ARACAJU/SE, 12 de outubro de 2025 , 15:39:48

Lista Vermelha mostra mais de 25% das espécies ameaçadas de extinção

 

O derretimento do gelo marinho e o desmatamento continuam levando muitas espécies à extinção, com a mais recente Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas mostrando que mais de um quarto de todos os animais, plantas e fungos avaliados estão em risco.

Três espécies de focas do Ártico agora enfrentam extinção devido ao aquecimento global, enquanto metade das aves do planeta está em declínio devido à perda de habitat. No entanto, o retorno da tartaruga-verde demonstra como, com esforços coordenados de conservação, é possível reverter esse cenário.

A Lista Vermelha, produzida pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), é a avaliação global mais autorizada sobre o risco de extinção das espécies. Divulgada hoje no Congresso Mundial de Conservação da IUCN em Abu Dhabi, a base de dados atualizada inclui 172.620 espécies, das quais 48.646 estão ameaçadas de extinção.

“A Lista Vermelha registra sintomas de extinções”, disse Jon Paul Rodríguez, presidente da Comissão de Sobrevivência das Espécies da IUCN, em entrevista à CNN por videochamada durante a conferência. “É como um termômetro quando você está doente… você está medindo algo que indica que há algo errado; precisamos agir.”

“As forças por trás da degradação da biodiversidade são grandes, generalizadas e fortes”, acrescentou. “Mas não é que não saibamos o que fazer, é que somos poucos e com menos recursos do que o necessário.”

A pesquisa destaca a situação crítica das focas do Ártico, que dependem do gelo marinho para reprodução e criação de filhotes, além de usá-lo para descanso e acesso às áreas de forrageamento. Como o Ártico aqueceu quatro vezes mais rápido que o resto do mundo, o gelo marinho está recuando rapidamente. Como resultado, a foca-de-capuz está classificada como em perigo, e a foca-barbuda e a foca-da-groenlândia estão quase ameaçadas.

De acordo com a atualização, o afinamento do gelo marinho também ameaçará outras espécies de focas, morsas e mamíferos marinhos na região.

O impacto será mais amplo no ecossistema, afetando a cadeia alimentar, já que espécies como os ursos polares terão menos focas para caçar.

“Proteger as focas do Ártico vai além dessas espécies; trata-se de salvaguardar o delicado equilíbrio do Ártico, que é essencial para todos nós”, afirmou Kit Kovacs, copresidente do Grupo de Especialistas em Pinípedes da Comissão de Sobrevivência de Espécies da IUCN e líder de pesquisa em biodiversidade do Instituto Polar Norueguês, em comunicado.

A atualização também incluiu uma reavaliação significativa do estado das aves do mundo, que envolveu milhares de especialistas durante um período de nove anos. O estudo descobriu que 61% das espécies de aves estão em declínio globalmente, um aumento em relação aos 44% registrados em 2016. Isso se deve principalmente à perda e degradação de habitat, impulsionadas especialmente pela agricultura e desmatamento.

Madagascar, África Ocidental e América Central foram destacadas como regiões em risco devido à perda de floresta tropical. Algumas espécies ameaçadas, como o calau-de-capacete-preto, encontrado na África Ocidental e Central, também estão sob maior ameaça devido à caça e ao comércio ilegal de animais silvestres.

Os calaus são um exemplo fundamental do papel vital que as aves podem desempenhar no ecossistema mais amplo. Em algumas áreas, eles são coletivamente capazes de dispersar até 12.700 sementes grandes por quilômetro a cada dia, tornando-os cruciais para manter ecossistemas saudáveis e diversos e restaurar áreas degradadas. As aves também atuam como polinizadores, controladores de pragas e animais necrófagos.

Ian Burfield, coordenador científico global da BirdLife International, autoridade da Lista Vermelha da IUCN sobre aves, afirmou em comunicado que as descobertas mostram “quão profunda a crise da biodiversidade se tornou” e instou os governos a tomarem medidas firmes.

Um vislumbre de esperança

A nova pesquisa ofereceu um vislumbre de esperança, já que as populações de tartaruga-verde estão se recuperando graças aos esforços de conservação. Encontrada em águas tropicais e subtropicais em todo o mundo, a espécie agora é classificada como pouco preocupante, em vez de ameaçada de extinção, pois as populações aumentaram cerca de 28% desde a década de 1970.

Décadas de ações de conservação concentraram-se principalmente na proteção das fêmeas nidificantes e seus ovos, e na redução do comércio e da captura insustentável de tartarugas e seus ovos.

O relatório destaca os esforços na Ilha de Ascensão, Brasil, México e Havaí como particularmente bem-sucedidos, com algumas populações se recuperando a níveis próximos aos anteriores à exploração comercial.

No entanto, alerta que a espécie ainda não está totalmente segura, já que grande parte de seu habitat continua vulnerável ao desenvolvimento costeiro e marinho, além dos impactos das mudanças climáticas.

A Lista Vermelha é atualizada regularmente para renovar as avaliações existentes e incluir espécies analisadas pela primeira vez. A última atualização foi em março de 2025.

Rodríguez afirmou que o banco de dados é o primeiro passo para desenvolver estratégias de conservação e tomar ações. “Os recursos são limitados e precisamos priorizar. Temos que pensar em formas de investir o dinheiro de maneira inteligente onde terá o maior impacto, e a Lista Vermelha é uma peça fundamental de informação para isso”, disse ele.

O Congresso Mundial de Conservação da IUCN é realizado a cada quatro anos e representa uma oportunidade para líderes conservacionistas, acadêmicos, povos indígenas e tomadores de decisão do governo e empresas trabalharem juntos para melhorar o ambiente natural.

“Analisamos os maiores desafios enfrentados pela conservação em todo o mundo e tentamos construir sobre as forças e o conhecimento de todas essas vozes”, disse Rodríguez. “O que resulta do Congresso é uma boa medida do que o mundo sabe e quais são as prioridades.”

Agora, todas as atenções estão voltadas para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada no Brasil no próximo mês. “Vemos o clima e a biodiversidade como dois lados da mesma moeda: prejudicar a biodiversidade afeta o clima, melhorar a biodiversidade ajuda o clima”, acrescentou. “Esperamos que as mensagens que podemos produzir aqui influenciem as discussões e o pensamento das pessoas na COP do clima.”

Fonte: CNN Brasil

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