ARACAJU/SE, 29 de dezembro de 2025 , 18:49:03

Trump descartou Bolsonaro porque não suporta perdedores, declara ex-embaixador dos EUA

 

O recuo dos Estados Unidos nas ações tomadas contra o Brasil e autoridades do Judiciário brasileiro está mais relacionado ao comportamento errático de Donald Trump e a uma mudança na sua percepção sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro do que a qualquer conquista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante as negociações com Washington.

Essa é visão de John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá que já foi considerado um dos maiores especialistas em América Latina do Departamento de Estado americano.

O diplomata deixou o governo em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, por discordar das decisões do republicano. Desde então atua como diretor executivo do Centro para a Integridade da Mídia das Américas (CMIA, na sigla em inglês).

Em entrevista à BBC News Brasil, Feeley afirma que, após a prisão de Jair Bolsonaro, o presidente americano passou a ver o aliado político como “perdedor” e o descartou.

“Assim que Bolsonaro perdeu, ou seja, assim que foi condenado e preso, Donald Trump o viu como um perdedor, e se há algo que Donald Trump não tolera são perdedores”, diz.

“Não acho que Donald Trump saiba muito sobre Bolsonaro. Posso quase garantir que ele não acorda todos os dias pensando no Brasil. E assim que Bolsonaro deixou de ser uma referência na política brasileira e o Estado de Direito e a justiça democrática prevaleceram no Brasil, Donald Trump simplesmente o descartou”.

Também segundo Feeley, Trump é extremamente imprevisível e “narcisista”, o que torna quase impossível negociar com ele. Por isso, diz o diplomata, o resultado das tratativas entre o Brasil e os EUA nos últimos meses pode ser considerado sorte.

“Acho que Lula, francamente, teve sorte”, afirma. “E eu encorajaria tanto Lula quanto praticamente qualquer líder a se manterem fora da órbita de Trump, na medida do possível”.

Os Estados Unidos impuseram, em julho, tarifas de 40% sobre diversos produtos agrícolas importados do Brasil. Posteriormente, incluíram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, da lista de sancionados pela Lei Magnitsky.

Tudo aconteceu em meio a pressões do governo de Donald Trump para tentar influenciar o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Mas em 20 de novembro, o presidente americano assinou um decreto suspendendo as tarifas e, há cerca de duas semanas, retirou Moraes e a esposa da lista usada para punir estrangeiros autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

“Acho que a reação inicial dos Estados Unidos, ou da administração Trump, ao julgamento de Bolsonaro foi resultado direto do lobby de Eduardo Bolsonaro, seu filho, em Washington”, avalia John Feeley sobre a imposição das tarifas e sanções.

Em sua entrevista à BBC News Brasil, o diplomata também comentou os últimos acontecimentos em torno da tensão entre Estados Unidos e Venezuela, com a imposição por Washington de um “bloqueio total” a navios-petroleiros sancionados que entrem ou saiam do país sul-americano.

Para Feeley, o bloqueio é muito mais eficaz em ferir o governo de Nicolás Maduro do que as operações realizadas anteriormente pelo governo Trump contra embarcações acusadas de envolvimento com o narcotráfico.

O ex-embaixador dos EUA no Panamá afirma ainda que a execução das sanções por meio do cumprimento dos mandados de apreensão deve causar efeitos secundários na população, mas não deve ser apontada como a causa principal do sofrimento dos venezuelanos.

“É sempre um erro criticar qualquer embargo ou bloqueio a um país que tem sido sistematicamente abusado pelos seus próprios líderes nas últimas duas décadas, atribuindo-o como a principal causa da miséria da população”, diz.

“Não podemos nos enganar: a razão pela qual os venezuelanos estão vivendo na miséria, a razão pela qual existem 7 a 8 milhões de caminantes, venezuelanos que literalmente abandonaram o seu próprio país, é o desastroso modelo econômico de Nicolás Maduro”.

Fonte: BBC News Brasil

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