ARACAJU/SE, 19 de maio de 2025 , 19:37:19

Na Romênia, candidato centrista pró-Europa vence eleição presidencial e derrota direita

 

O prefeito centrista pró-europeu de Bucareste, Nicusor Dan, venceu nesse domingo (18) o segundo turno das eleições presidenciais romenas, segundo resultados quase definitivos, em uma reviravolta surpreendente em relação ao primeiro turno.

Dan, de 55 anos, obteve cerca de 54% dos votos após a apuração de 90% das urnas, frente aos 46% conquistados por seu rival nacionalista, George Simion, de 38 anos e fervoroso admirador do presidente norte-americano Donald Trump.

Simion, que inicialmente se recusou a reconhecer a derrota, parabenizou na noite de domingo o adversário. “Ele venceu as eleições, o povo romeno expressou sua vontade”, declarou em um vídeo publicado no Facebook.

No primeiro turno das eleições, em 4 de maio, Simion liderou com quase 41% dos votos, o dobro do que obteve o prefeito de Bucareste.

Contudo, muitos romenos se mobilizaram para mudar a tendência em uma eleição considerada crucial para o futuro europeu do país, vizinho da Ucrânia, cinco meses após a anulação excepcional de uma eleição por suspeitas de interferência russa.

A participação foi de quase 65%, contra apenas 53% no primeiro turno.

“A participação foi quase sem precedentes, marcada pelo crescimento dos defensores da democracia”, declarou à AFP o analista político Sergiu Miscoiu. “Nunca antes uma eleição foi tão decisiva, com repercussões geopolíticas evidentes”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou a escolha dos romenos em favor de uma “Europa forte”, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a “democracia” venceu “apesar das numerosas tentativas de manipulação”.

Na vizinha Ucrânia, Volodimir Zelensky celebrou a vitória “histórica” e ressaltou “a importância de contar com a Romênia como um parceiro confiável”.

Ucrânia no centro do debate

O cargo de presidente concede poderes para nomear postos-chave e participar das cúpulas da UE e da Otan.

A Romênia, um país de 19 milhões de habitantes membro da UE, tornou-se um pilar essencial da Aliança Atlântica desde o início da invasão russa.

“Não podemos nos dar ao luxo de nos afastar do caminho europeu”, comentou nas ruas de Bucareste Luminita Toader, uma aposentada de 82 anos, que teme que seu país “olhe para o leste”.

Nicusor Dan, matemático de formação, é um europeu convicto e fervoroso defensor de Kiev.

Sua personalidade reservada, que lhe rendeu críticas durante a campanha eleitoral, contrasta com o temperamento explosivo de seu rival Simion, um ex-torcedor violento que nos últimos meses tentou suavizar seu discurso.

O ultradireitista, muito crítico das “políticas absurdas da UE” e dos “burocratas sem rosto”, quer o fim da ajuda militar à Ucrânia e exige “uma compensação financeira” pelo apoio prestado até agora.

Bucareste abriu um centro de treinamento para pilotos de caça ucranianos e doou a Kiev um sistema de defesa antiaérea Patriot, além de fornecer apoio logístico para a exportação de cereais por meio do porto romeno de Constanta, no mar Negro.

Ingerências

“Devolver a dignidade à Romênia”: o lema de Simion convenceu muitos eleitores, cansados de serem considerados cidadãos de segunda classe no bloco europeu.

O ultradireitista também capitalizou a frustração de parte da população com os mesmos “políticos corruptos” no poder desde 1989 e a indignação com a alta inflação e as dificuldades econômicas em um dos países mais pobres da UE, segundo depoimentos colhidos pela AFP.

Um ambiente explosivo que, em 24 de novembro, já havia impulsionado à vitória o ultradireitista Calin Georgescu, um candidato quase desconhecido que protagonizou uma campanha massiva no TikTok, marcada por suspeitas de interferência russa.

Após essas eleições, o ex-alto funcionário foi indiciado e excluído desta nova disputa eleitoral, decisão que provocou manifestações, por vezes violentas.

Na saída das seções eleitorais, muitos expressaram a esperança de que o atual pesadelo chegue ao fim. “Tem sido um caos na Romênia” desde a anulação das eleições, disse Runa Petringenaru, organizadora de seminários de 55 anos.

Mais uma vez nesse domingo, as autoridades romenas denunciaram uma “campanha viral de desinformação” nas redes sociais destinada a “influenciar o processo eleitoral” e que traz “mais uma vez as marcas da ingerência russa”.

Essa declaração foi feita pouco depois de uma mensagem do fundador do Telegram, Pavel Durov, na qual ele acusava a França – sem nomeá-la diretamente – de tentar interferir nas eleições, o que foi categoricamente negado por Paris.

Fonte: AFP

Você pode querer ler também