenada”:
“Ninguém da direita deve fingir estar satisfeito com essa decisão. Estou mais do que nunca ao lado de Marine Le Pen neste momento”.
Em resposta na sede do partido após a decisão, o líder Jordan Bardella afirmou nas redes sociais que:
“Hoje, não é apenas Marine Le Pen que está sendo injustamente condenada: é a democracia francesa que foi executada”.
Outro a comentar foi o presidente do partido também de extrema-direita Reconquista, Eric Zemmour:
“Não cabe aos juízes decidir em quem o povo deve votar. Quaisquer que sejam nossas divergências, Marine Le Pen tem legitimidade para se apresentar para a votação”.
Políticos europeus aliados de Marine também fizeram publicações em apoio a ela, como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán; o vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini; e o membro da Assembleia Nacional Francesa, Éric Ciotti.
Fonte: CBN