O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou decreto, nessa segunda-feira (16), determinando a terceira expansão de suas Forças Armadas desde que invadiu a Ucrânia, em 2022.
Se completada a meta, a Rússia terá 1,5 milhão de militares em serviço ativo, constituindo o segundo maior contingente do mundo depois da China, que tem 2,035 milhões segundo o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres).
O número aumenta em 180 mil o pessoal fardado ante o nível atual, que foi alcançado após 307 mil vagas serem abertas em duas rodadas nos últimos dois anos. É quase o total do efetivo brasileiro, de 367 mil militares. Em 2023, ele não estava completo: havia, segundo o IISS, 1,1 milhão de soldados de Putin.
Hoje, depois da China, as maiores forças em termos de pessoal são as da Índia (1,47 milhão), Estados Unidos (1,32 milhão) e Coreia do Norte (1,25 milhão). A pequena ditadura de Kim Jong-un é a mais militarizada, tendo apenas 26,5 milhões de habitantes, ante os 1,3 bilhão dos chineses, por exemplo.
O contingente total de pessoal sob o Ministério da Defesa russo será de 2,38 milhões de funcionários, incluindo aí os combatentes. Em termos de gasto militar, a Rússia ficou em 2022 atrás da China, que tem um orçamento de defesa duas vezes maior do que o do aliado, e dos EUA, que gasta oito vezes mais que Moscou.
O anúncio não contempla nenhum tipo de mobilização. Segundo o decreto, o número deve ser atingido por meio do serviço militar anual, voluntários e soldados profissionais sob contrato.
Na única mobilização de reservistas que fez, no fim de 2022, Putin conseguiu os cerca de 300 mil homens que precisava, mas enfrentou uma dura resistência à impopular medida, até com raros protestos contra seu governo.
Aquilo, e o emprego de forças mercenárias, estabilizou a situação na Ucrânia após a invasão falhar em subjugar o vizinho rapidamente. Além de erros táticos e logísticos, a falta de mão de obra no ataque com 200 mil militares foi um dos motivos apontados por observadores pelo fracasso.
Agora, o problema está com a Ucrânia. Com a lei marcial, o país foi de 200 mil para 800 mil combatentes de 2022 parar cá, mas tem tido dificuldades em manter as rotações na linha de frente. Novas regras tentam ampliar a mobilização.
A medida de Putin vai em linha com a crescente militarização da sociedade russa, país com 146 milhões de moradores, incluindo aí os 2 milhões de habitantes da Crimeia, anexada em 2014.
A retórica belicista foi às alturas com a guerra, que é apresentada pelo Kremlin como uma disputa existencial entre Moscou e o Ocidente, que sustenta as forças de Kiev com armas e logística.
A tensão atingiu um ponto paroxístico na semana passada, com Putin ameaçando uma guerra com a aliança militar liderada pelos EUA, a Otan, caso armas de longo alcance ocidentais sejam empregadas conta alvos distantes na Rússia.
Por ora os EUA e aliados como a Alemanha se negam a permitir tal uso, mas há uma pressão constante do presidente Volodimir Zelenski e de países europeus menos preocupados com o risco de uma escalada potencialmente nuclear da crise, como Reino Unido, Polônia e Estados Bálticos.
O tema deverá ser cozinhado até a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na semana que vem. Há a expectativa de que essa linha vermelha, como outras anteriores, seja de algum modo cruzada. Anteriormente, o Kremlin também protestou, mas ao fim blindados, tanques, sistemas antiaéreos e até alguns caças foram dados a Kiev.
Enquanto isso, os combates seguem na Ucrânia, com 53 de 56 drones lançados pelos russos nesta madrugada sendo derrubados, segundo Kiev. Também nesta segunda acaba o maior exercício militar da Marinha russa desde a Guerra Fria, que mobilizou 90 mil militares e quase toda a frota do país.
Fonte: Folha de S.Paulo