ARACAJU/SE, 9 de setembro de 2025 , 22:01:05

Primeiro-ministro comunista do Nepal renuncia após protestos contra bloqueio de redes sociais e corrupção

 

O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou ao cargo nesta terça-feira (9), pressionado pelos amplos protestos populares que se espalharam pelo país contra restrições impostas pelo governo às redes sociais e contra a corrupção no serviço público. A renúncia ocorre um dia após confrontos entre manifestantes e policiais terminarem com 25 — e no mesmo dia que novos atos foram convocados, incluindo um que colocou fogo no Parlamento. Nesta terça-feira, a mulher de um ex-premier morreu quando a casa onde ela vivia foi incendiada pela multidão.

“Renunciei ao cargo de primeiro-ministro com efeito a partir de hoje (…) com o objetivo de dar novos passos em direção a uma solução política e à resolução dos problemas”, afirmou o experiente premier de 73 anos, em carta dirigida ao presidente.

Em seu quarto mandato como primeiro-ministro, o líder do Partido Comunista enfrentava um cenário interno turbulento, com crescente descontentamento popular com a instabilidade política, corrupção e o baixo crescimento econômico — o índice de desemprego se aproxima de 10%, e o PIB per capita é de apenas 1.447 dólares, segundo dados do Banco Mundial. O fator decisivo, porém, foi a resposta colérica à queda de braço entre o governo e gigantes da tecnologia.

A crise começou a se formar na quinta-feira (4), quando o governo determinou o bloqueio de 26 redes sociais em seu território, incluindo Facebook, X, LinkedIn e YouTube, por não terem registro perante a administração federal. O tema já havia sido deliberado pela Suprema Corte do país em 2023, mas as empresas nunca fizeram o registro ou designaram representante local e encarregado de gerir possíveis litígios.

A proibição provocou revolta em setores sociais, sobretudo nos mais jovens — algo significativo em um país que tem 43% da população entre 15 e 43 anos. A partir de sexta-feira (5), vídeos contrapondo as dificuldades dos nepaleses comuns e a vida luxuosa dos filhos de políticos, ostentando bens de luxo, foram amplamente compartilhados no TikTok, uma das redes que não foi bloqueada. Na segunda-feira (8), manifestantes tomaram as ruas de Katmandu e outras cidades.

O principal ato na capital foi duramente reprimido pela polícia. Relatos iniciais deram conta do uso de balas de borracha, gás lacrimogêneo, canhões de água e cassetetes contra os populares, quando eles tentaram entrar em uma área proibida perto do Parlamento. A Anistia Internacional, posteriormente, denunciou o uso de munição letal.

Dezenove pessoas morreram, segundo os dados oficiais do governo. Um porta-voz da polícia citou 400 feridos, entre civis e policiais.

“Não se trata apenas de redes sociais — trata-se de confiança, corrupção e de uma geração que se recusa a ficar em silêncio”, escreveu o jornal Kathmandu Post. “A Geração Z cresceu com smartphones, tendências globais e promessas de um Nepal federal e próspero. Para eles, liberdade digital é liberdade pessoal. Cortar o acesso é como silenciar uma geração inteira”.

Diante da crise, o governo suspendeu a proibição de acesso às plataformas, que o ministro da Comunicação, Prithvi Subba Gurung, definiu como uma das “demandas da Geração Z”. Três ministros ofereceram suas renúncias antes do premier, o que não foi suficiente para conter os protestos — com cenas de violência sendo registradas nesta terça-feira.

Autoridades de segurança afirmaram que casas de políticos e prédios de governo foram alvo de vandalismo, incluindo a residência do primeiro-ministro. Um dos locais atacados foi a residência do ex-premier Jhala Nath Khana, que comandou o país por alguns meses em 2011: segundo autoridade nepalesas, a mulher dele, Ravi Laxmi Chitrakar, estava no local e sofreu queimaduras graves. Ela chegou a ser levada para o hospital em estado crítico, mas não resistiu aos ferimentos.

Prédios públicos também foram cercados pelos manifestantes, algums armados com rifles de assalto, como relatou um repórter da AFP. Um grupo ateou fogo no Parlamento do Nepal, que ficou coberto de nuvens de fumaça.

“Centenas invadiram a área do parlamento e incendiaram o prédio principal”, disse Ekram Giri, porta-voz da Secretaria do Parlamento.

Por causa da fumaça causada pelos incêndios, o aeroporto internacional de Kathmandu precisou suspender as operações, e o site de monitoramento aéreo Flightradar24 mostra que as chegadas previstas para as próximas horas foram canceladas, e alguns voos foram redirecionados para a Índia.

Em entrevista ao serviço nepalês da rede BBC, Gyanendra Bhul, porta-voz da administração da aviação civil do país, disse que os voos domésticos foram praticamente todos suspensos, uma vez que “os aeroportos fora da capital do Nepal não conseguiram garantir”. Em um deles, em Bhairahawa, próxima à fronteira com a Índia, os manifestantes invadiram o aeroporto internacional e atearam fogo a veículos do governo, informou o portal Hindustan Times.

Fonte: O GLOBO

 

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