O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu neste sábado (9) telefonema do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Na ligação, que durou cerca de 40 minutos, Putin compartilhou informações a respeito de suas discussões em curso com os Estados Unidos e sobre a guerra com a Ucrânia.
Putin deve se encontrar com o presidente americano, Donald Trump, no próximo dia 15 no Alasca para tratar do conflito no país europeu. De acordo com o jornal americano Wall Street Journal, os dois presidentes pretendem discutir uma proposta russa que pede o leste da Ucrânia em troca do fim do conflito.
Na ligação deste sábado, segundo nota do governo brasileiro, o russo “agradeceu o empenho e interesse do Brasil nesse tema e Lula enfatizou que o Brasil sempre apoiou o diálogo e a busca de uma solução pacífica”. Ainda de acordo com o Planalto, o brasileiro “reafirmou que o seu governo está à disposição para contribuir com o que for necessário, inclusive no âmbito do Grupo de Amigos da Paz, lançado por iniciativa de Brasil e China”.
O governo brasileiro informou que os presidentes também discutiram o atual cenário político e econômico internacional.
“Falaram sobre a cooperação entre ambos os países no âmbito do Brics O presidente Putin parabenizou o Brasil pelos resultados da Cúpula do Brics realizada nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. Na esfera bilateral, reforçaram a intenção de organizar a próxima edição da Comissão de Alto Nível de Cooperação Brasil-Rússia ainda este ano”, conclui a nota.
Em comunicado, o Kremlin também confirmou a conversa entre os líderes e disse que Lula “expressou seu apoio aos esforços destinados a ajudar a resolver a crise na Ucrânia”.
“Os presidentes confirmaram sua disposição mútua de continuar fortalecendo a parceria estratégica entre a Rússia e o Brasil, bem como sua cooperação no âmbito do BRICS”, afirmou a nota.
Além de Lula, Putin também realizou ligações telefônicas recentemente com o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, bem como com os líderes da África do Sul, Uzbequistão, Cazaquistão e Bielorrússia para compartilhar detalhes de sua reunião de 6 de agosto com o enviado de Trump, Steve Witkoff, em Moscou, de acordo com o Kremlin.
A última vez que Lula e Putin se reuniram pessoalmente foi em 9 de maio deste ano, em Moscou, para celebrar o Dia da Vitória sobre a Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial.
Encontro com Trump
A reunião entre Putin e Trump foi anunciada na última quinta-feira e deve ocorrer sem a presença do líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Na véspera do anúncio, a imprensa americana relatou que Trump planejava um encontro entre as três partes, excluindo a participação de líderes europeus que têm reivindicado se envolver nas tratativas.
O encontro entre o americano e o russo ocorre em meio à crescente pressão da Casa Branca para que Moscou aceite um cessar-fogo imediato na Ucrânia, que envolve a ameaça de tarifas econômicas e sanções à Rússia e parceiros comerciais. Caso realmente ocorra, será a primeira cúpula entre presidentes dos EUA e da Rússia desde 2021, quando o então presidente Joe Biden se reuniu com Putin em Genebra.
Na última quarta-feira, Putin recebeu o enviado especial de Trump, o empresário Steve Witkoff, para uma reunião de quase três horas no Kremlin. Durante a reunião, Witkoff sugeriu a possibilidade de um encontro trilateral com Zelensky, mas o Kremlin indicou priorizar que a reunião entre Trump e Putin “seja bem-sucedida e produtiva”.
A Rússia demanda que a Ucrânia ceda toda a sua área oriental de Donbass, bem como a Crimeia, que as forças do Kremlin anexaram ilegalmente em 2014. Isso exigiria que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ordenasse a retirada de tropas de partes das regiões de Luhansk e Donetsk ainda controladas por Kiev, dando à Rússia uma vitória que seu exército não conseguiu alcançar militarmente desde o início da invasão em larga escala em fevereiro de 2022.
Tal resultado representaria uma grande vitória para Putin, que há muito busca negociações diretas com os EUA sobre os termos para encerrar a guerra que ele iniciou, deixando a Ucrânia e seus aliados europeus de lado. Zelensky corre o risco de receber um acordo de “pegar ou largar” para aceitar a perda de território ucraniano, enquanto a Europa teme ficar à mercê de um cessar-fogo enquanto Putin reconstrói suas forças.
Segundo os termos do acordo que as autoridades estão discutindo, a Rússia interromperia sua ofensiva nas regiões de Kherson e Zaporíjia, na Ucrânia, ao longo das atuais linhas de batalha, disseram as fontes. Elas alertaram que os termos e planos do acordo ainda estão em andamento e podem sofrer alterações.
Não está claro se Moscou está preparada para abrir mão de qualquer terra que ocupa atualmente, o que inclui a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa.
O acordo visa essencialmente congelar a guerra e abrir caminho para um cessar-fogo e negociações técnicas sobre um acordo de paz definitivo, disseram as fontes. Os EUA já haviam pressionado a Rússia a concordar primeiro com um cessar-fogo incondicional para abrir espaço para negociações sobre o fim da guerra.
Fonte: O Globo