A Dinamarca testemunha, de olhos vidrados, o início de um novo e curioso capítulo na história da realeza do país neste domingo (14). Frederik X, de 55 anos, assume o trono das mãos da mãe, rainha Margrethe II, e se torna rei – um cargo que via com maus olhos na adolescência, quando pensava em escapar do já traçado destino.
“Achei que era muito desconfortável”, desabafou, numa entrevista em 1996. “Você sabia que seria tão público, tão conhecido, tão acessível a todos e tão retratado. Eu não gostei disso”.
Currículo de excelência
Passada a timidez da infância, o príncipe assumiu com responsabilidade os deveres da coroa. Ele, que é fluente em inglês, francês e alemão, formou-se na Universidade de Aarhus, onde também completou um mestrado em Ciências Políticas. Os estudos, inclusive, o levaram a Harvard, prestigiada universidade nos Estados Unidos.
Para aprender sobre diplomacia, Frederik ocupou cargos na Embaixada da Dinamarca em Paris e na missão da Dinamarca nas Nações Unidas, em Nova York. Ele demonstrou particular interesse em questões relacionadas ao meio ambiente e à mudança climática – uma paixão compartilhada pelo, até então, príncipe Charles III, no Reino Unido, hoje rei.
O primeiro na linha de sucessão recebeu, ainda, treinamento militar em diferentes ramos das Forças Armadas. Por lá, apesar da participação em uma unidade naval de elite, recebeu o apelido de “Pingo”, por ter cambaleado como pinguim após sua roupa de neoprene ter ficado encharcada.
Anúncio-surpresa
A rainha Margrethe fugiu do roteiro esperado no tradicional discurso de Ano Novo, no final do ano passado. Nele, fez o impensável: abriu mão da coroa e anunciou que o príncipe herdeiro assumiria seu nobre papel. Ela citou questões de saúde, comentando que a idade chega e, com ela, os problemas.
A verdade, dizem os tabloides, é muito diferente do dito pela bem-humorada monarca, e seria uma tentativa de gerir os riscos provocados por uma suposta traição de Frederik. O príncipe conheceu a australiana Mary, então publicitária, nas Olimpíadas de Sydney, logo caindo de cabeça na paixão – quatro anos depois, o casal trocou alianças. Do casamento, saíram quatro filhos: príncipe Christian, 18, novo herdeiro; princesa Isabel, 16; e os gêmeos de 13 anos, príncipe Vincent e princesa Josephine.
Mas, como diz o ditado, “nem tudo que é reluz é ouro”. No ano passado, Frederik foi visto com a mexicana Genoveva Casablanca em Madri, onde foi clicado em passeios e restaurantes com a suposta affair – os dois hospedados no mesmo hotel. Na ocasião, Mary participava de um encontro das Nações Unidas, em Genebra. Para evitar retaliações da nora, que estaria indignada com a pulada de cerca, Margrethe teria optado por abandonar o cargo, sendo a primeira rainha em mais de 900 anos a tomar tão drástica atitude, para conceder o poderoso título de rainha-consorte a Mary.
Diferente, mas popular
Apesar da mancha na imagem, Frederik não deixou de ser popular no país nórdico. Com estilo diferente da matriarca, ele tem fama de informal e prático. A casualidade é tanta que alguns dinamarqueses se sentem confortáveis em cumprimentá-lo sem usar o nobre título.
Fã de adrenalina, o herdeiro do trono participou de seis maratonas, um triatlo Ironman e uma expedição de trenó puxado por cães no norte da Groenlândia. Por anos, foi membro da Dinamarca no Comité Olímpico Internacional.
O príncipe é visto, então, como um royal acessível e mais passível de identificação. Entre a sagacidade nas conversas com cidadãos e os tropeços nos discursos formais, área em que se mostra menos astuto que sua mãe, Frederik parece ter caído nas boas graças do povo.
“As pessoas esperam que os monarcas sejam mais informais, que sejam mais parecidos com eles. Eles não querem esta distância muito grande das pessoas reais, como vimos antes”, explicou Lars Hovbakke Sørensen, historiador e especialista na casa real dinamarquesa, à agência de notícias AFP.
Fonte: VEJA