O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (4), em Berlim, que não vai desistir da conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, apesar da mudança de governo na Argentina e das críticas do presidente da França, Emmanuel Macron.
“Só posso dizer para você que não vai ter assinatura (do acordo) na hora que terminar a reunião do Mercosul. Enquanto eu puder acreditar que é possível fazer esse acordo, eu vou lutar para fazer”, disse Lula a jornalistas ao lado do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.
“Porque, depois de 23 anos, se a gente não concluir o acordo, é porque eu penso que nós estamos sendo irrazoáveis com as necessidades que nós temos de avançar nos acordos comerciais, políticos e econômicos”.
“Eu não vou desistir, enquanto eu não conversar com todos os presidentes e ouvir o não de todos. Aí nós vamos partir para outra”, acrescentou.
Segundo Lula, a negociação passa por um “momento decisivo” durante a reunião da cúpula do Mercosul, que ocorre nos dias 6 e 7 de dezembro, no Rio de Janeiro. O Brasil preside o bloco, também formado por Argentina, Paraguai e Uruguai, até este mês.
Scholz afirmou, por sua parte, que tanto a Alemanha quanto o Brasil querem que o acordo entre os dois blocos seja concluído.
“Estou muito impressionado com o engajamento e a ambição do Brasil. Estou convencido de que será possível obter uma maioria nos dois órgãos, tanto no Conselho Europeu quanto no Parlamento Europeu. Peço a todos os envolvidos que deem uma prova de pragmatismo e celebrem o compromisso. Seria muito bom que o acordo saísse”, disse o chanceler alemão.
Sobre as críticas de Macron, Lula afirmou respeitar a posição do francês e lembrou que outros líderes da França foram contra o acordo. Disse também que tentou sensibilizar Macron. “Quando eu me despedi do presidente Macron, eu falei: ‘Quando você pegar o avião, que você sentar na sua cadeira no avião, abra o seu coração, converse com a sua esposa, e aceite fazer o acordo entre a União Europeia e o Mercosul'”, afirmou.
Lula também voltou a cobrar a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Defendeu ainda uma solução pacífica para o conflito entre Israel e o Hamas e para a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Acordo Mercosul-UE
O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia começou a ser negociado em 1999 e prevê, entre outras coisas, a isenção ou redução na cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.
Em 2019, durante a Presidência de Jair Bolsonaro, Mercosul e União Europeia assinaram o acordo.
No entanto, novas exigências ambientais europeias e a reação sul-americana a elas acabaram por reabrir a negociação.
Atualmente, o texto passa por uma fase de revisão técnica antes de ser submetido à ratificação pelos Parlamentos de todos os países envolvidos.
Se concluído, vai envolver 31 países, 720 milhões de pessoas e aproximadamente 20% da economia mundial.
Fonte: BBC News Brasil
Foto: RICARDO STUCKERT/PR