ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2025 , 20:05:31

Margaret Thatcher: 35 anos da queda da ‘Dama de Ferro’, no Reino Unido

 

Quando Margaret Thatcher atravessou o portão da residência oficial pela última vez, em 28 de novembro de 1990, tentou exibir serenidade. Diante dos fotógrafos e cinegrafistas que lotavam Downing Street, forçou um sorriso, declarou sentir-se orgulhosa dos “11 anos e meio maravilhosos” no comando do Reino Unido e garantiu que deixava o país em melhores condições do que encontrara. Mas seu semblante — tenso, quase trêmulo — contradizia cada palavra.

Menos de uma semana antes, ela havia sido pressionada a renunciar à liderança do Partido Conservador por não conseguir apoio suficiente para se manter na disputa interna. Era o fim abrupto de uma era que redefiniu a política britânica.

Thatcher não apenas virou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra; tornou-se a líder conservadora mais longeva do século 20, vitoriosa em três eleições gerais consecutivas. Sua presença moldou debates, transformou a economia e polarizou o país como poucos políticos o fizeram. Sua figura inspirava admiração fervorosa e rejeição intensa, alimentadas por um estilo de comando duro, centralizador e, muitas vezes, intimidante. Aos aliados, transmitia confiança; aos rivais, temor. No fim, esse mesmo modo de governar se converteu no pavio que acendeu sua queda.

O governo de Margaret Thatcher

A primeira rachadura pública surgiu após sua reeleição em 1987. Com o terceiro mandato garantido, Thatcher abraçou de vez a agenda que defendia havia anos: reduzir o papel do Estado, enfraquecer sindicatos e implementar mecanismos de austeridade fiscal. Nesse pacote, introduziu a polêmica taxa comunitária — o “imposto de capitação” — que exigia uma contribuição fixa de cada residente, independentemente da renda. Para os conservadores de regiões mais pobres, tratava-se de um desastre anunciado. Em março de 1990, a insatisfação explodiu em protestos massivos na Trafalgar Square, e o temor de perdas eleitorais começou a corroer sua imagem interna.

Mesmo fragilizada pela crise, Thatcher seguiu inflexível, especialmente em relação ao tema que mais tensionaria seu partido: a Europa. Sua postura cada vez mais hostil à integração europeia chocava-se com a ala moderada dos conservadores. Entre esses moderados, um nome se tornaria central: Geoffrey Howe. Um político conhecido pela discrição, comparado por adversários a “ser atacado por uma ovelha morta”, Howe ocupou cargos estratégicos nos primeiros anos de Thatcher. Mas, gradualmente, foi sendo esvaziado de poder e isolado.

A troca no comando do Ministério das Relações Exteriores, em 1989, marcou o início do rompimento definitivo. Quando Howe foi substituído por John Major e relegado a um posto decorativo de vice-primeiro-ministro, sentiu o golpe. A relação, já desgastada, desmoronou de vez em 30 de outubro de 1990, quando Thatcher, no Parlamento, rejeitou com veemência propostas europeias de centralização. O famoso “No, no, no!” ecoou como declaração de guerra interna. Dois dias depois, Howe renunciou — e preparou um discurso que ficaria para a história.

No pronunciamento, no início de novembro, usou metáforas do críquete para denunciar a postura da primeira-ministra, acusando-a de sabotar as negociações europeias. Sua fala terminou com uma conclamação indireta, porém clara, para que alguém dentro do partido assumisse a tarefa de enfrentá-la. Esse alguém surgiu rapidamente: Michael Heseltine, um desafeto histórico de Thatcher, que desde sua saída do cargo de secretário de Defesa aguardava a oportunidade de desafiá-la.

A disputa pela liderança foi imediata. No primeiro turno da votação entre parlamentares conservadores, Thatcher venceu, mas sem atingir a margem necessária para garantir sua permanência sem nova rodada. O fato de 152 deputados terem votado em Heseltine expôs o tamanho do descontentamento. Naquele momento, sua autoridade já estava irremediavelmente corroída.

Pressionada pelos aliados mais próximos, Thatcher retornou de uma conferência em Paris afirmando publicamente que continuaria a lutar. Mas, nos bastidores, enfrentava o que mais temia: o abandono gradual de seu gabinete. Convocando ministros um a um, ouviu repetidas variações da mesma mensagem: “Apoio você, mas não acredito que possa vencer”. O isolamento político era completo.

Na manhã de 22 de novembro, Thatcher reuniu o gabinete e anunciou que renunciaria. Testemunhas relataram uma cena carregada de emoção: a primeira-ministra chorou enquanto lia sua declaração, e alguns ministros também enxugaram as lágrimas. No entanto, muitos desses gestos soavam, para ela, como falsos. Dias depois, John Major seria eleito líder conservador e sucessor no cargo.

Ao deixar Downing Street, Thatcher acenou para a imprensa, dirigiu-se ao Palácio de Buckingham para sua última audiência com a Rainha Elizabeth II e seguiu para a nova residência no bairro de Dulwich. Voltou ao Parlamento no dia seguinte — incapaz de abandonar o trabalho. Mas nunca superou a sensação de golpe interno. “Foi uma traição com um sorriso no rosto”, disse em 1993. “Talvez essa tenha sido a pior parte”.

Assim terminou o reinado político de uma das figuras mais influentes — e controversas — do século 20, derrubada não por oposição direta, mas pelo esgotamento da própria máquina que a sustentou.

Fonte: Aventuras na História

 

 

 

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