O ex-presidente Evo Morales anunciou, nessa quinta-feira (20), sua candidatura para as eleições presidenciais de agosto na Bolívia, apesar da proibição imposta pela Justiça que o impede de concorrer. O líder indígena afirmou que disputará o pleito fora de seu partido histórico, o Movimento ao Socialismo (MAS), atualmente liderado por seu rival e presidente do país, Luis Arce.
“Já temos partido para participar das eleições deste ano”, declarou Morales em uma entrevista coletiva em Cochabamba, seu reduto político e sindical, de onde não sai desde 24 de outubro de 2024, e onde está protegido por seus apoiadores para evitar um mandado de prisão contra ele por um caso de tráfico de pessoas agravado. “Com a Frente para a Vitória, venceremos novamente as eleições nacionais (…) Quero que saibam que não há condicionantes, tudo aqui é para salvar a Bolívia”.
A declaração ocorre um dia antes de a ala do MAS próxima de Arce realizar um congresso para definir os mecanismos para eleger a dupla oficial, agora sem a participação de Evo Morales.
“Chegou a hora de dizer ao povo boliviano: o companheiro Evo será novamente presidente da República”, disse Eliseo Rodríguez, do FPV. “Portanto, o partido Frente para a Vitória estará aqui até que tomemos o poder, não importa o que aconteça. Estaremos com vocês”.
A Frente para a Vitória, um pequeno grupo de esquerda sem representação no Parlamento boliviano, assinou um acordo com Morales para impô-lo como seu “candidato único” à Presidência. Seu “companheiro de chapa para a vice-presidência” ainda será “acordado”, diz o documento, que foi lido por um porta-voz da aliança durante a coletiva transmitida pela Rádio Kawsachun Coca.
Morales assumiu o poder em 2006 e governou até 2019, após duas reeleições. No final de 2024, o tribunal constitucional manteve uma decisão que o impedia de concorrer, argumentando que nenhum boliviano pode exercer mais de dois mandatos presidenciais.
“Assumimos esse compromisso para seguir em frente com nosso país, que está falindo”, disse Rodríguez.
Em 2023, Evo e Arce, seu discreto ministro por mais de uma década, protagonizaram a mais recente ruptura entre antigos aliados na política latino-americana. E o roteiro foi quase idêntico a de outros afastamentos: um presidente escolhe seu sucessor, pavimenta sua ascensão à Presidência e, já instalado no poder, o protegido rompe com o mentor e se torna seu rival. Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos, na Colômbia; Rafael Correa e Lenín Moreno, no Equador; e Evo e Arce, na Bolívia.
Depois de sua tentativa fracassada de reeleição após 14 anos de mandato, Morales contou com o apoio de Arce para que o MAS recuperasse o poder em 2020. Desde seu breve autoexílio, o líder indígena atuou como chefe de campanha do atual presidente, que foi seu ministro da Economia de 2006 a 2019.
“Até 2019, no MAS, a liderança de Evo Morales era inquestionável”, opinou María Teresa Zegada, cientista política das universidades Católica e San Simón.
Segundo a analista, o próprio ex-presidente via Arce como um “substituto temporário, nunca o enxergou como um líder que pudesse disputar com ele o poder”. Em entrevistas, inclusive, seguia o tratando como “seu ministro e subordinado”.
Porém, Arce, que recebeu 55% dos votos, consolidou-se dentro do MAS como um líder tecnocrata, menos ideologizado e mais autoritário que Morales, de acordo com especialistas.
Fonte: O Globo