Robert H. Dennard, engenheiro que inventou a tecnologia de memória de silício que desempenha um papel indispensável em todos os smartphones, laptops e tablets, morreu em Sleepy Hollow, Nova York, Estados Unidos. Ele tinha 91 anos. A causa da morte, em um hospital, foi infecção bacteriana, disse sua filha, Holly Dennard.
O trabalho pioneiro de Dennard começou na IBM na década de 1960, quando o equipamento para manter e armazenar dados de computador era caro, pesado (muitas vezes, eram máquinas do tamanho de uma sala) e lento. Ele estava estudando o campo emergente da microeletrônica, que usava transistores à base de silício para armazenar bits digitais de informação.
Em 1966, Dennard inventou uma maneira de armazenar um bit digital em um transistor – uma tecnologia chamada memória dinâmica de acesso aleatório, ou DRAM (na sigla em inglês), que mantém a informação como uma carga elétrica que se desvanece lentamente com o tempo e deve ser atualizada periodicamente.
Sua descoberta abriu a porta para melhorias antes inimagináveis na capacidade de dados, com custos mais baixos e velocidades mais altas – tudo isso usando minúsculos chips de silício.
A DRAM tem sido a base do progresso constante nas décadas seguintes. Os chips de memória de alta velocidade e alta capacidade armazenam e transportam rapidamente os dados para o microprocessador de um computador, que os converte em texto, som e imagens. O streaming de vídeos no YouTube, a reprodução de músicas no Spotify ou no Apple Music e o uso de chatbots de inteligência artificial (IA) como o ChatGPT dependem deles.
“A DRAM tornou possível grande parte da computação moderna”, diz John Hennessy, presidente da Alphabet, a empresa controladora do Google.
Dennard também criou um conceito que serviu de roteiro para futuros avanços em microeletrônica. Apresentado em um primeiro artigo em 1972 e desenvolvido em outro dois anos depois, ele descreveu a física que permitiria que os transistores encolhessem e se tornassem mais potentes e mais baratos, mesmo que a energia consumida por cada um permanecesse quase constante.
O princípio, conhecido como escalonamento de Dennard, complementava uma previsão feita em 1965 por Gordon Moore, que viria a ser cofundador da Intel. Moore afirmou que o número de transistores que poderiam ser colocados em um chip de silício poderia dobrar a cada dois anos, e que a potência e a velocidade da computação seriam aceleradas nessa trajetória. Sua previsão ficou conhecida como Lei de Moore.
A Lei de Moore se referia à densidade de transistores em um chip, enquanto o escalonamento de Dennard se referia principalmente ao consumo de energia e, em 2005, atingiu seus limites: os transistores se tornaram tão pequenos que começaram a vazar elétrons, fazendo com que os chips esquentassem e consumissem mais energia.
Mas a abordagem de Dennard para identificar os desafios da tecnologia, segundo os pesquisadores, teve um impacto duradouro no desenvolvimento de chips.
“Todos no setor de semicondutores estudaram seus princípios para chegar onde estamos hoje”, diz Lisa Su, CEO da fabricante de chips Advanced Micro Devices e ex-colega de Dennard na IBM.
Robert Dennard nasceu em 5 de setembro de 1932, em Terrell, Texas, EUA, sendo o mais novo de quatro filhos. Seu pai, Buford Dennard, era fazendeiro de laticínios, e sua mãe, Loma Dennard, era dona de casa e também trabalhava no refeitório de uma escola.
A família mudou-se para o leste quando Robert era criança e ele começou a estudar em uma escola de uma sala só, perto de Carthage, Texas. Mais tarde, a família se mudou para Irving, uma cidade pequena, quando seu pai conseguiu um emprego em uma empresa de fertilizantes.
Enquanto crescia, Robert desenvolveu um apreço pelas artes, lendo as histórias de H.G. Wells e os poemas de Ogden Nash que sua irmã mais velha, Evangeline, havia deixado para trás quando partiu do Texas para ser enfermeira do Exército durante a Segunda Guerra Mundial. Em uma entrevista de história oral para o Museu da História da Computação em 2009, ele se lembrou de ter ouvido inúmeras vezes um álbum de operetas de Sigmund Romberg. “Ela me deixou algumas coisas muito boas para iniciar algum tipo de carreira intelectual”, disse ele sobre sua irmã.
No Ensino Médio, ele era um bom aluno, especialmente em matemática e inglês, e planejava ir para uma faculdade secundária próxima. Mas sua aptidão para a música ofereceu um caminho diferente. Ele tocava baixo em Mi bemol na banda do Ensino Médio e, quando o diretor da banda da Southern Methodist University o visitou, ofereceu a Robert uma bolsa de estudos.
“Essa foi a minha oportunidade”, lembrou Dennard.
Embora a música tenha sido seu ponto de partida, ele fez graduação e mestrado em engenharia elétrica na universidade. Mais tarde, obteve seu doutorado no Carnegie Institute of Technology, atual Carnegie Mellon University.
Em 1958, Dennard foi contratado pela IBM, onde passou toda a sua carreira até se aposentar em 2014.
Ele se casou três vezes. Ele e a primeira esposa, Mary Dolores (Macewitz) Dennard, se divorciaram em 1984 e, em 1995, ele se casou com Frances Jane Bridges. Além da filha e da esposa, Dennard tem outra filha, Amy Dennard, e quatro netos. Seu filho, Robert H. Dennard Jr., faleceu em 1998.
Ao longo de sua carreira, Dennard produziu 75 patentes e recebeu vários prêmios científicos, incluindo a Medalha Nacional de Tecnologia do presidente Ronald Reagan, em 1988, e o Prêmio Kyoto em tecnologia avançada da Fundação Inamori, no Japão, em 2019.
Na entrevista de 2009, quando perguntaram a Dennard que conselho ele daria a um jovem interessado em ciência e tecnologia, ele apontou para sua própria “educação muito humilde” e disse que “qualquer pessoa pode participar disso”.
Fontes: The New York Times e Estadão