Novos ataques e retórica agressiva elevaram a tensão entre o grupo libanês Hezbollah e Israel na fronteira nos últimos dias. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou, nesta sexta-feira (21), que o mundo não suportaria que o Líbano se tornasse outra Faixa de Gaza.
Tel Aviv e o Hezbollah, um dos principais aliados do Irã no Oriente Médio e apoiador do Hamas, têm trocado ameaças e lançado foguetes em suas respectivas áreas de fronteira desde o início do conflito de Israel contra o grupo terrorista palestino, no dia 7 de outubro.
“Um movimento precipitado, um erro de cálculo, poderia desencadear uma catástrofe que vai muito além da fronteira e, francamente, além da imaginação. Sejamos claros: as pessoas da região e as pessoas do mundo não podem suportar que o Líbano se torne outra Gaza”, disse Guterres.
O Exército de Israel afirma ter realizado uma série de ataques, nesta sexta, contra posições do grupo xiita no sul do Líbano. Foram alvo edifícios usados pelo Hezbollah postos militares e outras infraestruturas em localidades próximas da fronteira.
Na semana passada o Hezbollah havia feito seu maior ataque contra Israel desde o 7 de outubro. Foram identificados pelas forças israelenses mais de 200 projéteis, e o grupo prometeu intensificar a ofensiva.
A ação foi uma resposta pela morte de um comandante sênior da facção que foi morto por ataque aéreo de Tel Aviv um dia antes. No começo de junho, em outro ataque, uma brasileira ficou gravemente feriada em ataque no sul do Líbano.
A situação é tensa na fronteira, onde a ONU mantém uma força de paz há anos em razão de disputas territoriais entre os dois países. Há também observadores desarmados da organização internacional que monitoram a linha de demarcação entre os países.
“As forças de paz da ONU estão em campo trabalhando para reduzir as tensões e ajudar a prevenir erros de cálculo”, disse Guterres. “O mundo deve dizer em voz alta e clara: a desescalada imediata não é apenas possível, é essencial. Não há solução militar”.
Dezenas de milhares de libaneses e de israelenses deixaram suas casas nas áreas próximas de fronteira em meio à troca de ataques, que segue cresce paulatinamente em meio a ameaças de lado a lado.
A missão do Irã na ONU disse, nesta sexta, que o Hezbollah tem capacidade de se defender e defender o Líbano contra Israel. “Qualquer decisão imprudente do regime israelense ocupante para se salvar poderia mergulhar a região em uma nova guerra”, publicou a representação no X.
O Hezbollah é um grupo xiita financiado por Teerã que é um partido relevante no cenário político libanês, com forte atuação social no país, além de possuir notória ala paramilitar que se confunde com sua participação política e é mais poderosa do que o Exército libanês.
O grupo também tem mais poderio bélico que o Hamas, tem experiência em conflitos após auxiliar as forças do ditador sírio Bashar al-Assad na guerra civil do vizinho, e, diferentemente do grupo palestino, não vive sob o cerco israelense de Gaza.
Há portanto o receio com outra frente aberta de guerra no Oriente Médio, dessa vez com implicações ainda mais diretas para o Irã e com potencial destrutivo mais amplo.
Autoridades dos Estados Unidos se preocupam com a possibilidade de um conflito. Isso inclui, de acordo com a rede CNN, inquietação quanto à capacidade do Domo de Ferro, o sistema de defesa aérea israelense, de lidar com um ataque em larga escala vindo do Líbano.
No início deste mês, o Hezbollah divulgou um vídeo que documentava o que seria o primeiro ataque com sucesso a instrumentos do Domo de Ferro. Não houve, no entanto, confirmação oficial disso.
Ainda de acordo com a CNN, citando funcionários americanos anônimos, autoridades israelenses manifestaram preocupação com vulnerabilidades do sistema aéreo, principalmente no norte do país, e surpresa com a sofisticação do poder de fogo do Hezbollah.
Fonte: Folha de S.Paulo