Pesquisa feita pela Ipsos e o Google com 21 mil pessoas em 21 países mostrou que em 2024 o Brasil ficou acima da média global no uso de inteligência artificial (IA), com 54% dos brasileiros relatando que utilizaram IA generativa enquanto a média global ficou em 48%. A IA generativa é a que cria conteúdos como imagens, músicas e textos.
A pesquisadora em IA, Jullena Normando alerta sobre o uso excessivo de IA para realizar tarefas. “As pessoas relatam menos esforço, e aí esse esforço menor parece ser um ganho de produtividade a ser comemorado. Só que por trás disso tem o fato de que as pessoas se engajam menos no que estão fazendo, começam a aceitar mais e a checar menos as informações. O resultado é a perda da autonomia de decisão e do senso crítico.”
Um estudo recente da Microsoft afirma que a IA “atrofia” o pensamento crítico daqueles que são excessivamente dependentes de suas respostas. Essa constatação sugere que, ao confiar em ferramentas tecnológicas para tarefas rotineiras, os indivíduos podem estar perdendo oportunidades de exercitar seu julgamento e fortalecer suas habilidades cognitivas.
“Esse estudo da Microsoft mostra que quanto maior a confiança na IA para a tarefa, menor o envolvimento, o pensamento crítico, e o esforço. Porque é mais fácil colocar a ferramenta em quem eu confio, para fazer o trabalho.” Jullena Normando
Um fator decisivo nesse processo é a confiança que as pessoas atribuem as IA’s. Isso pode ser explicado pelo fenômeno “Efeito Eliza”, que descreve a tendência humana a tratar sistemas inteligentes como pessoas, ao acreditar que eles possuem capacidades e sentimentos humanos. Fenômeno que acontece em especial diante da interação com chatbots, como o ChatGPT.
O efeito Eliza é projetar empatia e intenção onde só tem um padrão estatístico, explica Jullena. “Essa ilusão de reciprocidade pode gerar dependência. O fato é, quando a interface parece humana e a conversa flui naturalmente como se fosse com um amigo, as pessoas acreditam que a máquina se importa com elas, e isso gera uma confiança cega.”
Jullena Normando é publicitária, doutoranda sanduíche em Comunicação pela UFG e Universidade da Califórnia, em San Diego. Pesquisadora em Comunicação e Inteligência Artificial.