ARACAJU/SE, 12 de junho de 2025 , 18:25:55

General Braga Netto nega repasse de dinheiro a Cid e afirma desconhecer plano para assassinar autoridades

 

O general Walter Braga Netto negou nessa terça-feira (10), no Supremo Tribunal Federal (STF), que tenha entregado dinheiro ao tenente-coronel Mauro Cid em uma caixa de vinho para financiar uma articulação para matar autoridades. Ele afirmou só ter tomado conhecimento por meio da imprensa dos planos Punhal Verde e Amarelo e “Copa 2022”.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), “Copa 2022” era o plano para assassinar o ministro do STF Alexandre de Moraes, e seria a execução do “Punhal Verde Amarelo”, que previa com detalhes o assassinato de Lula (PT) e de Geraldo Alckmin (PSB).

Cid afirmou, em depoimento, que Braga Netto entregou dinheiro em espécie, guardado em uma caixa de vinho, para o tenente-coronel Rafael de Oliveira — indiciado por ser um dos executores do plano ‘Punhal Verde e Amarelo’, do general Mario Fernandes, que foi colocado em ação em 15 de dezembro de 2022 para matar ou prender Alexandre de Moraes.

Em seu depoimento nessa terça-feira (10), prestado por videoconferência por estar preso no Rio de Janeiro, Braga Netto afirmou que era comum que políticos, por meio do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, ou do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, pedissem para pagar contas de campanha atrasadas. Assim, quando Cid perguntou se poderia conseguir algum recurso, o general diz ter pensado que seria o mesmo caso.

“Há um equívoco nesse ponto, porque o Cid mesmo conta que ele veio atrás de mim e perguntou se o PL podia arrumar algum dinheiro”, disse.

“Eu digo para ele, procura o coronel Azevedo [tesoureiro do partido]. Ele procurou o Azevedo. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia o que era. O Azevedo veio mais tarde para mim e falou assim: ‘general, o dinheiro que o Cid quer, está precisando, nós não temos amparo para dar’. Então eu falei: ‘então morre o assunto’. E morreu o assunto. Eu não tinha, como eu disse, contato com empresários, então eu não pedi dinheiro para ninguém e não entreguei dinheiro nenhum para o Cid”, afirmou.

As perguntas de seu advogado, José Luis Oliveira Lima, focaram em apontar contradições de Cid.

A Polícia Federal (PF) afirma que, em 12 de novembro de 2022, a casa do general da reserva sediou uma reunião para discutir a “estratégia golpista”. Estavam presentes na reunião Cid, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima. Segundo a PF, foi após esse encontro que teve início o monitoramento dos passos de Moraes, com o objetivo de prendê-lo ou matá-lo.

Braga Netto afirmou ter recebido os militares como uma visita de cortesia e negou qualquer conversa sobre o tema. “Como é que eu vou discutir um assunto desse com duas pessoas que eu não conheço? Eu só os recebi porque o Cid disse que as pessoas queriam me cumprimentar”, disse.

A Moraes ele respondeu em vários momentos que não se lembrava de mensagens lidas pelo ministro e disse que elas tinham sido tiradas de contexto e que não havia a sequência completa para análise.

A defesa do general tem afirmado que a velocidade do processo, o volume do material completo das provas, a desorganização dos arquivos e outros problemas tecnológicos têm dificultado a análise das evidências.

Braga Netto foi preso em 14 de dezembro de 2024, sob a justificativa de que tentou acessar a delação do tenente-coronel Mauro Cid com o objetivo de interferir nas investigações.

A defesa do general pediu a soltura do militar em 28 de maio e, antes do início dos interrogatórios, também pediu para que os interrogatórios não fossem transmitidos ao vivo. Os dois pedidos foram negados.

Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, o general foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.

As suspeitas relacionadas à tentativa de interferir nas investigações vêm sendo acumuladas desde setembro de 2023, quando o tenente-coronel Mauro Cid teve homologado seu acordo de colaboração premiada no STF.

O próprio Cid relatou, em depoimento, que Braga Netto procurou diretamente seu pai, o general Mauro Lourena Cid, para pedir detalhes do que ele havia falado na colaboração premiada. No depoimento, Braga Netto disse que foi o pai do ex-ajudante de ordens quem o procurou, para pedir apoio ao filho.

Uma das estratégias da defesa do general é questionar a delação de Cid, apontando para contradições, diferentes versões e lapsos temporais.

Em um dos trechos da defesa prévia, os advogados dizem que a denúncia da PGR não apresenta provas que corroborem a declaração sobre o suposto repasse de dinheiro do general em uma caixa de vinho.

Fonte: Folha de S.Paulo

 

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