ARACAJU/SE, 1 de outubro de 2025 , 16:29:33

Metanol: PF vai investigar se há distribuição de bebidas contaminadas em outros estados além de SP

 

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou, nesta terça-feira (30), que a Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar a origem do metanol usado para batizar bebidas alcoólicas no Estado de São Paulo. Segundo ele, é possível que essa rede de distribuição da substância atue também em outros estados.

Em São Paulo, já são pelo menos 22 casos entre suspeitos e confirmados. O governador Tarcísio de Freitas anunciou cinco mortes relacionadas ao consumo de metanol: uma já comprovada por bebida adulterada e outras quatro em apuração.

O Ministério da Saúde afirmou que, até o momento, não há sinais de novos casos. A PF acrescentou que não foi identificada nenhuma marca ou importação específica ligada às ocorrências.

“Na segunda-feira, determinamos ao Dr. Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição que, ao tudo que indica, transcende o limite de um único estado. Tudo indica que há distribuição para além do Estado de São Paulo”, disse Lewandowski.

Segundo o ministro, o “número elevado e inusitado” de intoxicações por metanol em São Paulo chamou a atenção porque foge do padrão, pois normalmente a ingestão da substância ocorre por pessoas em situações de vulnerabilidade.

Diante desse cenário, um sistema do governo federal que recebe informações de todo o país quando há intoxicação por causas desconhecidas emitiu um alerta nacional.

No sábado (27), a Secretaria de Defesa do Consumidor divulgou uma nota técnica para todos os estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas para tomarem cuidado com bebidas que pudessem estar contaminadas – atentando, por exemplo, para rótulo ou embalagem com aspecto diferente.

A fiscalização já começou: os estabelecimentos onde se identificou que havia bebida contaminada vão receber notificação do Ministério da Justiça para descobrir os fornecedores, quem manipulou as bebidas e que tipo de bebida as vítimas consumiram.

PCC investigado

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, não descartou a possibilidade de ligação do crime organizado com a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol, indo na contramão do secretário da Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL).

Rodrigues explicou que investigações recentes sobre a cadeia de combustível mostraram que há um esquema que passa pela importação de metanol pelo Paranaguá e que, por isso, há a necessidade de entrar nesse caso. “A investigação dirá se há conexão com o crime organizado”, disse o diretor da PF.

O que é metanol?

O metanol (CH₃OH) é uma substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação. O produto é um tipo de álcool simples, incolor e inflamável, com cheiro semelhante ao da bebida alcoólica comum.

A substância tem diversas aplicações legítimas na indústria. Ele é usado na fabricação de formaldeído (o famoso formol), ácido acético, tintas, solventes e plásticos, e está presente em produtos como anticongelantes, limpa-vidros e removedores de tinta.

Também já foi utilizado como combustível em carros de corrida e pequenos motores, mas em condições seguras e controladas.

No Brasil, uma das principais funções do metanol é servir de matéria-prima para a produção de biodiesel, em um processo químico chamado de transesterificação.

Fora disso, ele não deve ser comercializado diretamente para consumo humano nem adicionado em grande escala a combustíveis comuns.

Quais são os riscos à saúde?

A ingestão, inalação ou até mesmo o contato prolongado com metanol pode causar náusea, tontura, convulsões, cegueira e até a morte. Pequenas quantidades já são suficientes para provocar intoxicação grave.

Em caso de suspeita, a Secretaria da Saúde orienta a buscar imediata de atendimento médico de emergência. A população pode localizar o serviço mais próximo pela plataforma: https://buscasaude.prefeitura.sp.gov.br/.

O Centro de Controle de Intoxicações (CCI-SP) também oferece apoio para diagnóstico e orientação pelos telefones (11) 5012-5311 e 0800 771 3733.

Qual é a origem do metanol usado nas adulterações?

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) suspeita que o metanol usado para adulterar bebidas seja o mesmo que vinha sendo importado ilegalmente pelo PCC para adulterar combustíveis.

Há um mês, uma megaoperação revelou que combustíveis utilizados por alguns postos alvos da polícia tinham até 90% de metanol, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) só permite até 0,5% dessa substância na gasolina e etanol.

Para a ABCF, “o fechamento nas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível diretamente ligadas ao crime organizado, que importam metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis, conforme já comprovado por investigações do GAECO e do MP de SP, podem ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores que ao tomar bebidas destiladas em bares e casas noturnas, apresentaram intoxicação por metanol”.

“Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido tal metanol a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”, completa.

Fonte: G1

 

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