Conforme dados do Observatório de Jornalistas Assassinados, vinculado à Unesco, ao menos 68 jornalistas e profissionais da imprensa foram mortos enquanto desempenhavam suas funções em 2024.
O relatório, divulgado no último dia 12 de dezembro, destacou o impacto dos conflitos armados na profissão, revelando que aproximadamente 60% dos assassinatos ocorreram em territórios em guerra — a maior proporção registrada em mais de uma década.
A Palestina foi o país com o maior número de jornalistas assassinados, totalizando 18 profissionais, seguida pela Ucrânia e Colômbia, com quatro cada. Outros casos ocorreram no Iraque, Líbano, Mianmar e Sudão, onde três jornalistas foram mortos em cada país, enquanto a Síria, Chade, Somália e República Democrática do Congo registraram uma morte cada.
Ao todo, 42 trabalhadores da imprensa foram assassinados em áreas de conflito. Segundo a Unesco, esses dados refletem uma tendência identificada em 2023, com um aumento significativo de mortes desses profissionais relacionadas a conflitos nos últimos dois anos.
“Informações confiáveis são vitais em situações de conflito para ajudar populações afetadas e esclarecer o mundo”, disse Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, em comunicado. “É inaceitável que jornalistas paguem com suas vidas por esse trabalho. Apelo a todos os Estados para que se manifestem e garantam a proteção dos trabalhadores da mídia, de acordo com o direito internacional”.
Melhora em relação a anos anteriores
Embora as áreas de conflito representem uma preocupação crescente, especialmente devido à intensificação dos combates em Gaza e à guerra na Ucrânia, o relatório destaca uma redução significativa nas mortes de jornalistas em regiões sem conflitos: foram 26 óbitos nesses locais — o menor número em 16 anos.
De maneira geral, o número de indivíduos da imprensa mortos em 2024 foi o mais baixo em comparação com os levantamentos anteriores. Em 2022, 88 profissionais perderam a vida, enquanto em 2023 foram 74.
Segundo especialistas, essa diminuição pode indicar a implementação de políticas voltadas para a proteção de jornalistas durante períodos de paz, particularmente em locais que anteriormente enfrentavam altos índices de violência contra profissionais da mídia. A América Latina se destacou nesse aspecto, com os assassinatos da imprensa caindo de 43 em 2022 para 12 em 2024.
Como os dados foram levantados?
Esses dados são estimativas feitas pela própria Unesco, que coleta informações de organizações internacionais de liberdade de imprensa e governos para compilar seu relatório. O processo começa quando um caso suspeito é sinalizado à Secretaria da organização, por exemplo, por um Estado-membro ou um observador especializado. O incidente é então registrado em uma lista interna para monitoramento e uma rigorosa verificação.
A Unesco realiza esse processo por meio de diversas fontes para confirmar que a morte esteja de fato relacionada ao trabalho do jornalista. No entanto, devido à dependência de relatos externos, o número de mortes pode ser sub notificado. Além disso, ainda existem dezenas de casos que aconteceram em 2024 que permanecem sob revisão.
O monitoramento dos assassinatos contra a imprensa é realizado desde 1993. Atualmente, o Observatório oferece em seu site dados sobre o andamento judicial dos casos, as respostas dos países às solicitações da Unesco por informações e uma lista completa de todos os jornalistas mortos desde o início do acompanhamento. Estima-se que 1.728 profissionais já tenham perdido a vida enquanto exerciam a profissão, sendo 54 desses no Brasil.
Além disso, a Unesco acompanha as diversas formas de censura ao trabalho jornalístico, assim como as ameaças dirigidas à profissão. O relatório também revelou um aumento de 42% nos ataques a jornalistas que reportavam questões ambientais entre 2019 e 2024, além do uso crescente de acusações financeiras falsas para descreditar a profissão.
Fonte: Galileu