ARACAJU/SE, 24 de novembro de 2024 , 12:30:49

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ONU: mortes por violência de gangues aumentam no Haiti neste ano, chegando a mais de 1,5 mil

 

A violência provocada por gangues no Haiti já tirou a vida de mais de 1.500 pessoas desde o início do ano, incluindo crianças. Algumas dessas mortes foram causadas por linchamentos, apedrejamentos e queimaduras, de acordo com relatório divulgado nesta semana pelo escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Fatores estruturais e conjunturais levaram o Haiti a uma situação cataclísmica, caracterizada por uma profunda instabilidade política e instituições extremamente frágeis”, diz o texto.

O Haiti enfrenta uma crise profunda na política e na segurança pública pelo menos desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, em sua própria casa. No início de março, porém, a situação tornou-se insustentável, com gangues unindo forças para atacar locais estratégicos da capital, Porto Príncipe, e exigindo a renúncia do então primeiro-ministro, Ariel Henry.

O premiê assumiu o cargo cerca de duas semanas após a morte de Moïse, que o tinha indicado ao posto. Dois meses depois, ao ser acusado pela Procuradoria-Geral de ter participado do crime, demitiu o responsável pela denúncia e adiou indefinidamente as eleições.

Seu governo vinha atuando interinamente desde então —mas não sem a oposição da população local, que o considera um político corrupto cuja ascensão ao poder foi ilegítima. No início de março, Henry viajou para Nairóbi para finalizar um acordo para que forças de segurança lideradas pelo Quênia fossem enviadas ao Haiti.

Durante sua ausência, gangues fecharam o aeroporto, saquearam portos, atacaram uma dezena de delegacias de polícia e libertaram mais de 4.000 detentos. Pressionado internamente e pela comunidade internacional, Henry anunciou sua saída do cargo em 11 de março.

“É chocante que, apesar do horror da situação, as armas continuem chegando. Pedimos mais eficácia na implementação do embargo de armas”, afirmou Volker Türk, o alto comissário da ONU para os direitos humanos, na apresentação do relatório.

O documento cita 4.451 mortes ocorridas em território haitiano no ano passado e 1.554 até 22 de março deste ano. Algumas pessoas foram assassinadas por gangues em suas casas, em represália a seu suposto apoio à polícia ou a organizações rivais. Outras foram mortas na rua por atiradores ou em tiroteios. Uma das vítimas era um bebê de três meses.

Enquanto isso, brigadas armadas que preenchem o vácuo de segurança deixado pela polícia lincharam 528 pessoas que elas suspeitavam ter vínculos com gangues no ano passado, e 59 neste ano.

Crianças estão sendo recrutadas para integrar os grupos armados: meninos são usados como vigias durante roubos e sequestros, e meninas realizam trabalhos domésticos. Alguns dos menores que tentaram escapar foram executadas.

Na quarta-feira (27), aquele que será o futuro conselho presidencial do Haiti se manifestou pela primeira vez. Em um documento, ele prometeu restaurar a “ordem pública e democrática” na nação caribenha — a ideia é que o órgão funcione como uma espécie de governo de transição, abrindo caminho para as primeiras eleições no país desde 2016.

“Estamos determinados a aliviar o sofrimento do povo haitiano, que há muito tempo está preso entre a má administração de governos, a violência e o desrespeito pelas suas perspectivas e necessidades”, diz o comunicado.

“Assim que for instalado, o conselho presidencial nomeará um primeiro-ministro, com quem formará um governo de unidade nacional e devolverá o Haiti ao caminho da legitimidade democrática, estabilidade e dignidade”, prossegue o texto.

As negociações para criação do conselho foram intermediadas por líderes da Comunidade do Caribe (Caricom) e pelo chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken.

Apesar da escalada recente, a crise no Haiti vem de séculos, desde a independência da França, em 1804. Depois de uma série de sucessão de governos no século XIX derrubados por revoltas ou assassinatos, o país foi dominado pela ditadura violenta de François “Papa Doc” Duvalier e seu filho, Jean-Claude “Baby Doc”, até meados dos anos 1980.

Fonte: Folha de S.Paulo

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