ARACAJU/SE, 4 de julho de 2025 , 17:36:14

Considerada a nova ‘queridinha’ do Nordeste, João Pessoa atrai onda migratória

 

Impulsionada pela recuperação do turismo doméstico após a pandemia, a economia de João Pessoa vive em céu de brigadeiro. O aquecimento dos serviços é acompanhado por um boom no setor imobiliário, que se movimenta para absorver uma onda de migração populacional da última década.

Considerada uma cidade tranquila e com baixo custo de vida no Nordeste, João Pessoa – que já foi pejorativamente conhecida como “quintal do Recife” – foi a capital da região que mais ampliou a sua população entre 2010 e 2024. Na média, o número de habitantes das capitais cresceu 8% no período, enquanto em João Pessoa o avanço foi de 22,8%. Salvador, Fortaleza e Recife, maiores cidades da região, tiveram crescimento abaixo da média nacional. No caso da capital baiana, houve um recuo de 4%, de acordo com as estatísticas do IBGE.

João Pessoa sintetiza o bom momento econômico da Paraíba. Relatório regional do Banco do Brasil estimou que o PIB do Estado avançou de 6,6% em 2024 e projeta aumento de 3,4% este ano. O banco estima que o PIB do Nordeste subiu 3,7% no ano passado e prevê 2,6% para 2025.

O setor de serviços representa mais de 81% do PIB paraibano. Para impulsionar ainda mais o turismo, o governo do estado destinou uma área de 654 hectares para construção de um complexo turístico planejado na praia de Cabo Branco, em João Pessoa. O local deve abrigar investimentos de mais de R$ 3 bilhões da iniciativa privada em resorts, spas, parques aquáticos e temáticos, dobrando a capacidade de hospedagem da cidade, quando finalizado.

Outros investimentos em andamento na cidade são R$ 250 milhões na expansão do data center da HostDime e mais de R$ 200 milhões no ramo de call center, com geração de mais de 100 mil empregos. Há ainda um investimento da Rio Alto Renováveis, de R$ 1,4 bilhão, em um complexo fotovoltaico.

Natural de Goiânia, a jornalista Flávia Soares, 38 anos, mudou-se para João Pessoa em fevereiro deste ano, juntamente com o marido, nascido em Santa Catarina. O casal estava morando em São Paulo havia cinco anos, mas buscava melhor qualidade de vida para formar uma família com filhos. “A gente vivia dentro de um apartamento. Terminávamos nosso trabalho, ficávamos em casa assistindo série”, conta Flávia. “Em João Pessoa, a gente vive mais a cidade”, diz.

Durante a semana, Flávia anda com o marido pela Orla. Acorda às 6h para malhar e fazer yoga na praia. A água de coco custa entre R$ 3 e R$ 5 – em São Paulo, conta, chegava a pagar R$ 15 pelo produto.

Histórias como a do casal – que decidiu comprar um apartamento de três quartos a cinco minutos da praia – são comuns em João Pessoa. O mercado imobiliário vive um momento singular. Segundo levantamento da Brain Inteligência Estratégica, no ano passado houve um aumento de 41% no volume de unidades lançadas em relação em 2023 na capital paraibana.

O valor geral de vendas (VGV) lançado no ano passado aumentou 108%, de R$ 2,3 bilhões para R$ 4,9 bilhões. “O que vende mais rápido são os apartamentos de R$ 4 milhões e de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões. Isso é algo único no Brasil, os segmentos mais caros da cidade serem os mais procurados”, diz o consultor Fábio Tadeu Araújo, CEO da Brain.

Segundo Araújo, apesar do alto volume de lançamentos “o mercado ainda está saudável”, considerando o indicador de estoque sobre a oferta – ou seja, quanto falta vender em relação a tudo que foi lançado. “Qualquer valor abaixo de 25% é bom, acima de 30% é preocupante. Abaixo de 20%, o mercado está implorando por lançamentos. Atualmente é 18,6% em João Pessoa”, afirma.

No ramo residencial, o mercado na cidade é ainda dominado por incorporadoras locais, como o grupo Setai, tradicional na construção civil há 60 anos. Cerca de 3% da população da região metropolitana de João Pessoa mora em um imóvel construído pela incorporadora, que fechou o ano passado com um VGV de R$ 2,8 bilhões.

A partir de 2022, as incorporadoras locais passaram a competir também com a Moura Dubeux, do Recife, listada em bolsa e com perfil regional. O primeiro empreendimento da Moura Dubeux em João Pessoa foi um projeto de alto padrão em uma das principais avenidas da cidade.

Neste ano, a Moura Dubeux estreou em João Pessoa a marca Mood, seu braço imobiliário com foco no médio padrão. Juntamente à faixa premium, o setor movimenta R$ 900 milhões, com uma cobertura de cerca de 10 meses, de acordo com a Moura Dubeux. Nos últimos três anos, a companhia lançou R$ 330 milhões na cidade. Segundo a empresa, o mercado de João Pessoa é caracterizado pelo arrojo arquitetônico dos projetos, que possuem arquitetura vanguardista, pouco comum nas demais praças no Nordeste.

Fonte: Valor Econômico

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