ARACAJU/SE, 3 de setembro de 2025 , 18:21:28

Durante audiência em comissão do Senado, ex-assessor de Moraes acusa ministro e Gonet de combinar alvos de investigações

 

Durante audiência pública na Comissão de Segurança do Senado, nessa terça-feira (2), Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou ter trocado mensagens diretas com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e seu assessor Lucas, a mando do ministro.

Segundo Tagliaferro, Moraes combinava com o PGR pedidos de relatórios e listas de investigados. Cabia ao assessor organizar os chamados “pacotinhos” de 100 ou 200 nomes que, posteriormente, seriam encaminhados para denúncia nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).

“O processo foi ao contrário. Em vez de começar com uma investigação e denúncia, Moraes e Gonet decidiam previamente quem seriam os alvos e, depois, fabricavam o caminho processual”, afirmou.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a PGR para saber o posicionamento do procurador-geral diante das acusações, mas não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto para manifestações.

O presidente do colegiado, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), destacou que os pedidos não passavam pelo Ministério Público nem pela Polícia Federal, mas eram controlados diretamente por Moraes. Ele questionou Tagliaferro sobre as conversas mantidas via WhatsApp com Gonet e seu assessor.

Em resposta ao senador, Tagliaferro mostrou no celular conversas que teria mantido diretamente com Gonet, atendendo a solicitações do ministro. Também revelou que Moraes teria ordenado a criação de documentos com data retroativa para justificar operações baseadas em reportagens jornalísticas.

“O que Tagliaferro trouxe à luz é gravíssimo e mostra que ainda há muito a ser explicado”, disse a líder da Minoria, Caroline de Toni (PL-SC).

Oposição critica “gabinete paralelo” de Moraes

As declarações provocaram forte reação entre parlamentares. O senador Marcos Rogério (PL-RO) afirmou que as denúncias “escancaram de vez o esquema comandado por Alexandre de Moraes” e apontam para “um Judiciário que perdeu o limite e age como dono do Brasil”.

Marcel van Hattem (NOVO-RS) disse que Tagliaferro confessou forjar provas e relatórios retroativos “para perseguir empresários vítimas de reportagens”.

Após a apresentação de documentos pelo ex-assessor, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) pediu a suspensão imediata do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, em andamento no STF.

“O que estamos vendo aqui é uma grande violação de direitos humanos. Pessoas foram acusadas e presas, buscas e apreensões foram feitas com provas forjadas por um magistrado. Esse magistrado tinha que ser preso hoje, e o ministro [Luís Roberto] Barroso teria que interromper esse julgamento hoje. O Brasil precisa ver o que nós estamos vendo”.

Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), as revelações precisam ultrapassar as fronteiras nacionais. “Isso aqui tem de ser protocolado em organismos internacionais, porque é algo muito grave. A chamada ‘grande imprensa’ não quer ouvir algo que, de cara, anularia todo esse julgamento, toda essa fachada. Carla Zambelli, os presos políticos, [Jair] Bolsonaro estão sendo injustamente perseguidos, caçados”.

Já o ex-deputado Deltan Dallagnol classificou o caso como “fraude processual gravíssima” e questionou as condições morais e legais de Moraes permanecer no cargo.

Flávio Bolsonaro promete providências contra denúncias

Ao final da sessão, o senador Flávio Bolsonaro informou que a comissão vai produzir um relatório com as denúncias apresentadas pelo Tagliaferro para encaminhar ao presidente do Supremo, do TSE e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Também serão enviadas cópias das denúncias às defesas de presos envolvidos nesses processos, além da apresentação de um pedido de proteção a Tagliaferro ao governo italiano.

Por fim, Flávio Bolsonaro ressaltou que as denúncias serão encaminhadas ao governo americano sobre supostas violações de direitos humanos praticadas por Moraes e Gonet.

Gabinete de Moraes afirma que tudo ocorreu com transparência

O gabinete do ministro Alexandre de Moraes afirmou, em nota, que todos os procedimentos das investigações sobre milícias digitais e desinformação foram oficiais, regulares e documentados. A nota responde a denúncias do ex-assessor Eduardo Tagliaferro, alvo de extradição e depoente no Senado.

Segundo o gabinete, requisições ao TSE seguiram normas regimentais, com relatórios enviados à Polícia Federal e à PGR. O mesmo ocorreu na Petição 10.543, sobre manifestações de 7 de setembro, com, segundo o gabinete “transparência e ciência das partes envolvidas”.

Fonte: Gazeta do Povo

 

 

 

 

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