A relatora especial da ONU para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados Francesca Albanese revelou, em entrevista à agência RFI, divulgada no último domingo (25), que as mulheres que estão na Palestina estão mais vulneráveis e sendo submetidas a estupro, ameaças sexuais e tortura.
Albanese definiu que a situação das mulheres na Palestina “é muito violenta, sob todos os pontos de vista”. “Recebemos queixas direta ou indiretamente, ou seja, também através de advogados que trabalham na área dos direitos humanos na Palestina, relacionadas com tortura, ameaças sexuais e estupro”, acrescentou. Isso porque, segundo ela, as vítimas e testemunhas correm grandes riscos ao relatar os casos.
Vale destacar que, em 19 de fevereiro deste ano, especialistas da ONU relataram acusações de violência – especialmente as sexuais – contra mulheres e meninas palestinas em Gaza e na Cisjordânia, cometidas pelas forças de Israel. Com isso, foi exigida uma “investigação independente e imparcial”, e o território israelense foi pressionado a cooperar.
“Entre as mulheres que foram presas ou bloqueadas, estavam médicas, enfermeiras, jornalistas, ninguém foi poupado”, disse Albanese.
Ela defende que os maus-tratos e tortura dos prisioneiros palestinos em Israel se intensificaram ainda mais após o dia 7 de outubro, quando o conflito entre o Estado de Israel e Hamas iniciou. “Já havia uma forte desumanização dos palestinos antes do 7 de outubro. Mas nesta data, o Exército israelense abandonou todas as restrições. Centenas de mulheres foram capturadas em Gaza entre os 3 mil prisioneiros, especialmente quando o exército israelense entrou no norte de Gaza. Consideram terroristas todas as pessoas que não obedeceram à ordem de evacuação forçada”, justificou.
E acrescentou: “Entre as mulheres que foram presas ou bloqueadas, estavam médicas, enfermeiras, jornalistas, ninguém foi poupado. Elas foram expostas, submetidas a revistas corporais por soldados homens. Não é normal”.
Albanese ainda conta que, em alguns casos, mulheres foram obrigadas a assistir à execução das suas famílias. Além disso, afirmou que chegaram a ser fotografadas nuas e em posições “muito embaraçosas e degradantes” quando foram presas.
Relatora da ONU foi banida de Israel e não pode participar de investigação
“Houve muitas reclamações, ameaças de estupro, como: ‘Vamos estuprar você, suas irmãs e sua mãe’ etc. Mas também houve estupros. Isso não é algo que acontece apenas com as mulheres. Existem também situações de violação contra homens”, disparou.
A relatora da ONU defende que uma comissão independente deve realizar uma investigação a respeito dos crimes cometidos no território ocupado e em Israel. No entanto, a mesma não poderá participar, visto que Israel proibiu sua entrada no território, no dia 12 de fevereiro, alegando que Albanese fez comentários que as autoridades israelenses consideraram “antissemitas”.
“É necessário garantir que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha entre em todos os centros de detenção e também que os direitos dos palestinos sejam respeitados”, concluiu Albanese.
Cerca de 30 mil palestinos foram mortos na Faixa de Gaza desde o início do conflito em represália aos ataques do Hamas a Israel. Quase 13 mil deles são crianças e 70% das vítimas são mulheres e crianças.
Fonte: Revista Marie Claire